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É comum em ano eleitoral que os candidatos que ainda estão na gestão do Executivo comecem a querer mostrar serviço na tentativa de se salvar, principalmente quem tem índices tão baixos de aprovação como o atual governador Robinson Faria (PSD), que nesse ano tem investido pesado em ações de marketing e estratégias de salvação. Este texto se propõe em falar especificamente sobre o setor cultural, área onde o governador tem seu 4º gestor diferente. Talvez seja a área com maiores mudanças nesse período de 3 anos e meio de administração do ex-presidente da Assembleia Legislativa.
Não é novidade pra ninguém que esse que vos escreve atuou nos 10 (dez) primeiros meses de destão no governo de Robinson à frente da Fundação José Augusto, tendo acumulado diversos desgastes administrativos por não conseguir implementar as mudanças que gostaria e que eram tão esperadas pelo setor cultural. Pois bem, fui sucedido por Crispiniano Neto que deu continuidade a algumas pautas que vinham sendo tocadas por mim, mas, após o golpe de 2016 e com o rompimento do PT com o governador, Isaura Rosado assumiu pela terceira vez em sua história a pasta da Cultura. Após a aproximação dos Rosados com os Alves, veio outra ruptura nesse setor e a bola da vez foi para a mão do presidente da Câmara de Natal, Ranieri Barbosa, que até a deflagração da operação Cidade Luz era nome fiel de Carlos Eduardo Alves, mas que agora está do outro lado e que indicou o produtor cultural Amaury Júnior para dirigir a FJA.
Amaury é um jovem e importante produtor cultural de nosso Estado, já trabalhei com ele em um de seus projetos, domina os meandros da produção pelo setor privado, tem ousadia e conhece as pautas dos militantes da Cultura. Se os números das pesquisas se confirmarem e Robinson não for reeleito, ele só terá pouco mais de 6 meses à frente da pasta. Tenho a oportunidade de participar de um grupo nas redes sociais com o referido gestor e sinto um grande entusiasmo por parte dele em tocar suas ações, ele não tem medo de se posicionar e nem se esconde atrás do birô da direção da Fundação José Augusto, tem um bom perfil para o que o governador precisa, afinal, a maneira como Robinson tratou a cultura nesses mais de 3 anos de gestão mostra que ele pouco fez pela área, e seu desespero precisa de que, em quatro meses, até o dia da eleição, ele pudesse apresentar algo de novo. Amaury talvez tenha tido a sorte de pegar um governador desesperado pra fazer alguma coisa pela cultura e vem tentando emplacar algumas coisas. A meu ver algumas delas são muito arriscadas e outras são só jogo de marketing.
Trabalho é obrigação, não é mérito
Assinar ordem de serviço de Restauração e Reforma do Teatro Alberto Maranhão e da EDTAM não é mérito, é obrigação. O TAM foi fechado durante minha gestão na FJA por vias judiciais de um processo que se arrastava desde 2010. O projeto de restauro dos referidos prédios estavam incluídos no PAC das cidades históricas. O governador Robinson Faria e seu filho Fábio Faria, ao assinarem o livro sujo do golpe de 2016, ajudaram a enterrar o Programa de Aceleração do Crescimento ao qual tais restauros estavam previstos, e é claro que ele tinha a obrigação de buscar em algum lugar os recursos para que a obra viesse a acontecer. Ainda assim demorou três anos pra poder conseguir resolver o imbróglio burocrático e culpou o contrato que existia com o PAC pelo atraso do início das obras. É tudo falácia, pois não existia nenhum contrato firmado com o Governo Federal, a não ser a escolha desses prédios para entrarem dentro do Programa. O que atrasou o processo foi o governo que não pagava o que devia ao escritório de Arquitetura que estava elaborando os projetos da EDTAM e do TAM e que, consequentemente, não soltava o projeto pra poder ser aprovado pelo Corpo de Bombeiros e pelo IPHAN. Passada essa burocracia toda, as obras do TAM começam, enfim, a serem executadas, e com uma promessa de entrega em 10 meses, e que eu ainda duvido muito desse prazo.
