Ou é o começo do fim ou é o fim (do fascismo)
Natal, RN 28 de mar 2024

Ou é o começo do fim ou é o fim (do fascismo)

7 de outubro de 2018
Ou é o começo do fim ou é o fim (do fascismo)

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Neste domingo, dia 7 de outubro de 2018, os brasileiros vão às urnas escolher o próximo Presidente da República. Também serão eleitos novos governadores, senadores, deputados federais e estaduais, mas a verdade é que a corrida pela cadeira principal acabou assumindo o centro das atenções e ofuscando os demais cargos. Um processo que se desenrola há meses, marcado pela polarização de ideias e ideais e pela ameaça ao estado democrático de direito.

Em meio ao turbilhão, não foi de se admirar que o meio virtual passasse rapidamente de muro das lamentações ao mais forte instrumento eleitoreiro. Essa inclusive é considerada pelos especialistas em marketing político a primeira campanha majoritariamente focada em redes sociais. No entanto, mesmo diante desse fenômeno, o que muita gente não esperava é que um espaço criado no Facebook, por mulheres, pudesse ter um peso tão decisivo nos rumos do país.

A saga do grupo ‘Mulheres Unidas Contra Bolsonaro’, hoje com quase 4 milhões de membros, já é bastante conhecida e teve como ponto alto as manifestações ocorridas no dia 29 de setembro em mais de 100 cidades brasileiras e também em outros países. A onda de protestos foi considerada um sucesso pela organização. Mesmo com a cobertura aquém do esperado pela chamada “grande mídia” nacional, a movimentação chamou a atenção dentro e fora do país, gerando repercussões que se desenrolaram por toda a semana.

Mas para a surpresa dos que se opõem às ideias fascistas pregadas por Bolsonaro e temem a sua chegada ao poder, as últimas pesquisas tem mostrado a ascensão do candidato. Ibope e Datafolha divulgaram os índices mais recentes, neste sábado, véspera do pleito: Jair Bolsonaro tem cerca de 40% das intenções de voto, contra 25% do segundo colocado, Fernando Haddad (PT). Com tantas incertezas sobre o futuro, debater política virou obsessão e em São Paulo, a cidade mais populosa do país, o caldeirão parece ferver com ainda mais intensidade.

Ao longo da semana, surgiu no grupo o aviso de um novo ato na capital paulista. Sábado à tarde, em frente ao Masp, o Museu de Arte de Assis Chateubriand, localizado no coração da metrópole, a Avenida Paulista. Uma das cabeças do grupo do Facebook e organizadora dos dois atos, Andreza Delgado, explicou a segunda convocação: “A gente acha importante, um dia antes das eleições, reafirmar o discurso contra o fascismo, representado por Jair Bolsonaro. Não levantamos bandeira de nenhum outro candidato. O movimento é contra o ódio”.

Ela também avalia as acusações de que o primeiro protesto teria contribuído para o avanço do candidato do PSL nas pesquisas. “Nesta última semana, líderes religiosos declararam apoio a Bolsonaro e, claramente, pediram votos a milhões de fiéis. Empresários chegaram a coagir funcionários, ameaçando demissões. Não aceitamos essa tentativa absurda de desqualificar um movimento legítimo encabeçado por mulheres que levou milhares de pessoas às ruas e hoje vai levar novamente”, conta.

A autônoma Andreza Delgado, 23 anos, é uma das organizadoras do grupo ‘Mulheres Unidas Contra Bolsonaro’.

Na hora marcada, as pessoas começaram a chegar. Mulheres em grande maioria, mas também muitos homens. Pessoas de várias idades, várias cores, vários credos. Adultos, idosos, jovens, crianças. Bandeiras enchiam o espaço de cores, além de faixas e cartazes identificando partidos, movimentos sociais e estudantis, torcidas organizadas, grupos variados. Outros, simplesmente transmitiam mensagens. Em comum e onipresente, a hashtag #EleNão. A aglomeração fechou uma das faixas da avenida e o movimento começou. Três mulheres tomaram a palavra e fizeram breves discursos em defesa da democracia e dos movimentos feminista, negro, indígena e LGBT, principais alvos de Bolsonaro e dos seus eleitores. Por fim, todos saíram em caminhada.

A cada momento novas pessoas se juntavam ao grupo e o que começou com centenas de participantes, ao cruzar a Avenida Consolação já eram milhares. A organização estima que 25 mil pessoas tenham participado. Os números da Polícia Militar, mais uma vez, não devem ser divulgados. Depois de dias angustiantes, que beiraram à depressão, a alegria presente e contagiante foi uma grata surpresa. Os gritos pareciam ainda mais fortes e emocionados do que no primeiro ato. Embalados pelos metais e tambores da Fanfarra Clandestina (créditos mais que merecidos), muitos cantavam e dançavam. Por que não? Afinal, isso aqui é o Brasil. Gratidão, Mama África, por essa deliciosa herança!

“Ele não!”, “Ele nunca!”, “Ele jamais!”. A passeata chamava a atenção dos moradores das centenas de prédios que cruzavam o percurso até o centro. Da varanda, eles acenavam e ouviam: “Vem pra rua, vem lutar com a gente”. E muitos iam. O movimento pacífico foi acompanhado de perto pela Polícia Militar. Cerca de três quilômetros depois, a multidão desaguou no Teatro Municipal, ocupando a praça e a escadaria e encerrando ali mais um capítulo da conturbada história brasileira.

O que vai acontecer após os votos serem contabilizados na urna eletrônica ainda é uma incógnita, mas, especulações à parte, quem assim como eu, teve a chance de estar nas duas manifestações chega a ter obrigação de estar confiante no futuro do país. Somos muitos e lutamos pelo correto. Usando as palavras do escritor Ernest Hemingway: “Quem estará nas trincheiras ao teu lado? - E isso importa? - Mais do que a própria guerra”.

Peço perdão, nobre editor, por prometer uma reportagem e entregar um artigo. É que essa mulher/feminista/nordestina/jornalista que vos escreve, como não podia deixar de ser, também é #EleNão. Salve a democracia! Ditadura nunca mais!

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