Marcha das Margaridas: um grito em favor da diversidade e da luta no campo
Natal, RN 28 de mar 2024

Marcha das Margaridas: um grito em favor da diversidade e da luta no campo

14 de agosto de 2019
Marcha das Margaridas: um grito em favor da diversidade e da luta no campo

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Por Cláudia Motta, da Rede Brasil Atual

“Olha Brasília, está florida. Estão chegando as decididas”, cantaram as vozes de milhares de Margaridas reunidas nesta quarta-feira, na capital federal. A Marcha das Margaridas ocupa as ruas de terça-feira (13).

Durante cerca de 4 quilômetros entre o parque e a Praça dos Três Poderes, as decididas Margaridas emprestam sua graça e sua raça aos cartões postais de Niemeyer. Uma jornada e tanto. O tema deste ano dá a dimensão dos desafios: “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”.

Começou com uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem a essa diversidade de lutadoras do campo, da floresta, das águas, indígenas, quilombolas. Jovens que fazem sua primeira marcha unidas a participantes de todas as edições, desde o ano 2000.

Margaridas a Lula: Jamais conseguirão deter a chegada da primavera

Encontraram-se com indígenas, com estudantes, educadores e trabalhadores e fizeram de Brasília a capital das manifestações do 13 de agosto, o terceiro tsunami da educação e em defesa dos direitos e aposentadorias. E encerraram a noite desta terça num ato cultural onde foi lançado o Festival da Juventude, que começa a ser preparado para ocorrer em 2020.

As marchas das Margaridas, em sua sexta edição, e das Mulheres Indígenas, em sua primeira, se encontram por volta das 9h e seguem a caminhada para o grande ato final diante do Congresso Nacional.

O ato contou com a presença do ex-candidato petista à presidência da República, Fernando Haddad, que fez a leitura de uma carta do ex-presidente Lula à Marcha das Margaridas – em resposta a uma carta enviada a ele, terça-feira, pelas mulheres da Marcha.

Força de gerações

Josefa Rita da Silva, a Zefinha, tem 73 anos de idade e participou de todas as seis edições da Marcha das Margaridas. Com a vida dedicada à luta por direitos, já perdeu as contas de quando começou a atuar no movimento sindical.  Hoje agricultora familiar aposentada, diz que a primeira Marcha foi a mais difícil em função da repressão, mas também foi a que teve mais força e empenho das participantes. E deve ser exemplo para o ano de 2019.

“A primeira Marcha é o espelho que precisamos ter nessa. Precisamos chamar o povo para o enfrentamento no Brasil, os nossos direitos estão descendo no esgoto. Estão cortando no mais pobre, que é o trabalhador rural.” Sem rodeios, Zefinha manda um recado às mulheres do país: “Não esmoreça, não desista. Enfrente o desafio com coragem porque nem Cristo morreu de braços cruzados. É melhor morrer na luta do que morrer de fome”.

Bem mais nova que Zefinha, a secretária de Juventude da Contag, Mônica Bufon Augusto, de 28 anos, destaca a grande presença de mulheres jovens na Marcha, dispostas a permanecer no campo, mas com qualidade de vida. “A juventude tá em massa aqui na Marcha, principalmente nesse momento tão desafiador pelo qual estamos passando, com a grande retirada de direitos da classe trabalhadora, que vem afetando muito a juventude.”

Mônica se mostra preocupada com o futuro dos jovens no campo, se não houver políticas que incentivem a permanência e possibilitem uma vida digna. “Se não conseguirmos política públicas para manter a juventude no campo, com  a perspectiva de que o campo é um lugar de vida, daqui 20 ou 30 anos podemos ter um campo muito esvaziado.”

A luta pela permanência no campo une a jovem Mônica Bufon e Helena Gomes da Silva, de 49 anos, oriunda da cidade de Esperantina, no Piauí. Coordenadora do movimento interestadual das quebradeiras de coco babaçu, ela traz à Marcha a denúncia da destruição do seu território, atingido pela contaminação das nascentes de água, o desmatamento, a destruição causada por plantações de eucalipto e a expulsão de famílias.

“Não podemos deixar nosso território ser destruído. Queremos nosso babaçu livre, não queremos ser presas, queremos a liberdade das mulheres, que são independentes, que vivem pela sobrevivência dos seus filhos e netos. Estamos aqui dizendo, para o Brasil e o mundo, que a gente existe e quer resistir. O movimento das quebradeiras resiste a tudo isso. Enquanto a gente estiver no nosso território, queremos nascer, viver, parir e morrer pelo futuro dos nossos filhos e netos.

Carta

Fernando Haddad leu a carta das ativistas endereçada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

“Alimentamos a esperança de que sua liberdade está próxima e lutaremos para que ela venha muito em breve. Sabemos que essa condenação e prisão injusta é uma vingança da elite brasileira contra o presidente que mais fez melhorar a qualidade de vida das pessoas pobres e transformou o Brasil em um país importante no cenário mundial.

