Privatização da BR Distribuidora consolida desmonte da Petrobras
Natal, RN 29 de mar 2024

Privatização da BR Distribuidora consolida desmonte da Petrobras

24 de julho de 2019
Privatização da BR Distribuidora consolida desmonte da Petrobras

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A subsidiária de postos de combustíveis BR Distribuidora foi privatizada, em mais uma medida de desmonte da Petrobrás pelo governo federal. A petrolífera, que detinha 71,25% das ações, vendeu 35% por R$ 9,6 bilhões. Agora, a distribuidora possui mais capital privado que estatal.

William Nozaki, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), avalia que a perda do controle acionário da BR tem impacto simbólico e material.

A subsidiária é uma peça fundamental para a distribuição de combustíveis e permitia que a Petrobras atuasse de maneira integrada em toda a cadeia produtiva de óleo e gás. Por isso, a venda representa também o desmantelamento da marca que consolidou o símbolo da Petrobras no imaginário popular.

“O desmonte desse elo é o desmonte de uma empresa petrolífera que atuava desde a produção até a relação com o consumidor final”, explica.

Com a concretização do negócio, segundo o pesquisador, outros atores passam a se inserir na cadeia produtiva da Petrobras. O próximo passo na estratégia de desmonte, para Nozaki, é a venda de refinarias.

“Muito provavelmente as empresas que entrarem nesse segmento vão também se colocar no mercado de distribuição e revenda. Essa estratégia de perda de controle da Petrobras pode acelerar esse processo”, analisa.

Nozaki ressalta que a venda faz parte de uma estratégia em curso desde o governo Temer (MDB), que pretende transformar a Petrobras em uma empresa APENAS exploradora e produtora de petróleo no mar. Isso vem acontecendo por meio da retirada da estatal de outros segmentos, para que eles sejam abertos para atores privados e internacionais. Estes, então, passam a se apropriar dos ganhos propiciados pelos avanços do mercado petrolífero brasileiro desde a descoberta do pré-sal.

Com o desmonte da estrutura integrada da Petrobras, a soberania do país também é impactada. “Ao desmontar um pedaço da Petrobras que estabelece relação direta com o consumidor final, ela perde força de mercado e capacidade de atuação na gestão da segurança energética nacional. É mais uma iniciativa que vai na contramão da construção de um projeto de desenvolvimento de nação”, afirma o pesquisador.

Até 2017, a petrolífera detinha 100% das ações da BR, o que a tornava completamente estatal. A subsidiária tem uma rede de 7.703 postos de gasolina e 95 unidades operacionais, e estava presente em 99 aeroportos.

Em artigo publicado no jornal O Globo, o senador do Rio Grande do Norte e vice-presidente da Frente Jean-Paul Prates criticou o desmonte da Petrobras:

- De forma dissimulada, o governo federal promove uma intervenção direta na Petrobras. Sob alegação de tornar o mercado mais competitivo, ativos da estatal estão sendo negociados. Parece haver um esvaziamento deliberado da empresa, sem apontar uma estratégia que justifique tal objetivo. A lógica é a de vender subsidiárias para fazer caixa. Mas, inexplicavelmente, o Palácio do Planalto parece não enxergar que está se desfazendo de um patrimônio estratégico para a economia brasileira. Pior do que a insensibilidade do governo é perceber que a indústria, a mineração, os exportadores e o agronegócio, entre outros, estão aceitando calados o desmantelamento do setor de gás. Quem acredita que a venda de 90% da Transportadora Associada de Gás (TAG), por exemplo, vai abaixar as tarifas e, consequentemente, o preço do gás natural? Não parece crível que uma empresa pague US$ 8 bilhões para comprar uma rede de gasodutos e não busque recuperar o investimento feito aumentando tarifas", diz um trecho do artigo.

Ex-candidato à presidência da República pelo PSOL, Guilherme Boulos comparou os valores de venda da privatização da Petrobras com a negociação do hotel Copacabana Palace:

*Com informações do Brasil de Fato

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