Prefeitura contesta dados de Covid-19 em Natal, mas não disponibiliza boletim para consulta
Natal, RN 24 de abr 2024

Prefeitura contesta dados de Covid-19 em Natal, mas não disponibiliza boletim para consulta

26 de outubro de 2020
Prefeitura contesta dados de Covid-19 em Natal, mas não disponibiliza boletim para consulta

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A prefeitura de Natal contestou nesta segunda (26) os dados apresentados em uma reportagem da Agência Saiba Mais publicada na última sexta (23) com o título de “Se fosse um país, Natal teria o segundo pior índice de mortes por covid-19 no mundo”. A matéria traz dados do boletim epidemiológico da Sesap (Secretaria Estadual da Saúde Pública) divulgados no dia 21, quando Natal registrava 26.356 casos confirmados e 1.061 óbitos por covid-19. Os números apontavam que a capital do Rio Grande do Norte tinha o segundo pior índice no mundo de mortes pela doença, levando em conta a proporção de óbitos para cada milhão de habitantes. Pelo site World o Meters, que traça o ranking de casos e óbitos entre vários países, Natal só ficaria atrás de San Marino, país europeu com pior índice que teve 774 casos confirmados e 42 mortes pela doença.

Segundo a Prefeitura de Natal, a capital não possui os números apontados na matéria. De acordo com o boletim epidemiológico realizado pela equipe de Vigilância em Saúde de Natal em 22.10, a capital possuía 28.358 casos confirmados, 943 óbitos confirmados e investigados como residentes em Natal. A Secretaria de Saúde do Município (SMS) também contestou, por meio da assessoria de comunicação, que para ser mais fidedigna a análise tem que levar em conta a letalidade e não o número de óbitos em cidades com menos de 1 milhão de habitantes.

Dito isto, considerando a taxa de letalidade de Natal que corresponde a 3.2%, a capital está em uma posição confortável. O pico da pandemia, em Natal, se deu em Junho e de lá para cá são apresentados índices de queda da contaminação do Coronavírus. O motivo da queda é pelo fato de que a Prefeitura e SMS Natal têm tomado todas as medidas de combate à COVID-19 baseado em estudos e evidencias científicas”, informa a nota.

O comunicado também traz um comparativo realizado pela própria Secretaria Municipal de Saúde entre alguns países:

TAXA DE LETALIADE DE ALGUNS PAÍSES:

México: 10% de letalidade, 87.890 óbitos para 874 mil casos confirmados. 

Itália: 7,9% de letalidade, 36 mil óbitos para 465 mil casos confirmados.

Bolívia: 6% de letalidade, 8.500 óbitos para 140 mil casos confirmados.

Portando se fossemos transformar Natal em um país, como o San Marino citado na reportagem, já teríamos uma boa colocação com a letalidade de 3,2%.

Taxa de letalidade X mortalidade

As taxas de letalidade e mortalidade são usadas para calcular a probabilidade de uma doença infecciosa causar uma fatalidade. A taxa de letalidade é relativa à proporção de mortes em relação aos casos diagnosticados. Já a taxa de mortalidade é referente à proporção de mortes em relação a todos os casos de pessoas infectadas, tendo elas sido diagnosticadas ou não. Especialistas apontam que a taxa de mortalidade é mais indicada para fazer comparativos entre áreas diferentes porque acompanha a taxa real de incidência e o número de óbitos é menos sujeito aos sub-registros.

Boletim fora do ar

A Prefeitura de Natal contesta os números da Sesap, no entanto, não disponibiliza um boletim epidemiológico próprio para consulta pública. Ao entrarmos no site da Prefeitura para fazermos o comparativo entre o boletim epidemiológico da Vigilância de Natal com o da Sesap, encontramos dados e nomes aleatórios no arquivo que deveria ser o boletim.

Foto: reprodução I Site da Prefeitura de Natal aponta que há boletim disponível
Foto: reprodução I Mas ao baixar o arquivo, são exibidos apenas nomes e números aleatórios

A cidade da Ivermectina

Mesmo com toda a campanha e investimento da Prefeitura de Natal no uso da Ivermectina e cloroquina, os resultados clínicos parecem não ter tido tanto impacto quanto o marketing eleitoral. Cientistas e Organização Mundial da Saúde afirmam que não há comprovação da eficácia dos medicamentos e até a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já se posicionou contra o uso de Ivermectina de maneira sistemática para combate à Covid-19.

Mesmo assim, o médico, prefeito e candidato à reeleição na capital, Álvaro Dias (PSDB), anunciou em julho a distribuição de 1 milhão de comprimidos de Ivermectina como política pública preventiva de combate ao novo coronavírus. O município construiu dois Centros de Atendimento à Covid-19 em Natal para a distribuição de “kits” com cloroquina e Ivermectina, além de outras medicações. O primeiro Centro funciona no Ginásio Nélio Dias, na Zona Norte, e o segundo no bairro de Nossa Senhora de Nazaré, Zona Oeste da capital. A justificativa do Secretário Municipal de Saúde, George Antunes, e do próprio prefeito Álvaro Dias, é que o uso da medicação sem eficiência comprovada se justifica pelas observações feitas pelos próprios médicos que atuam na rede hospitalar do município e pelo Comitê Científico criado pela Prefeitura.

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