Peça perde patrocínio no RN após empresário alegar que atingiria eleitores de Bolsonaro
Natal, RN 29 de mar 2024

Peça perde patrocínio no RN após empresário alegar que atingiria eleitores de Bolsonaro

23 de outubro de 2018
Peça perde patrocínio no RN após empresário alegar que atingiria eleitores de Bolsonaro

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

O ator e diretor da S.E.M Cia de teatro José Neto Barbosa, protagonista do premiado monólogo A Mulher Monstro, revelou nesta terça-feira (23) que o espetáculo perdeu seu principal patrocinador após um empresário discordar da foto de divulgação da peça alegando que atinge eleitores do candidato de extrema-direita à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL).

Esse é mais um caso de perseguição política a atingir em cheio artistas do país, especialmente aqueles que não se identificam com as ideias e propostas de Bolsonaro.

O espetáculo é baseado no conto “Creme de Alface”, de Caio Fernando Abreu, escrito durante a ditadura militar, com adaptação das falas para os dias de hoje. Na foto estopim da polêmica, a personagem principal aparece com o rosto pintado de verde e amarelo num fundo de cortina vermelha.

O corte no patrocínio aconteceu às vésperas das duas apresentações do espetáculo marcadas para sexta (26) e sábado (27), no Teatro de Cultura Popular (TCP). As duas sessões estão mantidas com recursos originários apenas da bilheteria e começa às 19h. As vendas promocionais antecipadas já começaram pelo site SYMPLA.

José Neto Barbosa nasceu no Rio Grande do Norte, mora em Recife (PE) e já rodou o país apresentando A Mulher Monstro. Ele fez um desabafo nas redes sociais lamentando as dificuldades de exibir a peça após a perda do patrocínio:

- Objetivamente a empresa se posicionou contra a foto que utilizamos para divulgação, onde A Mulher Monstro está com o rosto pintado de verde e amarelo num fundo da cortina vermelha... alegou que atinge eleitores de Bolsonaro. Perguntou se meu espetáculo se posicionava "por partido", que atingiria a clientela. Respondi que a peça fala de política social, das relações humanas, dentre outros assuntos intangíveis. Agora, estamos com dificuldades para investir num plano de mídia, em comunicação, em pagar divulgação e mudanças de visagismo e cenografia que optamos fazer. Não sei o que dizer mais nesse tempo de extremismo.

Em contato com a reportagem, o ator e diretor da S.E.M cia de teatro também optou por não divulgar o nome dos patrocinadores, segundo ele, para não prejudicar os funcionários que o ajudaram a conseguir os apoios:

- É uma clínica, e também uma loja. Eu estou optando por não divulgar o nome para não prejudicar os funcionários que fizeram a ponte para que eu conseguisse não só a esse "possível" patrocínio, mas de outras apresentações que já tivemos. Nós da Cia entendemos que a culpa não é do gerente ou das vendedoras que fizeram a ponte. Veio de cima. Do dono. Não quero fazer ninguém perder emprego, penso que são mães e pais de família.

Neto Barbosa afirmou que, apesar do baque, vai seguir apresentando o espetáculo:

- Esse boicote me deixou meio atordoado. Estou com medo, mas ao mesmo tempo me sinto encorajado em continuar, a pauta já tá marcada e eu não vou deixar de me apresentar na véspera de eleição. E depois dela também, e quando eu sentir necessidade de continuar gritando esse "socorro". Esse espetáculo foi criado em 2015, estreado em 2016. Se a carapuça tá servindo, ótimo. Conto, de coração, com a ajuda de vocês, amig@s, para divulgar nossas apresentações em Natal. Nossa única fonte será bilheteria, o que não paga os custos, não teremos uma boa divulgação por falta de recursos. A Fundação José Augusto e o TCP diminuíram alguns custos da pauta (recebam meu obrigado especial), mas mesmo assim tá difícil. Nos ajudem a ecoar nossa mensagem de tolerância e amor ao próximo. Divulguem, nos ajudem... Dias 26 e 27 de outubro, às 19h no Teatro de Cultura Popular (Rua Jundiaí, Tirol).

Prêmios

O espetáculo A Mulher Monstro já foi premiado como melhor monólogo do teatro nacional em 2017 pela Academia de Artes no Teatro do Brasil/Prêmio Cenym, além de ter sido destaque no Festival de Curitiba, um dos principais festivais de teatro da América Latina.

O espetáculo é baseado num conto “Creme de Alface”, de Caio Fernando de Abreu, escrito durante a ditadura militar. Em “A Mulher Monstro”, uma burguesa é perseguida pela própria visão intolerante da sociedade, não sabendo lidar com a solidão e as relações num tempo de ódio visto sem vergonha. O espetáculo aborda a atualidade político-social do Brasil, baseado nas opiniões da internet, ruas, na postura de figuras públicas, além do próprio conto do escritor.

A peça já passou por Porto Alegre, Ponta Grossa/PR, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Trindade/PE, Exu/PE, Caruaru/PE, Recife, João Pessoa, Natal e Mossoró/RN.

As mais quentes do dia

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.