Governo do RN mentiu: caixa cênica do TAM não está contemplada na reforma
Natal, RN 18 de abr 2024

Governo do RN mentiu: caixa cênica do TAM não está contemplada na reforma

22 de agosto de 2018
Governo do RN mentiu: caixa cênica do TAM não está contemplada na reforma

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A novela sobre a reforma e restauração do Teatro Alberto Maranhão é antiga.

Vamos começar pela inclusão do prédio na lista de patrimônios a serem restaurados por meio do PAC das Cidades Históricas. O projeto arquitetônico de restauro do TAM começou a ser elaborado ainda durante a gestão de Rosalba Ciarlini e Isaura Rosado à frente do Governo e da Fundação José Augusto, respectivamente.

No início da gestão de Robinson, no momento que assumi a direção da geral da FJA e me debrucei sobre o projeto que estava sendo elaborado pela empresa Cunha Lafermann Engenharia, percebi que a caixa cênica do Teatro não estava contemplada no projeto. Esse espaço compreende todo o maquinário cênico (varas de iluminação e cenário, lâmpadas, equipamento de sonorização), palco, urdimento, cortinas, coxias, rotunda, ciclorama, dentre outros equipamentos voltados diretamente para a apresentação de espetáculos cênicos e musicais. Todos esses equipamentos estão desgastados pela ação do tempo e pela falta de manutenção. As madeiras estão se soltando, os equipamentos estão queimados e com tecnologia ultrapassada, as cortinas e os panos de coxia não são corta-fogo. Em suma, isso significaria que nosso prédio histórico iria passar por uma grande obra de restauração, mas que a sua alma, o palco, continuaria antigo e arcaico, correndo o risco de transformar um teatro em um museu de visitação, e sua principal função artística e social seria desprezada.

Começamos uma força tarefa política e burocrática para que a modernização da caixa cênica do TAM entrasse no projeto. Infelizmente, a Cunha Lafermann Engenharia não podia ou não quis assumir essa responsabilidade, principalmente pela dívida que o estado tinha com a empresa, e que, consequentemente, ocasionou no não-andamento do contrato do PAC das Cidades Históricas.

O Rio Grande do Norte escolheu não acessar os recursos federais garantidos e optou por utilizar a verba do Programa Governo Cidadão (RN Sustentável), um empréstimo a juros do Banco Mundial. Comprei essa briga enquanto estive por lá, mas não fui ouvido e esse foi um dos desgastes que me fizeram abandonar esse carro desgovernado. As afirmações acima não são feitas somente por mim, é só acessar a matéria na Tribuna do Norte, em que o corpo técnico do IPHAN deixa bem claro quais foram as prioridades do Governo do Estado.

Mas vamos de fato ao debate sobre a caixa cênica do TAM. Após minha saída, os gestores que me sucederam, Crispiniano Neto e Isaura Rosado, abraçaram a ideia de incluir a modernização do palco e de seu maquinário no projeto de restauro, inclusive a própria Isaura que iniciou a feitura de tal projeto se convenceu da importância da reforma da caixa cênica e deu continuidade aos processos iniciados por mim e Crispiniano. Em março deste ano, depois de vários processos e investimento de verbas realizaram evento de divulgação da aprovação desse projeto, como comprova o release no site do Governo do Estado e em matérias divulgadas em outros veículos de comunicação.

A ATP Engenharia foi responsável pela elaboração desse projeto complementar. Infelizmente não consegui acessar o montante investido nessa ação, mas o que de fato acontece, é que ela não serviu para nada. O governo, ao licitar as obras do Teatro Alberto Maranhão, não colocou no processo as obras da caixa cênica. Quem entender minimamente de equipamentos de som, luz, urdimento e mecânica cênica, pode acessar o Edital de Licitação e não verá um único equipamento de iluminação e de som para palco. Nas últimas páginas há o orçamento detalhado. Existe uma rubrica específica de sonorização de áreas comuns, todavia a rubrica não se refere a sonorização para sala de espetáculo, destinada à realização cênica ou shows musicais.

No dia 26 de junho deste ano, como toda véspera de eleição, onde gestores candidatos tentam se salvar de toda forma, o governador assinou uma ordem de serviço do Teatro Alberto Maranhão e no próprio release do Governo do Estado o diretor geral da FJA, Amaury Jr. afirma: serão realizadas intervenções nas estruturas elétricas, hidráulicas e de acessibilidade do espaço. Também será feita a completa reestruturação do palco e camarins como também será instalado um novo sistema de ar-condicionado. O texto continua dizendo que “Amaury Júnior destaca que o mais importe é que a caixa cênica (palco, camarins e ribalta) vai ganhar uma reforma. A expectativa é de que o teatro seja reaberto oficialmente em junho de 2019”.

Ou o gestor da FJA não leu o edital de licitação de sua obra, ou, no mínimo, faltou com a verdade. O projeto de restauro do Teatro Alberto Maranhão não contempla a sua caixa cênica, reitero. Corremos o risco de ter a obra terminada, mas sem poder ser inaugurada, a exemplo do Teatro Santa Rosa, na Paraíba, que após restauração teve que esperar mais um tempo para que a caixa cênica fosse modernizada.

Corremos o risco de transformar um teatro num museu, numa peça centenária belíssima, mas sem utilidade alguma. O Governo do Estado precisa urgentemente se retratar; precisa dizer à população do Rio Grande do Norte o que vai fazer pelo nosso teatro; precisa assumir sua responsabilidade com o patrimônio do povo potiguar e não deixar esse pepino nas mãos do próximo gestor ou gestora do nosso estado. Essa atitude irresponsável pode gerar mais um desgaste enorme entre poder público e população, já tão desacreditada da classe política.

Precisamos saber qual será a solução. Uma nova licitação e um fatiamento ilegal da obra a partir da Lei 8.666? Um aditivo à obra em andamento, sendo esta uma atitude reprovável tanto pelo Banco Mundial como pelo Tribunal de Contas do Estado? É muito triste que tratem nosso patrimônio de forma tão irresponsável e tudo por fins eleitorais. É muito triste que joguem fora nosso dinheiro público dessa forma. Precisamos de explicação já.

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