“Nenhuma noite de terror pode afastar o dia”
Natal, RN 19 de abr 2024

"Nenhuma noite de terror pode afastar o dia"

25 de agosto de 2019

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Desde o primeiro semestre desse ano já apontávamos o governo Bolsonaro como o mais predatório ao meio ambiente na história da nossa república. À época, denunciamos o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA), a liberação de mais de 150 agrotóxicos (que hoje já são quase 300) e a negação do aquecimento global. Bem como o bloqueio de 95% do orçamento destinado a pesquisas e ações relacionadas às mudanças climáticas do MMA que levaram especialistas que atuaram nos governos Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff a lançar um manifesto acusando o atual ministro, Ricardo Salles, de desmonte da política ambiental que foi sendo construída nos últimos 40 anos.

Hoje, mais uma vez, viemos falar de retrocessos ambientais, as canetadas irresponsáveis do presidente que se concretizam em fogo nas nossas florestas. É impossível falar do aumento da destruição da Amazônia e não citar a desastrosa atuação do presidente. Segundo as medições do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), as queimadas no Brasil se expandem em ritmo recorde, tendo o número de focos acrescido em 82% este ano na comparação com 2018.

Em janeiro do ano passado, o Papa Francisco proferiu um discurso em Puerto Maldonado (Peru) ressaltando que o que a humanidade precisava era de uma ecologia integral, que não separasse ser humano e natureza, isso exige um novo conceito de desenvolvimento, no qual a prioridade seja condições dignas de vida. Para nós que nos entendemos enquanto seres interdependentes e ecodependentes – ou seja que não existimos de forma independente uns aos outros e também à natureza – é crucial defender a sociobiodiversidade e lutar contra o desmonte das políticas públicas, dentre elas as políticas ambientais.

A exemplo do que fizeram as Margaridas, mulheres do campo, das águas e das florestas de todo o Brasil, que marcharam em Brasília nesse mês de agosto, precisamos articular nossa resistência no campo e na cidade. É preciso resistir ao agronegócio que avança sem regulamentação destruindo florestas e poluindo rios, às madeireiras e grandes mineradoras que invadem terras indígenas e quilombolas ceifando vidas e bens naturais por onde passam.

Aqui no Nordeste nós sabemos bem: atualmente as queimadas se concentram na Bahia, Piauí e Maranhão, estados que fazem parte do Matopiba, considerada a nova fronteira agrícola de expansão do agronegócio. Na região, não chove há 2 meses e as temperaturas alcançam 35º C, causando um forte processo de desertificação. Mas tanto no Nordeste quanto na Amazônia há um povo que vive e resiste na defesa do bem comum.

A chancela do presidente e de seu ministro do meio ambiente a essas atrocidades tentando culpar a mídia, as ONGs, os governos dos estados envolvidos não nos farão recuar. Não se trata de um homem em uma bicicleta ateando fogo na Amazônia, como disse Bolsonaro. Continuaremos a defender os direitos humanos, bem como da natureza, resistiremos aos megaprojetos que causam morte; e lutaremos por um modelo econômico pautado na sustentabilidade da vida, que seja solidário, agroecológico e sintonizado com os saberes tradicionais e ecossistemas da Amazônia.

Por fim, termino resgatando uma frase que a querida companheira e militante da Marcha Mundial das Mulheres de São Paulo, Miriam Nobre, afirmou sobre a trágica tarde de 19 de agosto em que o céu escureceu em plena tarde: “Nenhuma noite de terror pode afastar o dia”.

As mais quentes do dia

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.