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30 de outubro de 2017
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O Novo não existe mais no papel. O jornal conformou-se à ordem das novas mídias, e é agora uma rua que faz esquina com as ruas Jornal de Hoje e Diário de Natal, na capital do já-teve, na cidade do já-foi. Especula-se para breve a inauguração da avenida Tribuna do Norte.

Fui 'sócio afetivo' do Novo, tendo por capital o trabalho e o desejo. Participei da concepção, do planejamento operacional e da implantação do jornal, com Cassiano Arruda Câmara, Luiz Caldeira e, na etapa final, Carlos Magno Araújo, que seria o diretor de redação. Contribuí depois como articulista regular em dois períodos diferentes.

O barquinho de papel que foi a pique na torrente digital era diferente do lançado em 2009, num setor já em declínio de tiragem e receita publicitária e vassalo do governismo incondicional. O plano original estabelecia a reportagem e a opinião como fundações, com ênfase no texto e na foto diferenciados, títulos e diagramação abusados. A versão digital cuidaria de hard news, deixando o Novo livre para ousar nos temas e nas abordagens.

Era a busca por preservar um nicho para o impresso. Mas a perna digital não andou o quanto deveria, e o projeto desperdiçou o impulso inicial gerado pela boa aceitação do Novo. Dificuldades financeiras e guinadas editoriais trariam rugas precoces. A mudança de controle acelerou a desfiguração, tornando irreversível o trânsito definitivo para o digital.

Como leitor e jornalista, lamento o fim do Novo, anunciado lá atrás. Mantenho o hábito de ler jornais de papel, mesmo os precários que restaram, assim como mantenho o de ler livros. E não enxergo no digital o coveiro do jornal impresso. Convivo com os dois, por necessidade profissional e por prazer, e desconfio da polarização fácil entre eles.

Acredito que podem ter uma relação complementar, porque há um tipo de leitor (o que lê livros com frequência) que carrega em seu dna cultural a obsessão tátil por ler no papel, e ele ainda adiará por algum tempo a extinção dos dinos. A tese soará mais como pensamento desejante do que como argumento demonstrável, diante da velocidade com que a mídia de papel dissolve-se no ar. E do fato de que novas gerações de leitores já crescem sem a cultura da informação em papel.

Que seja. Mas, até que elas completem o trabalho, eu ainda posso, concluído o texto, desligar o computador e deitar na rede com o jornal do dia farfalhando ao vento praiano.

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