A carta diz ainda que as Margaridas estarão “nas ruas por sua liberdade e legado, Lula, afinal, como você mesmo nos falou: ‘eles jamais conseguirão deter a chegada da primavera'”.

Em sua fala, Haddad endossou a carta. “Enquanto aqueles que detêm o poder e quem dá apoio para quem detém o poder estão pedindo para fecharem as instituições, nós, democratas, estamos pedindo uma coisa muito mais básica: justiça para Luiz Inácio Lula da Silva”, disse.

Em resposta, o ex-presidente diz ter ficado “muito feliz” com a mensagem e lamentou não poder estar presente. “Queria estar com vocês mais uma vez na marcha. Será que outros presidentes que não os do PT marcharam com as mulheres do campo? Mas mesmo que eles coloquem paredes para me impedir de estar aí fisicamente, continuamos juntos, lado a lado, nessa marcha”, escreveu.

Lula deixou uma mensagem de esperança para as integrantes da Marcha.

“Esse momento difícil de hoje passará. Ele não é fim da nossa caminhada. Ele é apenas uma pausa na construção do Brasil que queremos: justo, com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência. O povo brasileiro voltará a ser tratado com o respeito que merece. As mulheres da nossa terra voltarão a ter o respeito e carinho que merecem. O ódio não vencerá o amor. O medo não vencerá a esperança. A grosseria não vencerá a solidariedade.”

Confira abaixo a íntegra da resposta de Lula.

“Queridas Margaridas,

Fiquei muito feliz em receber a carta de vocês, e saber que a Marcha das Margaridas segue forte, na luta por mais direitos e um Brasil mais justo para as mulheres do campo, das florestas e das águas.

Estávamos começando a construir um país melhor, com inclusão social, um país filho da democracia, da liberdade de pensar, de falar, de se organizar e escolher seus governantes. Um país onde nenhuma mãe teria o sofrimento de não ter o que dar para o seu filho comer. Onde a energia elétrica chegue em todas as casas. Onde quem quer trabalhar no campo tenha terra para plantar, apoio para a colheita e a venda dos frutos do seu trabalho. Onde as famílias tenham casa própria. Onde os jovens tenham oportunidade de estudar, de fazer uma faculdade ou um curso técnico. Onde as pessoas tenham oportunidade de emprego e vida digna. Onde as mulheres estejam protegidas da violência doméstica pela Lei Maria da Penha. Onde as pessoas possam sorrir.

Para cada objetivo desse, da dignidade que nossa Constituição promete ao nosso povo, criamos programas sociais, políticas públicas, ouvindo a população, movimentos sociais e especialistas. Bolsa Família, Luz para Todos, Minha Casa Minha Vida, Reforma Agrária, Cisternas, Programa de Aquisição de Alimentos, apoio para cooperativas agrícolas e de extrativismo, Prouni e FIES, Brasil Sorridente, valorização do salário mínimo. Todos no mesmo sentido e objetivo: cuidar e promover a dignidade do povo brasileiro, nossa soberania, solidariedade, dignidade e independência.

Simples, não? Mas cuidar de quem precisa parece que incomoda certas pessoas.

Procuramos governar com a generosidade de uma mãe, que cuida de todos, protegendo os mais fracos. Agora o Brasil é governado pelo ódio e loucura daqueles que falam fino para os poderosos, mas fingem-se de valentes contra os indefesos.

Por isso mesmo eu quero muito cumprimentar a coragem verdadeira dessa marcha que leva as mulheres do campo para verem e serem vistas pelos poderosos de Brasília. Olhem bem para eles. E que eles enxerguem o povo da nossa terra a quem devem respeito, para quem deviam trabalhar e proteger a nossa soberania.

Queria estar com vocês mais uma vez na marcha. Será que outros presidentes que não os do PT marcharam com as mulheres do campo? Mas mesmo que eles coloquem paredes para me impedir de estar aí fisicamente, continuamos juntos, lado a lado, nessa marcha.

Esse momento difícil de hoje passará. Ele não é fim da nossa caminhada. Ele é apenas uma pausa na construção do Brasil que queremos: justo, com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência.

O povo brasileiro voltará a ser tratado com o respeito que merece. As mulheres da nossa terra voltarão a ter o respeito e carinho que merecem. O ódio não vencerá o amor. O medo não vencerá a esperança. A grosseria não vencerá a solidariedade.

Obrigado pelo abraço, pelo carinho. Sigamos em frente, sem medo de sermos felizes. As margaridas chegaram e eles não tem como deter a primavera.

 Viva as Margaridas!
Viva o Brasil!
Viva o Povo Brasileiro!

Luiz Inácio Lula da Silva”

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