Globo e linchamento
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18 de setembro de 2018
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É sabido que que nas antigas arenas romanas os reis se divertiam com lutas de gladiadores e com corpos de escravos jogados aos leões para serem devorados vivos. Tal prática era considerada diversão para nobres e para a população. As arenas eram as mídias da época. E assim, o espetáculo de devoração e belicismo bárbaro era tido como natural. Matar ou morrer seria uma tarefa de gladiadores e leões famintos por carne e sangue. Prática corrente na história, também, foram os enforcamentos em praça pública. No faroeste americano são abundantes tais cenas.

O mocinho e bandido, muitas vezes, são julgados em praça pública e acompanhados pela fúria e excitação da população. Quando não são salvos pela arma de algum comparsa que "corta" a corda, são condenados ao cadafalso e à forca. Michel Foucault, em Vigiar Punir, destaca o célebre caso de Damiens,1757, que teve seu corpo desmembrado por cavalos amarrados em braços e pernas. E tudo isso acompanhado pelo o olhar de populares. As cenas de suplício como espetáculo.

Mais recente, a transmutação de tais práticas migrou para os meios de comunicação. Destacadamente para a TV e a Internet. Assistimos desde cenas cotidianas em programas televisivos de forte audiência, tais como Datena e Papinha, bem como a imagens de corpos mutilados na web. Os julgamentos feitos pelo EI (Estado Islâmico) às pessoas capturadas também se utilizam deste mecanismo midiático. Fazem a decapitação e gravam cenas a serem propagadas pela TV e redes sociais.

Sabemos todos do fascínio que têm as imagens de desastres e crimes. Mesmo que não tenha cadafalso, espadas, leões, a mídia se utiliza da mesma força publicitária e comportamento de juízes, xerifes e terroristas. Quanto mais massacre simbólico das vítimas, mais audiência. O exemplo mais recente disso tem sido as entrevistas com os candidatos a presidente do Brasil pelos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcelos.

A bancada do Jornal Nacional reatualiza a arena romana, dado o nível de violência das inquirições aos candidatos. Não perguntam, mas opinam constrangendo os convidados. Invertem os papéis. É como se o roteiro de sua pauta jornalística fosse um processo jurídico acusatório no qual o ponto forte é o suplício simbólico do "adversário" candidato e a sua condução ao cadafalso e ao linchamento público. Agem como verdugos ferozes na devoração. Como xerifes da opinião tentam executar seu roteiro de perguntas com expectativas de respostas pré-fabricadas.

O jogo é perguntar e somente aceitarem aquilo que confirmem o roteiro da Rede Globo. Como herdeira da tradição do regime militar não poderia ser diferente. Relembremos alguns fatos: a Rede Globo é uma concessão pública de propriedade dos Marinhos, mas segundo denunciou Assis Chateaubriand, dos Diários Associados à época, a mesma foi criada com dinheiro ilegal estrangeiro advindo do grupo Time Life. O benefício da concessão pelo regime militar a Roberto Marinho transformou o grupo Globo no grande espaço de divulgação e defesa do regime autoritário.

Desnecessário afirmar que o Jornal Nacional tem sido o exemplo explícito de adesão à ditadura militar. Portanto, não poderia ser diferente o comportamento dos seus jornalistas na condução de suas vítimas ao “cadafalso” de suplício e espetáculo. Bonner e Renata são carrascos de uma empresa de comunicação, que emprega táticas de tortura à moda de um capitão do mato. A Globo persegue, julga, prende e lincha aqueles que não se adequam ao seu roteiro. A consequência disso tudo é a narrativa de um canal de televisão que tem contribuído para o ódio e divisão do país. Basta que observemos o tratamento que tem dado ao ex-presidente Lula e aos representantes do PT e ou da esquerda. Nos episódios do Mensalão e Lava-jato o roteiro é o mesmo. Repetir cenas chocantes e superlativas para que publicitariamente induzam a população ao linchamento moral de petistas.

Após caçada desenfreada, a Globo contribuiu para que a Justiça levasse Lula à cadeia. Por outro lado, contribuiu para chocar o ovo da serpente do ódio entre brasileiros: Jair Bolsonaro. O coiso! É assim que ironicamente vivenciamos uma situação inusitada na eleição presidencial. Um na prisão e outro no hospital.

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