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Esbarro com o amigo - mais virtual que real, mais de vida cultural que social, mas, enfim, amigo - na escada rolante do piso do Midway, pertinho da saída.
- Boa tarde, Cefas.
- Olá, amigo.
- Como o ilustre está?
- Vou bem, obrigado.
- Não sei se deveria tocar nesse assunto, mas... posso te fazer uma pergunta?
- Sim, claro.
- Você desfez nossa amizade no Facebook?
Engoli a seco. Sabia que esse dia - com ele ou qualquer outra pessoa - chegaria.
- Sim, amigo, desfiz a amizade. Não agora, mas há tempos.
- Eu poderia saber a razão?
Respirei fundo. Também sabia que chegaria a hora dessa resposta.
- Porque você me chamou de ladrão e burro.
- Eu? Jamais fiz nem faria uma coisa dessas. Estimo e respeito muito você!...
- Acredito nisso.
- Então? Nunca faltaria com o respeito a você. Conheço seu trabalho e suas posições.
- Eu sei, amigo...
- Deve ter sido outra pessoa e você se confundiu...
- Não, não, infelizmente foi você.
- Pois diga quando foi isso...
- Faz quase um ano, você postava na sua timeline do Facebook quase diariamente uma informação falsa sobre políticos de Esquerda, principalmente Lula e Dilma. Eu comentava avisando que a informação era falsa, você curtia o comentário, mas, fazia vista grossa e em seguida seus amigos de Facebook comentavam ratificando a notícia que eu já havia provado ser falsa. Mas, enfim, a timeline é sua, a conta é sua, sei disso.
- Então? Eu não te ofendi.
- Calma. Dias depois de mais uma postagem dessas você compartilhou mais uma informação falsa, sobre uma suposta quantidade de dinheiro que Lula havia desviado da Petrobrás, e comentou que quem votava em Lula só podia ser ladrão ou burro.
- Mas não falei de você...
- Amigo, eu votei em Lula...
- Eu não falei diretamente a você ou a ninguém...
- Acredito nisso. Mas, na hora que li o que pensei foi: "Se ele está dizendo que quem vota em Lula é ladrão ou burro, e eu voto em Lula, logo, está me chamando das duas coisas. Que eu acredito não ser, inclusive. Aí achei melhor desfazer a amizade. Nem doeu em mim nem em você...
- Se eu te magoei, me desculpe.
- Até desculpo, sim. Mas, não me magoou. Apenas pensei: "Você vai querer minha amizade mesmo eu sendo ladrão e burro?". E desfiz a amizade virtual, só isso.
- Você está me deixando sem graça.
- Não fique, não. Cada um continua com sua timeline, não brigamos e está tudo certo.
- Se você está dizendo, tudo bem. Mas espero que me desculpe.
- Desculpado está. E não se fala mais nisso.
- Deixe eu pegar seu zap para te mandar umas coisas bacanas.
- Só não me coloque em grupos, por favor. Participo só de uns seis e mesmo assim mais para ler que para comentar. Não nasci para grupos de zap.
- Certo. É só para mandar informações mesmo.
- Ok. Grave aí meu número...
Com mais um pedido de desculpas e um abraço meio constrangido nos despedimos.
Domingo a noite, dias depois do encontro, após ver Tite falar obviedades no Fantástico e comer uma pizza, vejo no Zap mensagem do tal amigo.
Na verdade um meme.
Com foto de Temer, Lula e Dilma, culpando o PT por Temer estar no poder e pela roubalheira continuar no Brasil.
Até acredito que não foi provocação. Creio de verdade que ele me inclui nas listas de transmissão dele e simplesmente enviou o meme para todos, sem distinção.
Pelo sim, pelo não, bloqueei a figura também no Zap.
Seres humanos nunca foram fáceis. Com acesso a redes sociais, menos ainda.