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27 de abril de 2018
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Não sei se já é tarde, mas acho que você precisa saber. Não de mim, mas de você. Todas essas linhas são sobre você. Pode parecer um tanto quanto desesperador de minha parte, mas confesso que beiro o destempero quando ouço seus lamúrios. Suas queixas são muitas, seus sorrisos têm sido poucos, e eu nada tenho feito. Nem um café, um sorvete, uma visita que seja. Por isso hoje eu falo de você.

Você devia aprender inglês, ler mais, ir ao cinema, investir uma grana. Também não sei nada disso aí. Você, em contraponto, acha que eu sei tudo, mas nem dirigir eu consigo. Talvez eu nunca consiga. Acredite, minha lista de incapacidades e barbeiragens é imensa. E como sujeito meio bobo que sou, devo dizer: Você também não é nenhuma virtuose da pilotagem. Mas você não desiste. Apesar do preço da gasolina, meu amigo, você persiste.

Sempre soube que o tempo é abstrato, embora preencha tudo o que existe no mundo. Ridiculamente, a gente é feito de tempo. E você, ultimamente, é só isso. Você é o seu momento, o seu tempo. Quatro semanas, seis meses, um ano. Não é fácil fracionar a vida, quantificar o que teima em se espalhar. A gente vai se segurando ao que pode, mas o tempo vem feito enxurrada, levando tudo. Esse mesmo TUDO que você pensa que eu sei.

Talvez você se emocione. Não é minha pretensão. É que você é esse sentimental irrecuperável, amigo. Ainda bem. Você podia frequentar os SENTIMENTAIS ANÔNIMOS. De nada adiantaria, não existe cura para o seu caso. Mesmo esbofeteadas e encardidas, suas emoções teimam em existir, sair às ruas e até atravessam sem olhar o sinal, porque já não têm medo do revés. Imprudentes, tomam o sol do meio-dia sem protetor.

Nunca faça isso. Tome o sol brando da manhã todo para si. Ele é seu. Todas essas linhas também são suas. Tome o amor de sua mãe. Ele te liga ao mundo. Tome um refrigerante quando puder. Até dois, esqueça por um segundo o que dizem os médicos. Aliás, faça o que quiser. Há quanto tempo você não faz isso? Mas volta. É que você faz falta. Por mais que você não acredite. Por mais que a vida siga seu curso.

Perguntam de você por aí. Digo o pouco que sei. Tenho me especializado em contar seus feitos. Perdão se enfeito a história. Mas não se preocupe, não falo sobre seu coração mole. Mesmo que isso não seja motivo de vergonha, respeito seu acanhamento. Mas hoje eu falo de você, lembra? E eu não acredito que neste coração mole não exista uma brecha, ainda que pequenina, pra tudo isso que tá aí. Esse mesmo tudo que nem eu nem você sabemos. Então, sossegue. Você precisa saber que você não precisa saber tudo.

 

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