Platão pega o metrô
Natal, RN 19 de mar 2024

Platão pega o metrô

25 de setembro de 2018
Platão pega o metrô

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Era a segunda vez que pegávamos juntos o metrô e, nem por isso, foi mais fácil achar assunto que disfarçasse a timidez provocada pela clara e proibida atração que eu sentia.

A única vantagem que eu tinha era que, agora, o vagão estava cheio, o que poupava o constrangimento daquele momento de indecisão que vivi, da primeira vez, quando o simples pensamento de que poderíamos sentar lado a lado num mesmo banco me deixou instantaneamente vermelha.

Mesmo de pé, como da outra vez, olhares e calores se encontravam e fugiam um do outro ao menor sinal de perigo. Não que ele sinta a mesma coisa. Isso eu não posso ter certeza e ele jamais confessaria. Mas a minha vontade era capaz de imaginar instantes de reciprocidade, ainda que platônica.

O movimento do metrô nos aproximava e acho que o flagrei, em um dado momento, tentando evitar o risco, quase fatal, de nos tocarmos. Também tive a impressão de que parou o olhar nas minhas costas, nas asas tatuadas, quando eu não estava olhando.

Desajeitada e nervosa, eu não parava de falar e gesticular, esperando que a conversa ininterrupta o distraísse o suficiente para não me descobrir queimando por dentro. Antes que me denunciasse, desci numa estação bem antes do meu destino final.

Por algum motivo, me senti plena o resto da noite, como se o platonismo preenchesse o espaço onde faltava vida. Como se aquele vagão pudesse voltar, sempre que eu quisesse, na minha memória...

Até a próxima viagem!

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