Cozinheiro enfurecido ataca clientes com faca e é morto pela polícia. Inverta a ordem dos fatos, dê novas cores aos personagens: Policiais mataram um sushiman na semana passada, em São Paulo. O rapaz teria sofrido um surto e ameaçado os colegas de trabalho com uma faca. Levou quatro tiros pelas costas. Acabou-se o surto. É o fim do mundo.
O homem sushi não é nenhum super-homem. Seus poderes são mais modestos aos olhos do público. Sua força é a delicadeza de gostos, cores, do frio e do calor. E se até o super-homem tem suas fraquezas, a um homem comum não lhe basta ser sushiman. Chega um dia que tudo o que lhe resta é cortar a linha que traça o cotidiano, manchar a rotina, quebrar os ritos, dar um fim ao mundo.
O homem ordinário pensa que é super-homem. Não tira férias, não folga, não vai ao cinema, não lê, não conversa, não chora. É só e dá conta de tudo. Renuncia às banalidades da vida, perde seu brio. Essa gente ordinária deseja ter o poder da invisibilidade, o mais infantil dos super-poderes. Só apagar a luz um pouco, mas não ser ordinário por completo.
Então quem é esse que surtou, enlouqueceu, atacou e morreu? Não é o que se espera de um qualquer, de um ordinário. Não é assim que morre um homem comum. Nada de manchetes, reportagens, curiosos ou alvoroço, que isso é coisa de gente importante, de sujeito graúdo. Mas até seu nome andam repetindo por aí.
Curiosamente, o homem comum se apaga aos poucos. Quando vê, já sumiu. E o poder da invisibilidade, tão desejado um dia, acalenta os que ficam. “Fulano descansou”, dizem por aí. Uns mais cedo, outros mais tarde. No tempo certo. O tempo de Deus, dirão alguns. Que Deus tenha piedade do homem comum.