OPINIÃO

Brasil 2019: Um “pupurri” de emoções sem final previsível

Como era de se prever, neste ano de 2019, de tédio não morreremos. Apesar do Governo Bolsonaro planejar quase diariamente maneiras outras de nos matar a todos. Mas, parece fato que a expectativa com o Governo do “mito” não se concretizou por completo. Imaginávamos um governo de Extrema-Direita com viés liberal, políticas de retiradas de direitos, um certo ar autoritário e sisudez. Bem, os dois primeiros itens, estão presentes, embora realizadas de maneira trôpega. Já o ar autoritário e sisudez deram lugar a ministros trapalhões, idiotas ou alucinados, momentos de esquete de humor e uma total inaptidão ao cargo de Bolsonaro até mesmo para articular duas frases de bom dia.

De qualquer forma, sabíamos que um Governo Bolsonaro seria um pupurri de emoções. A mistura de “manter o palanque de campanha” com desqualificação pura e simples vem rendendo, como dito acima, momentos bizarros e/ou hilários. Mas, as muitas emoções, como diria Roberto Carlos, vêm da pauta de desmontes a cargo da área mais técnica, digamos, e das surpresas como a matéria do The Intercept sobre as relações nada republicanas entre o então juiz hoje ministro Sérgio Moro e o Ministério Público/procuradores da Lava Jato. 

Em relação à equipe de desmonte do Estado, encabeçada por Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni, ela, felizmente esbarra na arrogância e articulação destes senhores, agravada pelo fogo amigo do PSL, que se tornou uma rinha de animais de briga. Claro que ainda há risco – e até grande – da Reforma da Previdência versão destruição total ser aprovada, mas, chance menor do que há meses atrás e que se esfarela a cada recuo ou trapalhada do Governo, o que acontece, digamos, diariamente.

Sobre a reportagem do portal The Intercept, comandando pelo jornalista americano radicado no Brasil Glenn Greenwald, essa foi a surpresa da semana dentro do pupurri de emoções, mas, que na verdade, provem de uma série de “telhados de vidro” apresentados por membros do Governo. Como Sérgio Moro, alvo e perdedor maior das matérias de sua repercussão.

A reportagem inicial, que deu início a uma sequência, mostra, como já é supra conhecido, que Moro, então juiz e o Ministério Público responsável pela Operação Lava a Jato, com o procurador Deltan Dallagnol à frente, trocavam mensagens onde planejavam estratégias de acusação e operacionalidade do processo de Lula, inclusive influindo na eleição presidencial ao tramarem a não-realização e divulgação de entrevista com Lula já preso em Curitiba.

Coisa grave, claro. Que já começou a ter desdobramentos. Associações juízes e magistrados e a OAB já sugeriram renúncia ou afastamento de Moro do ministério e boa parte da imprensa repercutiu o material, incluindo aí um editorial do Estadão (veículo da Fiesp e da elite econômica paulista) pedindo a renúncia do ministro. Não é pouca coisa.

Com o somatório de desgaste que Moro e por extensão Bolsonaro (o beneficiado com as estratégias, já que foi eleito porque Lula foi preso e silenciado) sofrerão e a publicação de mais material sobre as mensagens, é de se prever que teremos este resto de semana e as demais ricas em tensões e emoções. De quebra, teremos também as alucinações dos ministros para dar um ar de comédia non-sense a tudo isso e o próprio presidente atrapalhado com as palavras, os gestos, às voltas com o Twitter e sua absoluta capacidade de se entender como presidente de um pais do tamanho do Brasil.

Emoção não faltar nestes dias. Lexotan, nas farmácias de Brasilia e Curitiba, talvez. Mas, para a gente que está na arquibancada, basta a pipoca e a leve sensação de que o mundo, apesar dos terraplanistas, como brincou o jornalista Leonardo Sakamoto, dá voltas. 

 

 

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