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Mossoró não é fácil nem para os mossoroenses, os melhores especialistas em Mossoró, e que se têm em alta conta nos quesitos ‘independência’ e ‘originalidade’. É como se a tribo dos Monxorós fosse uma nação à parte, que os níveis teratológicos de autoestima situam em círculos astrais acima dos reles Potiguaras que somos todo o resto.
Por essa mística de diferenciação absoluta, há coisas que só aconteceriam mesmo no (e ao) “País de Mossoró” — ou “País dos Rosado”, como ensinou o professor José Lacerda Alves Felipe na dissertação acadêmica que disseca as estratégias de dominação perpetuadas pelo clã.
Na semana passada, a prefeita Rosalba Ciarlini acrescentou uma nota à pauta de mossoroísmos que ressaltam na iconografia política do estado. A fotografia da alcaidina (como diria o vernacular Dix-Huit Rosado) cavalgando um jeep militar na parada de 7 de setembro é um pitoresco anacronismo na enfadonha sucessão de selfies replicadas à náusea por blogs e sites que transformaram o jornalismo em sub-ramo do entretenimento.
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Rosalba Ciarlini desfila em um jipe militar nas comemorações do 07 de setembro, em Mossoró (Imagem reproduzida do Blog de Heitor Gregório)[/caption]
A imagem diz muito sobre Mossoró e também sobre a pobreza da paisagem em geral, o nível das nossas lideranças e o que podemos esperar delas. É como se vivêssemos num passado permanente, repetindo personagens e enredos, sem alento para imaginar a história como futuro.
O açodamento da imagem, que tanto é bizarra no tempo regido pela vertigem da atualização quanto parece natural no espaço em que foi produzida, autoriza especulações sobre sua motivação. Talvez o objetivo imediato da coreografia marcial e olímpica, que remete ao civismo de índole fascista, fosse apenas exibir Rosalba como uma exceção em quadra de políticos acuados pela polícia de costumes e a da impopularidade.
Uma forma particular de revanche contra ex-aliados responsabilizados pela quebra da trajetória que parecia ascendente e irresistível nas eleições ao Senado e ao Governo do Estado. Gente como os senadores José Agripino e Garibaldi Filho, que ou se recolhem aos gabinetes e eventos restritos às claques partidárias ou colhem nas aparições públicas os cardos da rejeição popular a mazelas às quais foram associados.
Outra hipótese é que a imagem seja um ardil para libertar Rosalba do confinamento municipal, projetando-a como figura relevante nas tratativas eleitorais de 2018. Num e noutro caso, a lógica é a mesma: lembrar aos interessados que Mossoró tem grandeza própria, acima de todos — e que Rosalba tem a chave dos corações da tribo. A tarefa é facilitada pela indigência política do “país”, incapaz de gerar novas lideranças duradouras. Quem, em algum momento, pareceu cheirar como rosa, tinha duas características: brotou d’algum galho do rosadismo e murchou logo após o mandato na prefeitura.
Além do efeito cômico inerente à bizarria, a rosa de milico cumpriu por contraste o papel extra de reafirmar as dificuldades políticas do governador Robinson Faria (outro desafeto do jardim de Mossoró). Com a imagem desidratada pela gestão pífia e por citações em escândalos, Robinson evita sistematicamente a luz do sol. Não foi ao desfile da Independência em Natal, quebrando a tradição institucional de presidí-lo como governador, e restringe até mesmo as chamadas agendas positivas a ambientes controlados, sem nenhum perfume de povo.
