Recebo do amigo Roberto Homem duas edições d’A Mentira, o “órgão oficial do imaginário Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves”. O responsável pela brincadeira é o jornalista e chargista natalense Cláudio de Oliveira, autor também (além de uma série de livros de charges disponíveis pela Amazon) de Cláudio Hebidô, “um hebdomadário sem periodicidade definida”.
A presença do humor na imprensa, como se sabe, manifesta-se há muito tempo, desde o próprio advento da invenção de Guttenberg. A Manha e O Pasquim são exemplos clássicos que certamente todos aqui no Brasil República conhecem. No Rio Grande do Norte e em Natal não foi diferente e, se me permitem dizer, eu mesma tratei disso em livro intitulado Notícias da Jerimunlândia – a imprensa de humor em Natal (Natal, Sebo Vermelho Edições, 2017).
Porém, há uma peculiaridade a mais nas criações de Cláudio Oliveira: assim como outros casos no país, tais como Sensacionalista, Piauí Herald e Falha de São Paulo, trata-se do que alguns especialistas denominam como desnotícias.
Embora sejam típicas destes tempos “pós-verdade”, as desnotícias são um fenômeno bem distinto das chamadas fakenews, já que não há a menor pretensão de se apresentar como um relato de fatos e/ou acontecimentos verídicos. Como afirmou o pesquisador Filipo Filgueira em sua dissertação de mestrado (“Três faces das desnotícias”, Unicamp, 2019), a paródia é o recurso utilizado por excelência nesses gêneros que são menos jornalísticos do que humorísticos.
Os próprios títulos e subtítulos já demonstram explicitamente sua condição non bona fide, isto é, algo para não ser levado a sério. E embora tratem de temas e assuntos da ordem do dia, o uso de recursos diversos próprios do humor (rebaixamento, exagero cômico, estereótipos, duplo sentido etc.) nesses gêneros discursivos mostra seu evidente e maior propósito final: fazer rir.
Numa realidade política em que as figuras mandatárias mentem deslavadamente (veja-se, por exemplo, o caso do nome cotado para ocupar o cargo de Ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva, que atribuiu falsas titulações em seu currículo), é como se tais produções nos dissessem: a realidade é tão surreal e nonsense, que só mesmo pelo humor para dar conta dela. Diante de tanto absurdo real, só nos resta tirar um sarro dele.