‘Olavo de Carvalho é um vigarista profissional’, diz ex-ministro bolsonarista em CPMI das fake news
Natal, RN 23 de abr 2024

'Olavo de Carvalho é um vigarista profissional', diz ex-ministro bolsonarista em CPMI das fake news

27 de novembro de 2019
'Olavo de Carvalho é um vigarista profissional', diz ex-ministro bolsonarista em CPMI das fake news

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Convidado para mais uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito Misto que investiga o uso das das Fake News na campanha de 2018, o ex-ministro do governo Bolsonaro, general Santos Cruz, criticou o guru bolsonarista Olavo de Carvalho, a quem  classificou como "vigarista profissional". Realizada na terça-feira (26), a CPMI convidou o general para esclarecer sobre a atuação de grupos e conteúdos dispersados em redes sociais. A deputada federal Natália Bonavides (PT/RN) chegou a questionar Santos Cruz sobre as milícias digitais que favoreceram a ala bolsonarista, das quais o próprio general foi alvo após criticar algumas decisões do governo de Jair Bolsonaro , que o demitiu do cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência em junho.

Em um momento da sessão, Santos Cruz chegou a comentar que nunca leu a obra de Olavo de Carvalho, conhecido como o guru da extrema-direita aliada ao presidente da República. "Acho que ele não tem padrão nem para se expressar. Pode ser que tenha até algumas ideias boas para o público dele em termos políticos. Mas o comportamento é um comportamento de vigarista. É um vigarista profissional que conseguiu influência em cima de algumas personalidades", denunciou o general.

Estando à frente da Secretaria de Governo até o dia 13 de junho, quando foi demitido, Santos Cruz chegou a ser mencionado por Alexandre Frota em outra sessão da CPMI. Na ocasião, o deputado federal pelo PSDB lembrou que, dias antes de deixar o governo, o general sofreu mais de três mil ataques nas redes sociais. Segundo Frota, os comentários foram orientados por Olavo de Carvalho, desafeto de Santos Cruz após o ex-ministro ter criticado a postura do presidente em relação à destinação das verbas de comunicação do Governo, ao dizer que a decisão deveria seguir critérios técnicos para distribuição dos repasses.

O clima que antecedeu a demissão se acirrou em maio deste ano, quando em uma das publicações feitas pelas redes sociais Olavo de Carvalho chamou Santos Cruz de “politiqueiro e fofoqueiro de merda”.  De acordo com Frota, o guru "planejou o ataque [ao general Santos Cruz] como representante simbólico do poder militar próximo ao presidente. Aquele charlatão místico procurou destruir os símbolos do Exército Brasileiro, ao qual o general serviu por tantos anos e com tanta honra", afirmou.

Santos Cruz chegou a ser questionado sobre a interferência dos filhos de Jair Bolsonaro no Governo Federal, mas evitou críticas diretas. "Eu não vou falar de filho do presidente da República, nem como ministro e nem como cidadão. Eu tenho meu conceito sobre cada um deles. Tenho meu conceito sobre o próprio presidente. Mas acho completamente deselegante e, falta de educação, o ataque pessoal. Então, não vou fazer isso", pontuou.

“Gangues de rua”

Segundo o general Santos Cruz, as disputas eleitorais no Brasil sempre foram marcadas por acusações de parte a parte. Mas, ainda de acordo com ele, o advento das redes sociais criou condições para que “grupos pequenos” perpetuem um “ambiente extremamente complicado e nocivo”. Para o ex-ministro, a atuação de grupos extremistas nas redes sociais se assemelha a “gangues de rua”, que agem contra os adversários com “estardalhaço e ataques”.

"Há comportamentos semelhantes a gangues de rua: xingamentos, condutas marginais. É a tentativa de humilhação, de intimidação. Temos que separar o que é liberdade de expressão. A liberdade de expressão não significa que você pode xingar indiscriminadamente, humilhar, intimidar, destruir reputações. A liberdade de expressão com toda essa tecnologia disponível não eliminou o Código Penal. Tem condutas que podem ser criminosas? Tem, sem dúvida nenhuma. A calúnia, a difamação e a injúria continuam no Código Penal", declarou o general.

A deputada federal Natália Bonavides chegou a questionar na sessão sobre as milícias digitais e o modus operandi delas. No entanto, o general não respondeu aos questionamentos alegando não ter provas nem conhecimento para abordar o assunto. “O senhor tem ideia de qual milícia é essa? De que grupos o senhor estava falando?  O senhor fez uma análise? Era esperado que o senhor se dedicasse a entender como aconteceu, o senhor conseguiu identificar o modus operandi? ”, questionou a parlamentar.

"Essa milícia digital compõe uma organização criminosa, linchamentos públicos foram feitos, tirar essa organização das sombras é uma função dessa CPMI”, declarou Natália. (IMAGEM: Lula Marques)

Ainda na sessão, Santos Cruz afirmou que um assessor da presidência apresentou ao presidente um print no qual ele supostamente conspirava contra Jair Bolsonaro, além de reconhecer que os ataques dos quais foi vítima teve o objetivo descredibilizá-lo e derrubá-lo do seu cargo na época. De acordo com a deputada Natália Bonavides, esses fatos podem representar um indício de que os ataques contra o ex-ministro contaram com a participação de alguém do Palácio do Planalto.

“Um ministro caiu nesse contexto forjado com mentiras, isso não é qualquer coisa, não é pessoal, foi uma interferência direta. Essa milícia digital compõe uma organização criminosa, linchamentos públicos foram feitos, tirar essa organização das sombras é uma função dessa CPMI”, declarou Natália.

Demissão

O general Santos Cruz disse, ainda, que a demissão da Secretaria de Governo não deixou “ferida nenhuma”, ao afirmar que a substituição de ministros é uma prerrogativa do presidente da República. Entretanto, o general chegou a comentar que, às vezes, é possível criticar “a maneira” como uma demissão é conduzida.

"Troca de ministro ocorre em qualquer governo. É a coisa mais simples do mundo trocar um ministro. É só ter coragem moral. Chama o ministro e fala: 'Não dá para eu segurar por causa da pressão que tenho aqui'. Não tem problema nenhum. Não tem trauma nenhum. Agora, quando falta ética e começa uma coisa de baixíssimo padrão que se chama 'fritura', isso é coisa de gente covarde, desqualificada e que não sabe administrar a política e o relacionamento humano. Esse é que é o xis da questão. A 'fritura' é escória do comportamento político", concluiu.

*Com informações de Agência Senado

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