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brasil, setembro de 2017.
caro van gogh,
1890, como está a vida por aí? nada fácil, eu sei. lembrei que nunca tinha te enviado uma carta antes. que coisa fazer isso agora. bem, vou direto ao ponto. você virou nome de conta especial de banco. calma, deixa eu te explicar. as coisas vão piorar. por aqui, 2017 – nada fácil, te direi. – o pessoal adora usar artistas pra nomear seus luxos. vocês viraram nomes de prédios. de pratos. porcelana. carros. de salada. hambúrguer. crepe. avenida. de shopping – depois te explico - olha, é cada coisa. o pessoal acha bem glamour. mas como eu disse que ia piorar, vou cumprir a profecia. os séculos do passado não ficaram para trás, precisamos voltar sempre com antigas lutas e discussões, o que além de cansativo, é muito grave. esse banco que usa seu nome pra conta de clientes especiais, organizou uma exposição com a temática queer – depois também te explico – e aí, o de sempre, uma tsunami – depois te explico também - de moralismo caiu em cima. um pessoal desses que você já deve ter conhecido muito por aí caiu em cima. mas o que quero dizer mesmo, é que esse caríssimo banco que usa seu nome em conta especial, arregou – também depois te explico – cedeu, assinou embaixo desse moralismo todo e fechou a exposição. uma covardia. ainda segue a ignorância sendo um instrumento para fincar bandeiras inacreditáveis. segue o esforço batido em silenciar a arte. em silenciar mentes. mas o que esperar de um banco? de um caríssimo banco, meu caro? o que esperar quando quase todas as grandes exposições hoje, aqui, passam por bancos? estou sem respostas. tenho poemas. esse é seu. desses tempos.
meus seios nus
em tua cara
carregados de frutos
falam a língua
do teu ouvido
único
o vermelho que brilha
na linha reta
dos teus pelos
e na curva
do teu olho mágico
sai do meio
de minhas pernas
ensolaradas
vivas em cores
qualquer dia te mando uma lista das coisas que encontrei seu nome, espero te fazer sorrir. e te conto o que andam fazendo com a frida. ah, depois te conto quem é a frida, e aí sim, o que andam fazendo com ela.
um beijo, com amor – depois te explico.
eveline sin