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Policiais desabafam sobre “estrutura de faz de conta” no RN em debate sobre Segurança

Uma política de segurança de mentira implementada por um governo de mentira e opressor. Esse foi o resumo do desabafo coletivo de policiais e agentes de segurança do Rio Grande do Norte que participaram nesta quinta-feira (20) do Chame Gente, roda de conversa promovida pela campanha da vereadora Natália Bonavides (PT), candidata à deputada federal.

Estudantes, professores, profissionais liberais, representantes de movimentos sociais, cientistas, policiais e agentes lotaram a Casa da Democracia, comitê de campanha da petista, para discutir alternativas para a política de segurança pública do Estado e do país. O debate foi transmitido ao vivo pelas redes sociais da parlamentar.

Participaram do debate como convidados o neurocientista e militante pela legalização das drogas Sidarta Ribeiro; a historiadora, militante LGBT e também pela legalização das drogas Leilane Assunção; o membro do Movimento Policiais Antifascismo Dalchem Viana, além da militante do Levante Popular da Juventude Mara Farias.

Durante o evento, o Movimento de Policiais Antifascistas lançou um manifesto. Na abertura, Natália Bonavides classificou o próximo dia 7 de outubro como “a eleição das nossas vidas”. Na visão dela existem dois projetos em disputa em que o campo progressista, na verdade, luta para defender a própria vida.

– (O nosso) é o projeto das mulheres, dos negros, LGBTs, pessoas tratadas como não sujeitos, como vagabundos. Essa é a eleição das nossas vidas, estamos lutando para defender as nossas vidas. Nossa responsabilidade nessa conjuntura é enorme. E não poderíamos deixar de debater o tema da Segurança Pública nessa campanha. O que é o tema da guerra às drogas para a população pobre e negra desse país ? Há um extermínio em curso. Pessoas LGBTs são mortas só por ser quem são. Então não podíamos deixar essas narrativas fascistas sozinhas.

“A sociedade exige que o policial seja um irmão mais velho”, diz agente.

Chamaram a atenção depoimentos de policiais e agentes de Segurança Pública do Estado revelando um cenário desolador e de abandono no Rio Grande do Norte, coerente com os dados alarmantes e o crescimento da violência no Estado.

Um dos policiais classificou de “faz de conta” a estrutura oferecida pelo poder público:

– O Estado cria uma estrutura de faz de conta para investigar e eu participei dessa estrutura. Somos soterrados por pilhas (de documentos). Cada um é uma pessoa, uma história. Mas o que se faz é equalizar tudo. Trabalhei com um colega em Felipe Camarão que morava no próprio bairro, mas morria de medo de ser reconhecido. Se fosse, o destino não seria bom para ele.

Outro policial destacou que a sociedade espera um tipo de profissional da Segurança que nem sempre é aquele que atende a população:

– O sistema de segurança pública causa mal às pessoas. Somos treinados para isso. Há uma construção para que a gente haja dessa forma. A sociedade exige do policial que ele seja um irmão mais velho, que tenha a cara dura, seja forte, fale alto e ponha autoridade. O policial não pode ser o cara que dialoga, por que senão é “bicha”, “mão leve”. Temos que conviver com isso (no dia-a-dia). Recebemos uma instrução: vai lá e faça. Somos o cavalo de troia. Somos o inimigo íntimo. Só que isso não é segurança, mas insegurança.

Membro o movimento de Policiais Antifascistas, Fernando se identificou como delegado de polícia civil e afirmou que vive há 18 anos um mentira. Mas mesmo assim, ressaltou a necessidade de enfrentar a estrutura.

– Sou delegado de policia civil. Não vim aqui para reprimir, autuar ninguém, nem vim como olheiro. Assim como a Natália Bonavides, eu era advogado dos movimentos populares. Passei no concurso para uma função que me honra e que me magoou também. Há 18 anos vivo uma mentira. A segurança pública em nosso país é uma mentira. Vencemos o tempo todo uma mentira. Interessa ao fascismo se construir em cima da mentira. Nos colocam na vala comum. Temos que virar o jogo. Temos que dar um basta e nosso grito de libertação será no dia 7 de outubro. Vamos encontrar resistência, essa vitória não vai ser fácil. O fascismo já está estabelecido nesse país e vai continuar depois da eleição. Mas estou aqui dando a cara a tapa. Nós não seremos esquecidos.

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Jornalista e autor da biografia "O homem da Feiticeira: A história de Carlos Alexandre"