Damares Alves não representa a luta das mulheres
Natal, RN 25 de abr 2024

Damares Alves não representa a luta das mulheres

13 de dezembro de 2018
Damares Alves não representa a luta das mulheres

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Na quinta-feira passada (06), justamente quando eu lhes falava nesta coluna sobre a importância da representatividade das mulheres nos espaços de poder, Onyx Lorenzoni (DEM), líder da transição do governo Bolsonaro, anunciava a indicação de Damares Alves, advogada e pastora evangélica, ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Mesmo seguindo subrepresentadas na política brasileira e considerando que esta é apenas a segunda mulher no time de vinte e um ministros já escalados pelo presidente eleito, não há motivos para que as mulheres possam comemorar a escolha de Damares.

Caso você tenha perdido o flashback de uma das declarações mais ultrajantes da futura ministra, resgato em resumo aqui: em entrevista concedida a ninguém menos que Jaufran Siqueira (candidato pelo PMN nas últimas eleições municipais de Natal, conhecido por receber mais de duas mil denúncias na Justiça Eleitoral e seis representações do Ministério Público por incitação ao ódio contra as mulheres), ironicamente por ocasião do oito de março deste ano (Dia Internacional da Mulher), Damares Alves afirmou que “a mulher nasceu para ser mãe”. Ao longo da conversa, a pastora ainda declarou que, se pudesse, viveria apenas às custas do trabalho de seu marido. Como se não bastasse ter sentenciado a centralidade de ser mãe na vida de todas as mulheres e explicitado o seu descontentamento com a necessidade de trabalhar, após ser estimulada pelo entrevistador acerca dos perigos do Rio Grande do Norte eleger a então senadora Fátima Bezerra (PT) ao Governo do Estado, Damares concluiu que as pautas progressistas defendidas pelos partidos de esquerda (como, por exemplo, a dita “ideologia de gênero”) representam a morte.

Como temos vivido o que parecem os tempos-de-defesa-do-óbvio (não por acaso), gostaria de abrir um parênteses aqui para esclarecer que o movimento feminista (o que Damares acusa de começar uma guerra de mulheres contra homens) nunca teve a pretensão de impedir que as mulheres pudessem ser mães, pelo contrário, gostaríamos tanto que as mães desfrutassem plenamente desta experiência que lutamos para que nenhuma de nós o seja por obrigação, mas sim por escolha; o debate acerca dos gêneros nas escolas contribui com o combate a desigualdade e a própria violência contra mulher, não há razão para que crianças não cresçam aprendendo isso; por fim, quando uma mulher decide ser mãe ou esposa, não significa que ela precise se limitar a esses papeis e, mesmo quando decidem não ser, existem um zilhão de outras possibilidades de viver a vida sendo mulher.

Como bem definiu a pesquisadora Debora Diniz, a nomeação de Damares Alves é a expressão perversa da política feita por homens. Temos alertado incessantemente às que lutam por maior representatividade feminina na política de que não basta apenas ser mulher para que os nossos direitos e interesses sejam automaticamente reconhecidos e validados, é preciso estar enraizada nas nossas lutas. Damares não só é representante da retrógrada cultura patriarcal, como também se localiza na disputa ao lado dos que querem censurar as escolas, destruir a previdência social e privatizar o patrimônio público brasileiro – retrocessos que atingem não só as mulheres, mas também toda a classe trabalhadora.

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