O governador do Estado deveria ter tido um mínimo de inteligência e colocado um quadro técnico, como eu gostaria de ter feito, à frente da Coordenação do Teatro. Alguém que nos primeiros meses de gestão quisesse trabalhar nos problemas técnicos do teatro e não apenas com sua maquiagem, mas não teve coragem e optou nomear um colunista social que nada sabe de arquitetura e tecnologia cênica, muito menos de conservação do Patrimônio Material, e que até hoje mantém-se com a pompa e o salário do seu cargo.
Divulga-se pelos quatro cantos do estado que a Biblioteca Câmara Cascudo será reaberta ainda esse mês, e que bom que temos eleição de quatro em quatro anos, e que bom que o governador ainda sonha com a reeleição, pois as coisas em períodos próximos à campanha começam a acontecer, será isso algo proposital? Não há o que se parabenizar com a reabertura da Biblioteca. Mais uma vez é obrigação do governador e, principalmente, de sua última gestora, que foi quem iniciou as obras da Biblioteca quando foi secretária Extraordinária de Cultura no Governo Rosalba. Quando assumi a FJA e tentei ao máximo salvar o convênio com o Ministério da Cultura, me deparei com diversos problemas na execução da obra e a cada reunião que tinha com os responsáveis pelo convênio e com o setor responsável do MinC pela reforma da biblioteca ficava cada vez mais consciente de que o convênio seria cancelado. Como gestor maior de nosso estado, é claro que Robinson tinha, mais uma vez, que conseguir os recursos em outro lugar para conseguir terminar a obra. E correu, de novo, pra acessar os recursos do empréstimo do Banco Mundial via programa Governo Cidadão, que na minha época chamava-se “RN Sustentável”. As obras estão em vias de conclusão e o prédio está prestes a ser reaberto, confesso que estou curioso pra saber qual a estratégia do Governo para resolver a problemática da conclusão da catalogação dos livros e do quadro de funcionários para a Gestão da maior Biblioteca do nosso estado.
Vocês sabiam que o Museu Café Filho já teve sua obra concluída e apesar de manter o nome de “Museu Café Filho” ele não tem mais nada do potiguar ex-presidente do Brasil por lá?
Todo o trabalho desprendido para reabrir esses espaços e iniciar essas obras é obrigação, não é mérito. Mérito seria se tivesse tido celeridade, transparência, responsabilidade com a máquina e o dinheiro públicos. E que aliado ao início dessas diversas obras tivesse também investimento na cultura e na arte em suas formas imateriais, nas pessoas, nos artistas e consequentemente no público potiguar que teria mais obras artísticas circulando pelos municípios para sua fruição.
Consulta Pública e Decretos é só jogada de marketing eleitoral
Quem conhece o produtor cultural e atual diretor da FJA, Amaury Júnior, sabe que ele utiliza muito bem o discurso que não está ali por política, está ali pelo bem da cultura e pelos artistas. Mas venhamos e convenhamos, não dá mais pra ficar com esse discurso por aí. Todo cargo político é um cargo político, principalmente quando você é indicado por outro político e por você ocupar um cargo em um governo de um outro político que deseja muito se reeleger. E para isso você acaba tomando algumas atitudes “políticas” que se esforçam em ser alguma tábua de salvação do atual gestor. Abaixo falarei sobre as Consultas Públicas que estão abertas para contribuições da sociedade e sobre um decreto que modifica a Lei Câmara Cascudo.
- Consulta Pública sobre uma nova Lei do Patrimônio Imaterial
- Consulta Pública para o Prêmio Cine RN 2018
- Data a partir da qual são vedadas aos agentes públicos as seguintes condutas (Lei nº 9.504/1997, art. 73, incisos V e VI, alínea a):
- Modificação na Lei Câmara Cascudo
- 1º. O incentivo de que trata o caput deste artigo limita-se ao máximo de 2% (dois por cento) do valor do ICMS a recolher, em cada período ou períodos sucessivos, não podendo exceder a 80% (oitenta por cento) do valor total do projeto a ser incentivado.
- 2º. Para poder utilizar os benefícios desta Lei, o beneficiário deverá contribuir com recursos próprios em parcela equivalente a, no mínimo, 20 % (vinte por cento) do valor total da sua participação no projeto, através de numerário, cheque ou o equivalente em mercadorias.