A subsidiária de postos de combustíveis BR Distribuidora foi privatizada, em mais uma medida de desmonte da Petrobrás pelo governo federal. A petrolífera, que detinha 71,25% das ações, vendeu 35% por R$ 9,6 bilhões. Agora, a distribuidora possui mais capital privado que estatal.
William Nozaki, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), avalia que a perda do controle acionário da BR tem impacto simbólico e material.
A subsidiária é uma peça fundamental para a distribuição de combustíveis e permitia que a Petrobras atuasse de maneira integrada em toda a cadeia produtiva de óleo e gás. Por isso, a venda representa também o desmantelamento da marca que consolidou o símbolo da Petrobras no imaginário popular.
“O desmonte desse elo é o desmonte de uma empresa petrolífera que atuava desde a produção até a relação com o consumidor final”, explica.
Com a concretização do negócio, segundo o pesquisador, outros atores passam a se inserir na cadeia produtiva da Petrobras. O próximo passo na estratégia de desmonte, para Nozaki, é a venda de refinarias.
“Muito provavelmente as empresas que entrarem nesse segmento vão também se colocar no mercado de distribuição e revenda. Essa estratégia de perda de controle da Petrobras pode acelerar esse processo”, analisa.
Nozaki ressalta que a venda faz parte de uma estratégia em curso desde o governo Temer (MDB), que pretende transformar a Petrobras em uma empresa APENAS exploradora e produtora de petróleo no mar. Isso vem acontecendo por meio da retirada da estatal de outros segmentos, para que eles sejam abertos para atores privados e internacionais. Estes, então, passam a se apropriar dos ganhos propiciados pelos avanços do mercado petrolífero brasileiro desde a descoberta do pré-sal.
Com o desmonte da estrutura integrada da Petrobras, a soberania do país também é impactada. “Ao desmontar um pedaço da Petrobras que estabelece relação direta com o consumidor final, ela perde força de mercado e capacidade de atuação na gestão da segurança energética nacional. É mais uma iniciativa que vai na contramão da construção de um projeto de desenvolvimento de nação”, afirma o pesquisador.
Até 2017, a petrolífera detinha 100% das ações da BR, o que a tornava completamente estatal. A subsidiária tem uma rede de 7.703 postos de gasolina e 95 unidades operacionais, e estava presente em 99 aeroportos.
Em artigo publicado no jornal O Globo, o senador do Rio Grande do Norte e vice-presidente da Frente Jean-Paul Prates criticou o desmonte da Petrobras:
- De forma dissimulada, o governo federal promove uma intervenção direta na Petrobras. Sob alegação de tornar o mercado mais competitivo, ativos da estatal estão sendo negociados. Parece haver um esvaziamento deliberado da empresa, sem apontar uma estratégia que justifique tal objetivo. A lógica é a de vender subsidiárias para fazer caixa. Mas, inexplicavelmente, o Palácio do Planalto parece não enxergar que está se desfazendo de um patrimônio estratégico para a economia brasileira. Pior do que a insensibilidade do governo é perceber que a indústria, a mineração, os exportadores e o agronegócio, entre outros, estão aceitando calados o desmantelamento do setor de gás. Quem acredita que a venda de 90% da Transportadora Associada de Gás (TAG), por exemplo, vai abaixar as tarifas e, consequentemente, o preço do gás natural? Não parece crível que uma empresa pague US$ 8 bilhões para comprar uma rede de gasodutos e não busque recuperar o investimento feito aumentando tarifas", diz um trecho do artigo.
Ex-candidato à presidência da República pelo PSOL, Guilherme Boulos comparou os valores de venda da privatização da Petrobras com a negociação do hotel Copacabana Palace:
*Com informações do Brasil de Fato