Bolsonarocídeo
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23 de outubro de 2018
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Freud disse que quando os indivíduos se veem ameaçados pela fantasia do medo, negociam imaginariamente o ideal de liberdade futura por uma pretensa promessa de segurança do presente. O medo faz parte da economia subjetiva societal e, em geral, se transforma em moeda de troca. É assim que nas grandes cidades alimenta-se a indústria da segurança privada e a propagação de programas televisivos, que são arenas midíaticas do teatro das crueldades cotidianas. Roubos, assassinatos, estupros, sequestros servem de inspiração para o roteiro da fun morality.

A tragédia diária vira entretenimento animada por apresentadores justiceiros prometeicos de uma pretensa sociedade sem crimes. O que interessa é propagar a violência espetacularizada através de símbolos que incutam medo e criem a necessidade imaginária de justiceiros. O que importa é vender o discurso da ordem e da punição como garantia aos indivíduos. É a partir deste fenômeno que apresentadores têm se tornado políticos e estrelas aos olhos da população.

No Rio Grande do Norte, temos o apresentador Papinha e o ex-deputado Paulo Wagner como exemplos desta realidade. Além deles, podemos citar o capitão Styvenson. Recém eleito senador com o discurso de punição, sobretudo, a motoristas infratores. A consequência disso tudo é, cada vez mais, a substituição da política pela moral e o seu exercício prático como uso e abuso de regras, normas e o uso da força. É neste caldo de cultura política que emerge Bolsonaro. O animador de uma ópera bufa que brada valentia, ódio ao diferente e se utiliza de gestos e símbolos identificados com o mito e herói da ordem e da justiça.

Mais do que o deputado - há 28 anos e que nunca apresentou um projeto para segurança pública - ele é visto como capitão ou aquele que simboliza o militarismo na política. Por isso, nos últimos dias, a imprensa tem noticiado atos de violência por parte de seu adeptos. Como carrascos voluntários do candidato, formam milícias fascistas e agridem adversários. Como bolsonoracidas ameaçam, espancam homossexuais, negros e ou aqueles que portem algum adesivo do outro candidato. O mundo já viu este filme com o holocausto de Hitler. No Brasil, é preciso que evitemos um bolsonarocídeo.

A consequência de uma república bolsonarocida já pode ser notada nas eleições. O episódio do caixa 2 a partir da compra de pacotes  de disparo de mensagens de campanha pró-Bolsonaro no WhatsApp por empresários - até agora comprovado 12 milhões de gastos, segundo jornal Folha de São Paulo- , o escândalo das correntes de Fake News sob a orientação do ex-guru da campanha de Donald Trump, Steve Bannon, a declaração do deputado Eduardo Bolsonaro de que a turma aliada de seu pai fecharia o Supremo Tribunal Federal com apenas um "soldado e um cabo", demonstram não somente incivilidades, mas uma concepção política golpista e militar. Com a milícia bolsonarocida não há argumentos para se exercitar a democracia, ao contrário, o que há é a prática do eliminismo do adversário.

Neste sentido, o que temos é ditadura da opinião única a partir de fundamentalismos morais como política de Estado. Valores religiosos, racistas, homofóbicos  e machistas são inspirações para políticas públicas em república bolsonarocida. O que causa espanto diante de tais regressões é a leniência da justiça e por parte da mídia. O TSE, mesmo que sua presidente tenha sido ameaçada, tem afirmado que é preciso evitar "marolas na eleição". Isto é, estão apurando os episódios como se o Estado de Direito não tenha sofrido nenhuma agressão ou estivesse no seu mais perfeito funcionamento. Temos a sensação de que estamos diante de jagunços urbanos ou de delinquentes fascistas que se comportam, por vezes, como filhotes de algum rei xiita em pleno século XXI. Uma política ameaçadora da vida se coloca no horizonte dos brasileiros e os democratas parecem não tem conseguido derrotá-la. A batalha do livro contra a bala, do legado de Paulo Freire contra a ignorância, da razão contra a barbárie. Eis a herança desta eleição. Nos resta que cantemos a ira de Aquiles por liberdade e pela luta sísifa do nascer das utopias: Haddademos!

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