O dia em que Bora Porra pensou que estava com AIDS
Natal, RN 19 de abr 2024

O dia em que Bora Porra pensou que estava com AIDS

5 de agosto de 2018
O dia em que Bora Porra pensou que estava com AIDS

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar
Mais uma história de Bora Porra. Para quem não cansou dele e nem de mim. Meu amigo resolveu, depois de muita insistência da família, fazer exames de praxe. Ver como estava colesterol e tudo o mais.
Deixa eu dizer antes: ele tem pavor de médicos, o tal do exame de próstata, esse, nem pensar. Ele já disse que nunca vai fazer. Na relação dos exames, todos listados. Bora Porra, inocente, foi ao centro e tirou o sangue, tudo como deve ser.
Só depois, a enfermeira ao comunicar o dia que ele deveria passar para receber o resultado, esclareceu a natureza dos exames. E, complementando, listou todos os resultados que nosso herói iria receber. Dentre eles, e Bora não sabia, estava o de HIV. Antes, quando alguma pessoa sugeria que ele fizesse o teste ele corria léguas, nem queria saber...
Por isso, esfriou, gelou, se assombrou e perguntou gaguejando à moça: - eu fiz exame de AIDS? – Fez sim senhor, está incluído – respondeu a gentil enfermeira. Sem poder voltar atrás, suando frio, Bora Porra voltou para casa, muito, muito preocupado.
Passou a primeira noite quase sem dormir, mas, no dia seguinte foi trabalhar normalmente, tentando não pensar no exame de HIV. Nesse tempo ele ainda trabalhava no Praia Shopping, dando seu show de atendimento a serviço do Detran. Hoje, trabalha na Saúde, sua lotação original.
Pois bem, lá pelas duas horas da tarde, toca o telefone. Uma colega atende e o chama: - Roberto, telefone pra você...Bora Porra pede licença à pessoa que estava na vez e atende sem desconfiar de nada. Do outro lado, uma voz educada, grave, séria, de mulher, pergunta: - é o senhor Roberto Luís da Costa Barbosa? - É sim, responde o nosso herói.
-Senhor Roberto, sinto muito, aqui é do laboratório de análises clínicas e estou ligando para avisar ao senhor que o seu exame de HIV deu uma pequena alteração...
Nem precisou dizer mais nada. O mundo de Bora Porra caiu. O nosso abcdista ficou branco como cera, começou a tremer, gaguejar....largou o fone e se dirigiu a sua chefe na Central.
- Marlene, pelo amor de Deus, me ajude Marlene, a enfermeira disse que meu exame deu alteração...Marlene me ajude pelo amor de Deus, eu tô com AIDS...ai meu Deus do céu....
Bora-Porra chorava, chorava, na verdade soluçava feito menino...Marlene, como amiga, preocupada, tentava consolá-lo...
- Roberto, isso é brincadeira de alguém, se acalme, vá para casa e procure saber direito...
O pobre do nosso Bora saiu nas carreiras do trabalho e o povo todo olhando aquele homão de mais de 50 anos se debulhando em lágrimas. Antes da saída, ele lembrou de ligar para a sua mãe, Dona Raimunda.
Nem voltou à repartição, discou mesmo do primeiro orelhão que encontrou: - alô, mamãe (soluçando), me ajude mamãe, a enfermeira da clínica ligou e disse que tô com AIDS ...mamãe me ajude – e tome choro do pobre agoniado herói.
Do outro lado da linha, Dona Raimunda, dura como sempre falou: - Roberto Luís, Roberto Luís, você não tem fé em Deus? – perguntou.
O pobre coitado, respondeu que sim...desligou o aparelho, sem o conforto que esperava encontrar e voltou a chorar antes de sair correndo para a parada do ônibus.
Pela cabeça de nosso sofrido personagem a vida chegara ao fim. Pensava, pensou mesmo em se atirar embaixo dos automóveis que passavam.
Confidenciou que só não o fez por conta de sua fé espírita que não admite, de jeito nenhum, que se tire a própria vida.
Dentro do transporte – pegou alternativo – ele continuava o seu lamento encolhido no campo, mas, claro, chamando muito a atenção dos passageiros. O seu primeiro pensamento foi procurar dr. Augustinho, médico de sua mãe, amigo da família.
