Pra fazer, brilhar nossa estrela
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Pra fazer, brilhar nossa estrela

25 de janeiro de 2018
Pra fazer, brilhar nossa estrela

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Dentro da análise antecipada por mim aqui nessa coluna duas semanas atrás (e claro, prenunciada por muita gente inteligente e interessante) cumpriu-se o roteiro do golpe. Com direito a escárnio da opinião pública qualificada, que continua a questionar mais até que a parcialidade, a própria partidarização de amplos setores do judiciário brasileiro, chegando mesmo a se aumentar a pena de Lula, longe de se revê-la.

O judiciário deveria ter vergonha da encenação que realizou diante do país nessa quarta –feira,  24/01/18, que entra para a história como o infame dia em que as garantias constitucionais de 1988 que endossam uma tradição de direito a defesa, presunção de inocência e ideal de justiça que remontam a Revolução francesa (1789-1799) foram revogadas em nome do ódio de classe, da perseguição ideológica, da politização da justiça, como se mostrou claramente a todos que acompanham o processo, e assistiram esse festival de retórica pomposa pra “inglês ver” que foi o julgamento do recurso do Lula pelo TRF-4.

A  principal estratégia dos Desembargadores foi a de sustentar sua própria isenção (se assim o fossem sequer sentir-se-iam impelidos a fazê-lo, tal como o mentiroso que ciente da própria mentira, fica tentando reafirmá-la insistentemente, mesmo quando não solicitado a fazê-lo) e tentar impressionar a opinião pública com uma retorica pomposa, cheia de jargões técnicos, ancorada num imenso volume de texto e citações que mais parecem estar ali pelo simples volume, pelo desejo de impressionar pela quantidade, do que propriamente por sua firmeza, contundência e robustez enquanto provas

As tão cobradas provas robustas não foram apresentadas, eles contentaram-se, mais uma vez, com o suposto, inferido contexto geral maior que acreditam justificar o injustificável: como querer que a sociedade aceite passivamente o fato de que grandes e notórios corruptos pegos com malas de dinheiro,  pegos com helicóptero de cocaína, pegos em áudios publicados na imprensa mundial, seja pedindo dinheiro seja assentindo com a corrupção, num país,  onde condenados, ou nunca condenados, em processos que se arrastam desde a década de 90 e quando presos, logo conseguem prisão domiciliar pra usufruir do dinheiro roubado no luxo doméstico, enquanto que se condena Lula por um apartamento que ele nunca sequer recebeu, usufruiu, a simples boataria de bairro de que o apartamento é de Lula foi utilizado como argumento, como prova nessa condenação. (O representante do MPF chegou a utilizar como “prova” matéria do jornal “O Globo”).

Toda pessoa pública está sujeita a boatos de toda espécie, com todo tipo de objetivo, como se sabe Lula está na linha de frente da preferência dos coxinhas (ou seriam troxinhas?) nos processos de difamação e linchamento virtual. Partindo dessa premissa, vamos supor que a boataria sobre a propriedade de Lula desse apartamento tenha sido plantada com interesses políticos e tenha circulado tanto a ponto de se impor como verdade para quem assim desejou, faz, por si só, essa informação verídica e confiável? Pois pasmem meus caros leitores, é basicamente isso que dizem os juízes de Porto Alegre, que um dos indícios mais “robustos” de que a propriedade do apartamento era de Lula, era o fato de que “muita gente na região afirmava isso”. Mas recibo de propriedade, escritura de propriedade ou transferência de tal, áudios onde Leo Pinheiro e Lula são pegos falando da transação, nada disso tem. E além do mais, se ignora a decisão da Justiça Federal de Brasília que reconheceu a propriedade do referido imóvel como sendo da OAS ao penhora-lo e ação judicial contra essa empreiteira. E a pergunta que fica é, se Lula é dono do apartamento como é que a justiça de Brasília pode penhora-lo em nome da OAS?

