MPF quer posição do Conselho Federal de Medicina sobre gestores e médicos que apoiam uso de medicação para covid-19 sem comprovação científica
Natal, RN 28 de mar 2024

MPF quer posição do Conselho Federal de Medicina sobre gestores e médicos que apoiam uso de medicação para covid-19 sem comprovação científica

25 de janeiro de 2021
MPF quer posição do Conselho Federal de Medicina sobre gestores e médicos que apoiam uso de medicação para covid-19 sem comprovação científica

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar
Foto: Adriano Machado I REUTERS

O Ministério Público Federal dos estados do Amazonas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe, encaminharam ofício ao Conselho Federal de Medicina (CFM) solicitando informações sobre o atual posicionamento da instituição em relação ao tratamento precoce da covid-19. Os procuradores questionam como o CFM avalia o uso e divulgação por gestores públicos de medicações sem eficácia científica comprovada para o combate à doença, como a Cloroquina, Azitromicina e Hidroxicloroquina, sem que tenha sido estabelecido um Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) que garanta ao paciente a realização de exames complementares para verificar possíveis efeitos adversos. Por enquanto, o Ministério Público Federal no Rio Grande do Norte não entrou com nenhum pedido nesse sentido.

Segundo o MPF, pelo Código de Ética Médica, o mesmo questionamento se estende aos médicos que divulgam ou apoiam essas medicações em redes sociais. Os Procuradores da República também querem investigar o uso de medicação sem comprovação científica pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).  Pela nota informativa 17/2020 – SE/ GAB/ SE/ MS do Ministério da Saúde, com respaldo do Conselho Federal de Medicina, há orientações para prescrição de medicamentos sem comprovação científica (off label) para o tratamento da covid-19, apesar de terem uso reconhecido para outras doenças. No ofício, o MPF questiona se o CFM revisou os documentos emitidos no início da pandemia com base em novas evidências e indicações de autoridades sanitárias internacionais ou sociedades médicas. Segundo a nota informativa 17/2020 – SE/ GAB/ SE/ MS do Ministério da Saúde, é recomendado o uso de substâncias como Cloroquina, Azitromicina e Hidroxicloroquina como forma de tratamento precoce para pacientes adultos com sinais ou sintomas de covid-19.

Imagens: reprodução Ministério da Saúde

Cremern recomenda tratamento precoce contra a covid-19 no RN

No Rio Grande do Norte, o Conselho Regional de Medicina (Cremern) elaborou um Protocolo de Atendimento que passou a orientar os profissionais de saúde de Natal para tratar pacientes com covid-19.

Pelo documento, aprovado em sessão plenária pelos conselheiros, há a recomendação do uso de hidroxicloroquina ou cloroquina isolada para pacientes em estágios iniciais da doença e sem pneumonia. Uma nota na página do Cremern diz que os conselheiros estão cientes da falta de evidências científicas no uso das medicações, mas que diante da pandemia, é preciso ter um olhar diferenciado sobre estas observações.

Imagem: reprodução Cremern

Ivermectina

Em Natal, um dos maiores defensores do uso de medicação sem comprovação científica como forma de prevenção à covid-19 é o médico e prefeito da cidade, Álvaro Dias (PSDB). Em entrevista recente a emissoras locais de televisão, ele chegou a afirmar que desistiu de tomar a coronavac porque estava protegido com a ivermectina, numa referência ao episódio em que tentou furar a fila de vacinação em Natal, quando da chegada do 1º lote de vacinas à capital.

Para distribuição em massa de um milhão de comprimidos de ivermectina, foram montados três centros de profilaxia e tratamento da doença; no Cemure (zona oeste), no Ginásio Nélio Dias (zona norte) e no Palácio dos Esportes (zona leste). Além do prefeito de Natal e do secretário municipal de saúde, George Antunes, também são ferrenhos defensores do uso de ivermectina como tratamento precoce o infectologista e presidente do Comitê Científico Municipal, Fernando Suassuna, e o deputado estadual, Albert Dickson (PROS).

Na sequência, o prefeito de Natal, Álvaro Dias, o infectologista, Fernando Suassuna e o deputado estadual, Albert Dickson

Aplicativo do Ministério da Saúde é retirado do ar

Outro ponto tratado no ofício enviado ao CFM é o aplicativo TrateCov, que já foi retirado do ar. O aplicativo, que funcionou em período de testes em Manaus, fazia uma pontuação de a indicação de medicamentos de acordo com os sintomas apresentados. Entre as prescrições, estavam medicamentos sem comprovação científica. Também foi enviado ofício ao Ministério da Saúde com questionamentos sobre os critérios científicos utilizados no sistema.

O Ministério da Saúde retirou do ar o aplicativo no último dia 21. Ele foi lançado como projeto-piloto no dia 14 e não estava funcionando oficialmente. Pelo aplicativo, qualquer pessoa poderia ter acesso a uma receita médica preenchendo poucas informações como peso, idade, nome e comorbidades existentes. Entre as medicações indicadas estavam a cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina.

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.