Enquanto a presidência da Assembleia Legislativa finge que não vê, o deputado bolsonarista do PSC, coronel Azevedo, segue sua escalada de ataques misóginos e machistas contra seu alvo preferido: a deputada estadual Isolda Dantas (PT).
Durante as sessões da Casa é comum ver o parlamentar se referir à colega com termos jocosos, tentando desestabilizar, na base das ironias e do sarcasmos, a defesa que a petista faz de projetos do mandato e também de ações e iniciativas do Governo do Estado.
Nesta quarta-feira (30), no entanto, Azevedo passou dos limites. Chegou a dizer numa reunião da comissão de Constituição e Justiça da ALRN que Isolda ficava “excitada” com seus discursos. Isolda é a única mulher a integrar a comissão e a única parlamentar a receber tratamento tão ultrajante de Azevedo. Não há notícias de tratamento semelhante dado pelo deputado bolsonarista a nenhum colega homem na Casa.
Ao final da reunião, a parlamentar do PT recebeu solidariedade dos colegas Francisco do PT, Sandro Pimentel (PSOL) e Raimundo Fernandes (PSDB), presidente da comissão de Constituição e Justiça.
O coronel Azevedo se elegeu em 2018 pelo PSL, mas trocou rapidamente de partido, antes do primeiro ano de mandato. É hoje o presidente estadual do PSC, partido liderado nacionalmente pelo governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, que tenta pavimentar sua candidato à sucessão de Jair Bolsonaro em 2022.
Comandante geral de polícia no governo Robinson Faria, Azevedo teve uma atuação pífia durante os cinco meses em que permaneceu no cargo. Saiu “atirando” contra o ex-governador e hoje é mal visto entre militares da polícia, que o acusam nos bastidores de fazer bravatas.
Sem projetos ou ações na Casa, o coronel que louva Bolsonaro e não tira o ex-presidente Lula da cabeça tenta ganhar espaço entre os colegas atacando com machismo e misoginia uma mulher feminista que diverge dele politicamente.
Azevedo, é bom registar, não é o primeiro caso flagrante de agressão à mulheres na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Em outubro de 2018, a jornalista Juliana Celi expôs, com coragem, o tratamento agressivo e as ameaças que recebeu do deputado estadual Getúlio Rêgo (DEM) quando disse que anularia o voto para a presidência da República. Eleitor de Bolsonaro, Rêgo chamou a jornalista de “corrupta”, “mentirosa” e sugeriu que pedisse demissão do cargo caso não votassem em quem o chefe dela mandasse. O desabafo de Juliana repercutiu nacionalmente.
Tanto o caso das agressões de Getúlio Rêgo como de coronel Azevedo ocorreram na ALRN sob a presidência de Ezequiel Ferreira de Souza (PSDB), conhecido por distribuir rosas às mulheres da Casa no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.
Num Estado onde uma mulher morre a cada quatro dias assassinada e o número de medidas protetivas em razão de agressões às mulheres aumentou quase 20% em 2019, a Assembleia Legislativa dá um péssimo sinal à sociedade. Aliás, num cenário como esse, rosas e galanteios fedem apenas à política e cheiram muito mal.