Mesmo se perder, já venceu para quem ama o futebol
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Mesmo se perder, já venceu para quem ama o futebol

23 de novembro de 2019
Mesmo se perder, já venceu para quem ama o futebol

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O Flamengo já ganhou. Não estou falando do jogo final da Libertadores (como é possível não falar nessa partida? Claro que vou falar). Para quem vinha, ano após ano, batendo na trave, vendo o tal cheirinho se dissipar e agora, ver que prestou uma contribuição ao futebol brasileiro, é uma vitória sim. Sob o comando do português Jorge Jesus, carismático, irascível e autêntico, o time proporcionou a sua torcida atuações memoráveis. Goleadas inesperadas, padrão de jogo, mais vontade de vencer foram a tônica da formação liderada por Everton Ribeiro, Giorgian De Arrascaeta, Gabriel Barbosa e Bruno Henrique, este pra mim o melhor da equipe.

Ganhar do River, se acontecer, será sensacional. O tal jogo dos detalhes está à nossa frente. Não custa sonhar. Não custa sorrir. Tampouco, cantar hinos e refrões. Isto não é soberba. É a “alegria de ser rubro-negro”, tão cantada pelos adeptos (já estou usando termo do futebol português, pronto) nos fins da década de 1970 e anos iniciais da de 1980. Lamentei não poder ir a Lima, ver o coroamento de um trabalho. Sim, coroamento. Chegar a uma final de Libertadores não é para todo mundo. E a gente esperou 38 anos.

Por falar em tempos pretéritos, lembro de vibrar em muitos domingos com o show que Zico, Adílio, Andrade e toda trupe nos brindava nos jogos de fim de tarde. Nasci em uma família de flamenguistas. Meu pai, irmão, mãe. Só o mais velho era Botafogo. Sempre fazendo guerra e tentando secar o time da gente. E de repente, Zico aparecia na área. E gol. De cabeça, de fora da área, de falta. Ah, suas faltas eram mortais. Teve até jogador adversário se virando para o gol para não perder a chance de ver a bola fazer “chuá”.

Fui mal acostumado, vi o Mengo conquistar o Brasil, a América do Sul e o Mundo. Em 13 dezembro de 1981, a Globo mostrava na sessão “Primeira Exibição”, o filme As Sandálias do Pescador, com Anthony Quinn. Logo depois, viria o cortejo com a máquina do Liverpool, time que venceu várias Champions, entre 1977 e 1984. Na época era a Taça dos Clubes Campeões da Europa. Dalglish e Souness desfilavam categoria no meio e no ataque dos Reds. Chegou ao Japão, com moral, vencendo o Cobreloa do Chile em dois dos três jogos das finais da Libertadores, com um 2 a 0, no Centenário de Montevideu, 20 dias antes.

O mais querido do Brasil de junho para cá passou a vencer como fazia antes. Sem medo de jogar bola, com um brilho raro que só o faz ser superado pela máquina capitaneada pelo Galinho de Quintino. Quebrou tabus, bateu recordes e granjeou até a simpatia de adversários. Uniu as crônicas carioca e paulista no reconhecimento a uma campanha épica, tanto no Brasileirão (que já ganhou) como no principal torneio de clubes do futebol sul americano.

Gallardo e os jogadores do River são de excelente nível. Podem vencer, claro. Não há favoritismo a sobrar para nenhum dos lados. Mas será o duelo entre a magia e a raça, o samba e o tango – ou seria do funk versus cumbia? – de um clube que já conquistou a América quatro vezes contra outro que encantou o mundo em 1981. O Flamengo de hoje nos encanta e acho até que se não ganhar a final, ficará faltando uma peça neste tabuleiro. Mas o que o Mengo fez e está fazendo em 2019, o faz ser vencedor. Pois não será esquecido por muito tempo.

Já ia esquecendo meu palpite. Flamengo 2 x 1 River.

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