Leonardo Nascimento dos Santos tem 22 anos, nasceu no Rio de Janeiro, é eletricista, está desempregado e foi preso dia 16 de janeiro acusado de assassinato.
Na versão oficial da polícia divulgada pela imprensa nesta quarta-feira (23), o jovem foi confundido com o verdadeiro autor do crime, Yuri Gladstone Guimarães, que assumiu a culpa na terça-feira e ainda acusou um comparsa. Quatro testemunhas haviam reconhecido Leonardo como o criminoso. Além de terem nascido no Rio, Leonardo e Yuri têm uma característica em comum: são negros.
Durante o reconhecimento, Leonardo foi colocado ao lado de um suspeito branco e outro pardo. Era o único negro a ser reconhecido, criticou a advogada da família.
Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, o pai de Leonardo disse que o filho havia sido preso “porque era escuro”. Ele mobilizou parentes, amigos, a mídia e foi para a porta do presídio onde o Leonardo foi encarcerado para reivindicar a inocência dele.
A outra vítima desta história é Matheus Lessa, que morreu ao se colocar na linha de tiro para proteger a mãe durante um assalto a um mercadinho. Formado recentemente em Psicologia, se preparava para a festa de conclusão do curso.
A defesa de Leonardo conseguiu vídeos de câmeras de monitoramento de um condomínio que comprovaram que o jovem estava perto de casa no dia e na hora do crime.
Para piorar, a advogada afirmou ainda que Leonardo foi vítima de fake news e teve fotos espalhadas pelas redes sociais o divulgando como o autor do homicídio.
A história de Leonardo dos Santos remete a outro caso de injustiça recente no país, a do morador de rua Rafael Braga, preso em meio aos protestos de junho de 2013 sob a acusação de portar “artefato explosivo ou incendiário”.
No momento em que foi preso, a polícia encontrou com ele apenas uma garrafa de água sanitária e outra de desinfetante Pinho Sol. Usuário de crack, Braga chegou a ser processado por tráfico de drogas, mas foi absolvido em novembro do ano passado.
Em 2014, a ONU reconheceu o racismo no Brasil como “estrutural e institucionalizado” que “permeia todas as áreas da vida”. No documento sobre a discriminação racial no país, os peritos concluíram que o “mito da democracia racial” ainda existe na sociedade brasileira e que parte substancial dela ainda “nega a existência do racismo”.
“Uma das grandes preocupações é a violência da polícia contra jovens afro-brasileiros. A polícia é a responsável por manter a segurança pública. Mas o racismo institucional, discriminação e uma cultura da violência levam a práticas de um perfil racial, tortura, chantagem, extorsão e humilhação em especial contra afro-brasileiros”, disse .
Leonardo e Rafael são inocentes, duas vítimas do racismo estrutural no Brasil.