Eleitor brasileiro abraça a velha política tradicional nas capitais do país
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Eleitor brasileiro abraça a velha política tradicional nas capitais do país

30 de novembro de 2020
Eleitor brasileiro abraça a velha política tradicional nas capitais do país

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Das 24 capitais brasileiras onde houve eleições municipais, 19 serão comandadas a partir de 2021 por partidos da direita e da direita fisiológica que a imprensa convencionou chamar de “Centrão” no país.

Em termos percentuais, significa que em 80% das capitais, a maioria dos eleitores optou por partidos que representam a velha política tradicional.

A descrença na política, e especialmente nos políticos, somada à pandemia contribuiu para uma já esperada abstenção recorde. Quase 30% do eleitorado não foi às urnas, o maior percentual em eleições municipais da história. O recorde anterior – sem pandemia – havia sido em 2016, quando 21,6% dos eleitores também decidiu ficar em casa. No 1º turno do pleito deste ano a abstenção já estava na casa de 23%.

A eleição no Rio de Janeiro ilustra bem a desesperança do eleitorado. As abstenções foram maiores que os votos dados na urna ao prefeito eleito Eduardo Paes (DEM). Ao todo, levando em conta os votos totais, 35% dos cariocas não saíram de casa para votar em um dos dois concorrentes.

Assim como aconteceu em 2018 com Fátima Bezerra, uma só mulher foi eleita em 2020. Aliás, reeleita: Cínthia Ribeiro (PSDB) renovou o mandato em Palmas (TO). Marília Arraes (PT) e Manuela D’Ávila (PCdoB) chegaram perto, mas não levaram. Ambas criticaram a enxurrada de fake news e a misoginia dos adversários na campanha.

Os números mostram também que a maioria do eleitorado que foi às urnas preferiu manter os mesmos nomes ou projetos em curso do que apostar em mudanças. Em 13 capitais, os prefeitos foram reeleitos ou tinham o apoio da gestão atual. A oposição venceu em 11 capitais. Foi a vitória do discurso “não é hora para aventuras” ou “não troque o certo pelo duvidoso”, massificado pelos marketings de carona na pandemia.

Só o MDB vai administrar cinco das principais cidades do país. DEM e PSDB elegeram quatro prefeitos, cada. O PSD também abocanhou duas prefeituras em capitais. PP, Podemos, Avante e Republicanos venceram uma capital, cada.

 O maior partido de esquerda da América Latina sai muito ferido. Pela primeira vez, desde 1989, o PT não conseguiu eleger nenhum prefeito em nenhuma das 25 capitais onde há eleições municipais. À exceção de Brasília, onde não há disputa, Macapá suspendeu o pleito em razão do apagão.

No geral, o tombo do PT em 2020 só não foi maior que o de 2016 em comparação a 2012. Há oito anos, a sigla liderada por Lula comandava 630 cidades brasileiras, número que despencou para 256 em 2016, no auge da operação Lava-jato. O PT sai das urnas em 2020 ainda menor, com 183 prefeituras, mas proporcionalmente a redução foi mais baixa.

O fato é que, nas capitais, os partidos de centro-esquerda serão representados por PDT e PSB, ambos mais de centro e governando duas capitais; e pelo PSOL, que retorna a Belém.

Aliás, no contexto nacional, o PSOL saiu de duas prefeituras para quatro no país.

Na reta final do 2º turno, um clima de “virada” em São Paulo e Porto Alegre - em favor dos candidatos de esquerda Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’ávila (PCdoB) - chegou a inundar as redes sociais com a ajuda de pesquisas eleitorais, mas que não encontrou eco nas urnas. Bruno Covas (PSDB) confirmou o favoritismo e Sebastião Melo (MDB) derrotou a comunista.

