Resistência somos nós
Natal, RN 29 de mar 2024

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1 de junho de 2018
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Resistência é uma palavra que define bem quem vive de arte ou produz cultura popular em Natal e em todo o Estado. Vivemos de sonhos e ilusões, e a arte tem um papel fundamental na história da humanidade e em toda sua trajetória. A arte tem o poder da transformação, tem o poder da educação e faz você viajar além da própria imaginação. É assim que penso. Arte é fundamental para qualquer ser humano. Produzimos cultura todos os dia de nossas vidas em meio a todo o caos, em meio às cidades e campos. Somos fartos e milionários e isso acontece no Brasil de ponta a ponta, fato que evita ainda mais o aumento altos indicadores da violência que afeta diretamente milhares de jovens em nosso país.

Diversos movimentos sociais e culturais apontam dentro das periferias e praticam diretamente este ato de resistência, mantendo vivo o poder da criação, mantendo vivos os nossos jovens dentro da sociedade onde tudo se copia. Movimentos marginalizados e desvalorizados, pouco financiados, mas vivos, atuantes e cheios de atitude. Enfrentamos dificuldades, enfrentamos o preconceito, enfrentamos o tempo e o nosso cansaço. Mas não desistimos. Somos a cultura e a própria resistência quando passamos adiante este conhecimento, ensinando hoje até ao próprio filho de quem nos odiava. Pois bem, também temos este lado que incomoda e perturba. Sou militante da cultura hip hop há bastante tempo, tempo suficiente para entender bem tudo isso que falei há pouco e entender também que temos força e capacidade suficientes para fazer mudar um pouco desta realidade violenta que cada vez mais nos decepciona e nos deixa corrompidos.

Nossa música deu vez e voz a muita gente que sonhava calado. A nossa dança nos faz ir além dos nossos limites, carregamos com natureza as cantorias das rimas improvisadas, salvamos e perdemos vidas no nosso dia a dia e, ao mesmo tempo, gritamos alto e não somos ouvidos nem notados, a não ser pela viatura que representa o Estado. Falo neste momento sobre a cultura hip hop da qual faço parte, mas sei bem que este problema não é só nosso. Colocar a arte de Rua, no geral, passa por esta mesma dificuldade. Até porque não somos só artistas. Também somos professores, reprodutores culturais, formadores de opinião e esta talvez seja a nossa melhor arma para reproduzir outra realidade através de uma nova geração. Somos a cultura e estamos presente nas vidas das pessoas com os nossos ritmos e expressões. Somos o modo de vestir e falar. Nossa manifestação é espontânea e realista e, juntas, existem outras culturas e ciências modificando a vida de milhares de pessoas. Somos mal pagos e mal vestidos, mas não deixamos de existir.

Por muitas vezes somos excluídos das políticas públicas que deveriam nos atender. Somos excluídos por gestores públicos que não conhecem a realidade da cultura do seu próprio Estado. Aliás, Estado este mal gerido e mal direcionado. Marginalizados diariamente, não deixamos de estar presentes. Agimos silenciosamente na mente das pessoas e fazemos muito barulho nas ruas por onde andamos com nossos gritos, gestos e movimentos. Não vamos desaparecer nem cair no esquecimento. Persistiremos, somos seres culturais e de resistência daqui.

Leia outros textos de Miguel Carcará aqui

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