No dia 23 de janeiro, portanto antes de ontem, a associação de juristas potiguares contra o golpe e pela democracia, simulou um júri popular acerca do  julgamento do ex-presidente Lula ao qual tive alegria de participar como convidada para o júri (obrigada pelo convite minha cara Armele). Foi uma maravilhosa ocasião na qual intelectuais,  juristas, artistas, sindicalistas, populares, educadores e movimentos sociais em geral puderam expressar abertamente seus desejo de apoiar o democrático movimento pela candidatura Lula 2018 demarcando dessa maneira uma posição a favor da constitucionalidade democrática. Como também foi um momento privilegiado para que os expectadores pudessem estudar, aprender mais sobre o conteúdo da decisão de primeira instância do Juiz Moro de Curitiba com todas as suas fraquezas e lacunas a ponto do ícone de direita, Reinaldo Azevedo, questionar eloquentemente o conteúdo da decisão a ponto de ser chamado pelos seus próprios seguidores de “defensor de Lula” ao passo que o colunista reagiu chamando quem assim o qualificou de “idiotas”, pois o que ele defendia de fato era que a condenação só fosse propugnada com amplas e inquestionáveis provas, o que efetivamente não foi o caso. Até porque se houvessem essas amplas e inquestionáveis provas, eu mesma, já teria abandonado o campo do “Lulismo”

Precisamos de mais posições como está no campo da direita. Se existe direita comprometida com a verdade, com a justiça, ela deve ser autocritica e coerente o suficiente pra assumir posições como a de Reinaldo Azevedo. Como ele chamou atenção, quando a justiça deixa de cumprir seus critérios técnicos e passa a condenar por convicções tão ideológicas quanto qualquer outra, pois não existem discursos proferidos por seres humanos que não estejam contaminados desde sempre pelas visões de mundo e valores ideológicos, ( de modo que qualquer argumentação que pressuponha isenção de algo não passa de ficção as vezes bem, mas  geralmente mal intencionadas) voltamos ao reino do arbítrio puro e simples que caracteriza os regimes de exceção, onde se julga e condena ao bel prazer dos interesses dos poderes estabelecidos.

Qual seja os interesses em questão, barrar a possiblidade do maior líder popular da história do Brasil e um dos mais proeminentes  estadistas do século XXI de poder representar nas urnas um projeto democrático, popular, de esquerda. Não duvidaria nada, se em breve, em dez ou mais anos, viesse a público documentos que revelassem os poderosos interesses financeiros internacionais por trás da condenação de Lula. As grandes petroleiras que precisam de governos entreguistas não querem um homem que já afirmou que uma vez de volta ao Planalto vai rever leis que facilitam a liquidação do patrimônio de recursos naturais do nosso país, o mais rico em minérios e recursos naturais em geral do mundo.

Nada de novo sob o sol, nós já sabíamos da condenação,  pois estamos atentos ao roteiro do golpe volto a dizer, mas nos indignamos e nos chocamos mesmo assim. Mas uma coisa é certa, pelo que vimos  até agora: grande parte da sociedade brasileira, que se informa por outros meios que não somente a mídia aberta, está atenta, o mundo também está atento, e não aceitaremos engodos ridículos, não silenciaremos diante de um poder que era pra ser o regulador da República e agora porta-se de modo mais similar as despóticas monarquias do passado. Lula, sua estrela continua a brilhar, talvez ainda mais do que antes, pois agora sob o signo do martírio, da condenação injusta.

A beleza de grandes homens como Lula e sua capacidade não só de superar qualquer adversidade, como acima de tudo levar com ele todos aqueles que acreditam em dias melhores para o Brasil, eu inclusive. Então Lula, quando sua estrela continua a brilhar, tal como está agora, todos nós também nos enchemos de força, convicção que de essa luta não terminou, a luta “continua companheiros” . Sempre na esperança de que vamos conseguir, no fim seja lá quando e como for, fazer, finalmente, novamente, “Brilhar nosso estrela”.

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