Um detalhe que também chama a atenção é que, embora conservador, o eleitor ignorou os candidatos avalizados por Jair Bolsonaro. Tião Bocalom, prefeito eleito em Rio Branco (MDB), foi o único indicado por Bolsonaro a vencer uma capital. O delegado Pazolini (Republicanos), prefeito eleito de Vitória (ES), não recebeu apoio explícito do presidente, mas também se apresentou com a carteirinha bolsonarista.

O apoio do presidente se tornou um fardo para alguns candidatos. Um dos casos mais emblemáticos foi o do capitão Wagner (PROS), que tentou se desvincular de Bolsonaro na reta final e acabou derrotado no 2º turno em Fortaleza (CE) por José Sarto (PDT), ligado à família Ferreira Gomes.

Nessa conta ainda cabem Celso Russomano, cuja candidatura foi se desmanchando em São Paulo à medida em que Bolsonaro insistia em apoiá-lo, e o bispo Marcelo Crivella (Republicanos), derrotado por Eduardo Paes (DEM) também no 2º turno em nome do pai, do filho, do espírito e do carnaval no Rio de Janeiro.

Ao abraçar a velha política tradicional nas eleições municipais e não arriscar mudanças mais profundas na administração das capitais, o eleitorado médio brasileiro das capitais consolida seu perfil conservador e mostra que não ficou satisfeito com as “novidades” apresentadas até aqui. O discurso do “não troque o certo pelo duvidoso” também colou, no que a pandemia contribuiu.

Com os olhos voltados para 2022, a esquerda precisa pensar desde já estratégias de atuação em bloco, o que inclui organizar oposições fortes nas capitais, e intensificar os trabalhos de base nas periferias e no interior do país, onde Bolsonaro já vem atuando, especialmente na região Nordeste.

O governador de São Paulo João Dória (PSDB), o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e o empresário e apresentador de TV Luciano Huck já apontam como potenciais candidatos da velha política, com o apoio da Rede Globo, sob o verniz da novidade.

2020 já ficou para trás. É hora de lamber as feridas, entender os sinais, aprender as lições e fazer o dever de casa. 

Resultados das eleições nas capitais por partidos

Direita

MDB - 5
DEM - 4
PSDB - 4
PSD – 2
PP – 1
Podemos – 1
Avante – 1

Centro- esquerda

PDT – 2
PSB – 2
PSOL -1 

Resultado das eleições por prefeitos eleitos e regiões

Região Nordeste

Salvador – Bruno Reis (DEM) – apoiado pelo atual prefeito
Aracaju – Edvaldo Nogueira (PDT) - reeleito
Maceió – JHC (PSB) – oposição
Recife – João Campos (PSB) – apoiado pelo atual prefeito
João Pessoa – Cícero Lucena (PP) – oposição
Natal – Álvaro Dias (PSDB) - reeleito
Fortaleza – José Sarto (PDT) – apoiado pelo atual prefeito
Terezina – Dr. Pessoa (MDB) – oposição
São Luís – Eduardo Braide (Podemos) – oposição

Região Norte

Belém – Edmilson Rodrigues (PSOL) – Oposição
Manaus – David Almeida (Avante) – Oposição
Macapá - suspensa
Boa Vista – Arthur Henrique (MDB) – Reeleito
Rio Branco – Tio Bocalom (MDB) – Oposição

Região Centro-oeste

Palmas – Cinthia Ribeiro (PSDB) – Reeleita
Goiânia – Maguito Vilela (PSDB) – Oposição
Campo Grande – Marquinhos Trad (PSD) - Reeleito
Cuiabá – Emanuel Pinheiro (MDB) - Reeleito

Região Sudeste

São Paulo – Bruno Covas (PSDB) - Reeleito
Rio de Janeiro – Eduardo Paes (DEM) – Oposição
Vitória – Delegado Pazolinni (Republicanos) – Oposição
Belo Horizonte – Alexandre Kallil (PSD) - Reeleito

Região Sul

Curitiba – Rafael Greca (DEM) - Reeleito
Florianópolis – Gean Loureiro (DEM) – Reeleito
Porto Alegre – Sebastião Melo (MDB) – Oposição

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