Quanto vale seu voto?
Natal, RN 19 de abr 2024

Quanto vale seu voto?

11 de setembro de 2018
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Há quem vote em quem está na frente nas pesquisas, como se estivesse mesmo vendo um jogo de futebol ou uma corrida de cavalos e só quisesse apostar na vitória mais óbvia, por medo de desperdiçar sua escolha. Existe ainda aquela galera que, descrente da política, decide que vai votar nulo ou em branco, como forma de protesto.

Alguns acreditam até que se a maioria dos eleitores fizesse o mesmo, as próprias eleições seriam anuladas, o que, ainda que fosse verdade (e descobri apenas há pouco tempo que não é verdade), e tivessem que convocar novas eleições, só implicaria em mais gasto de dinheiro público para o país. Na verdade, essa atitude só leva ao mesmo resultado de quem votou no time que estava na frente, o que, portanto, não é exatamente o efeito que se espera de um voto de protesto.

Mas não vim aqui discutir sobre em quem você deve ou não votar. Não tenho discutido muito sobre escolha política, especialmente depois que as configurações de segurança foram atualizadas, nessas eleições. Até porque não se convence quem é de ultra direita a votar em candidato de ultra esquerda ou vice-versa.

Essa é só uma despretensiosa viagem sobre o valor do voto. E espero que não parem de ler quando eu disser que aprendi o valor do voto com um militar. Pois ao contrário do que muita gente generaliza a respeito dos militares, meu pai acreditava e defendia a democracia.

Tanto que deu sua própria cara a tapa, sendo por duas vezes candidato a vereador de Natal. A estratégia dele era simples: investia em enviar cartas que esclareciam o papel de um vereador e apresentavam alguns projetos e propostas que pretendia defender na Câmara Municipal de Natal, caso fosse eleito.

Naquela época, era permitido aos candidatos confeccionar camisas, como forma de propaganda eleitoral. Foi aí que aprendi com meu pai, de um jeito um tanto peculiar, o valor do voto. Mesmo não alardeando na vizinhança que era candidato, a notícia se espalhou e não demorou a aparecer gente pedindo as mais diversas vantagens, em troca da promessa de voto.

Para a maioria ele respondia delicadamente que não tinha como ajudar. Mas havia quem lhe pedisse apenas camisas de propaganda, única coisa que ele admitia dar. Até um dia em que uma senhora que já havia recebido umas cinco camisas passou novamente na porta de nossa casa e disse que, se ele desse mais dez camisas, ela garantia mais dez votos.

"Mas se a senhora só espera conseguir os votos por causa das camisetas, então prefiro que devolva as outras cinco", disse ele, visivelmente chateado por perceber que ela trocava votos por camisetas. Decepcionado por só nesse momento ter entendido a dimensão da falta de consciência da sociedade do poder e do valor que tem o voto.

Claro que ele não ganhou nenhuma das duas eleições de que participou. E confesso que nem sei se eu gostaria que ele tivesse sido eleito, porque já havia sofrido um infarto antes e certamente o estresse o tiraria ainda mais precocemente das nossas vidas.

Por outro lado, aquela lição sobre o valor do voto foi umas das mais importantes que já recebi e, se não ganhou um lugar na Câmara, foi eleita por mim como eterno exemplo. Não foi só um ato contra a venda do voto. Foi um aprendizado pra vida toda de que não se pode desperdiçar ou desprezar esse instrumento democrático de livre escolha que conquistamos.

Como ele, acredito que o que pudermos fazer pra garantir que a democracia continue a existir no país, será de grande valia. E esse exercício deve ser feito não apenas de quatro em quatro anos, mas em toda e qualquer situação política, como votação de projeto de lei, audiência de orçamento participativo, votação pra líder de bairro, ou outras questões que possibilitem a manifestação popular.

Afinal, seja contra nossa escolha ou a favor, ouvir a voz do povo ainda é a melhor opção.

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