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Não existe poesia maior que a dos encontros, reflete o poeta, ator e ativista Thiago Medeiros, 29 anos. Para ele, é no abraço e no afeto que a vida, mal ou bem, acontece. À frente do coletivo Insurgências Poéticas, Thiago faz valer a lição de Ferreira Gullar, para quem a arte só existe porque a vida não basta.
O projeto que começou como um sarau de poemas autorais e completa três anos em 2019 ocupando espaços da cidade e se reinventando a cada edição é uma demonstração de força e resistência. Os encontros com poesia, exposições, dança, performance e música são financiados integralmente pelo público e acontecem geralmente às quartas-feiras, no Bardallos, embora o grupo venha recebendo convites para levar o trabalho a outros espaços.
Além de Thiago Medeiros, o coletivo conta com Álvaro Dantas, Felipe Nunes, Marina Rabelo, Raquel Lucena, Rozeane Oliveira e Ricardo Nelson:
- Tudo o que eu sempre quis fazer com o teatro e nunca consegui estou fazendo com o Insurgências, que é sair por aí, lendo poesia. A coisa que eu mais gosto de fazer na vida é isso”, diz Thiago.
O Insurgências Poéticas acompanha as transformações da vida, destaca o poeta. E reconhece que a própria poesia dos artistas engajados no projeto mudou:
- Insurgência é se rebelar contra alguma coisa. O projeto mudou muito porque o mundo mudou, o Brasil mudou. A gente começou lá em 2016 como um sarau de poemas nossas porque o povo aqui só queria recitar Paulo Leminsk, era um abuso. E nos encorajaram a fazer poesia sobre o momento, que não era nossa praia. Falávamos de dor, de amor. E agora falamos das pautas de hoje, das mulheres, é uma nova produção de escrita”, diz.
O tempo de vida do projeto Insurgências Poéticas dá uma dimensão do tamanho do caos pelo qual atravessa o país. Nos últimos três anos, o Brasil teve três presidentes da República. Quando o empresário e produtor musical Lula Belmont abriu as portas do Bardallos para os insurgentes em 2016, o país era comandado pela ex-presidenta Dilma Rousseff, passou pelo golpe de Michel Temer e, por enquanto, segue desgovernado por Jair Bolsonaro.
Thiago ri da coincidência de que não havia se dado conta e ressalta que, além de um espaço para mostrar novos trabalhos, o Insurgências Poéticas também tem a função de conectar o público e provocar debates:
- Sempre quis que o Insurgências fosse um espaço para conversar sobre direitos humanos, poesia, para retroalimentar a resistência. A gente luta pela democracia, pela igualdade como um todo.
Em três anos, foram mais de 200 apresentações e aproximadamente 300 artistas convidados. Embora o Bardallos seja o quartel general do coletivo, os Insurgentes já levaram o projeto para outras casas e espaços da cidade e também para fora do Estado, como o convite que receberam para se apresentar no Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza.
De todas as edições, Thiago destaca a que homenageou o jornalista e escritor Paulo Augusto, autor do livro “Falo”, uma referência da literatura homoafetiva:
- Uma das coisas boas do projeto é que homenageados artistas incríveis que ainda não estão produzindo e isso potencializa essas pessoas que ainda não fazendo coisas. Uma das edições mais emocionantes foi com o Paulo Augusto. “Falo” é um dos livros mais importantes do mundo na literatura homoafetiva”, destacou.
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Thiago Medeiros em ação numa das edições do Insurgências Poéticas[/caption]