E foi. Zanzando, como um autômato, ele se dirigiu para a clínica do jovem médico no bairro do Tirol.  Depois de quarenta minutos rodando, saltou num canto qualquer da cidade, do Tirol, na verdade, naquele momento nem sabia direito onde estava...
Aos poucos, porém, foi se localizando e andou mais uns trinta minutos até se achar, e encontrar a clínica.
Logo na entrada deu de cara com uma amiga, Rose, pessoa que trabalhava na sua casa e cuidava de sua mãe.
E veio outra crise...- Roooooooooooooooose! Rose me ajude pelo amor de Deus, a enfermeira da clínica disse que eu estou com AIDS, me ajude Rose, chame dr. Augustinho...ai meu Deus do Céu, vou morrer Rose, me ajude...!
E Rose, claro, vendo a situação do coitado ficou assombrada, se aperreou, se apiedou, e bateu no consultório às pressas e pediu para falar o médico.
Dr. Augustinho estava atendendo um paciente, viria em seguida, informou a moça atendente.
Depois de alguns minutinhos de espera que pareceram séculos e séculos, o médico amigo chegou. E foi outro drama quando o curador apareceu na frente de Bora Porra.
-Oi Roberto – foi dizendo sorridente, mas parou assustado...
– Rose, Roberto tá chorando...o que foi que houve? Aconteceu alguma coisa com Dona Raimundo (mãe), com o Anjinho (irmão)? – perguntou assustado.
Ele nem respondeu, e se agarrou aos braços do médico, pedindo ajuda, repetindo as mesmas lamúrias em total descontrole.
No consultório, as pessoas assombradas, querendo saber o que teria acontecido com aquele pobre homem tão desesperado.
-Dr Augustinho pelo amor que o senhor tem pela sua mãe, me ajude pelo amor de Nossa Senhora Aparecida...eu vou morrerrrrrrrrrrrrrr, eu estou com AAAAAAAAAAAAAIDs ...
O médico, boquiaberto, olhava para Rose e para Bora Porra...
Acalmado, aos poucos,  narrou o acontecimento, a natureza da informação via telefone para ele pela suposta enfermeira. Dr. Augustinho, estranhando o fato resolveu ligar para o centro de análises clínicas. O médico fez a ligação, isso tudo na frente de nosso combalido anti-herói...
A conversação iniciada, e Bora Porra estático, trêmulo, não conseguia parar de chorar esperando a qualquer momento ouvir da boca do próprio médico e amigo a confirmação de sua sentença de morte.
-Sim, ele é meu paciente, o nome dele é Roberto Luís da Costa Barbosa, e ele realizou com vocês essa semana uma bateria de exames, está muito nervoso...sim, gostaria de saber se uma pessoa daí ligou para dar algum resultado...
Bora Porra, no seu canto, era como se escutasse a voz do outro lado do fio dizendo: “Isso mesmo, o exame dele deu soropositivo...
Depois de mais alguns minutos que pareceram séculos para o sofrido paciente que só conseguia pegar pedaços da conversa, dr. Augustinho encerrou a ligação, agradeceu, sorriu, olhou para o nosso personagem sofrido que ainda chorava de agonia.
- Roberto, você está de parabéns, todos os seus exames deram excelente para a sua idade. E não tem nada de AIDS, tudo limpo, e o chefe da clínica disse que ninguém de lá tem autorização para ligar para pacientes...foi tudo um trote que passaram em você.
Sem dúvida, um trote de muito mau gosto, e que quase acaba com a carreira do torcedor número 1 do ABC.
Nem precisa dizer que, do seu jeito, agora sorrindo aliviado, Bora Porra abraçou e beijou os pés do Dr. Augustinho.
E foi assim o dia em que Bora Porra pensou que estava com AIDs.
PS: ele nunca descobriu quem armou essa brincadeira, mas desconfia que foi gente que mora na região Norte do Brasil.
*Bora Porra, ou Roberto Lili, é um personagem real da Cidade Alta, torcedor símbolo do ABC. Ele vai aos jogos e não vê o jogo. Fica de costas, incentivando, comandando a torcida do ABC e seu grito de guerra é "Bora, Porra! Bora!, e assim ficou famoso na Frasqueira. Essa é apenas uma das dezenas de história desse nosso herói.
Leia outros textos do jornalista Edmo Sinedino na agência Saiba Mais aqui
Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.