Com medidas restritivas mais brandas, RN pode enfrentar cenário semelhante ao de Manaus em seu pior momento
Natal, RN 28 de mar 2024

Com medidas restritivas mais brandas, RN pode enfrentar cenário semelhante ao de Manaus em seu pior momento

12 de março de 2021
Com medidas restritivas mais brandas, RN pode enfrentar cenário semelhante ao de Manaus em seu pior momento

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Em um ano, a covid-19 matou no Rio Grande do Norte o equivalente a oito anos de doenças infecciosas e parasitárias. O novo coronavírus também matou duas vezes mais do que as doenças isquêmicas no ano de 2019 e é a doença que mais matou pessoas no Brasil em 2020. Os dados foram apresentados durante a coletiva de imprensa do Governo do Estado com pesquisadores que fazem parte do Comitê Científico, que fizeram uma espécie de diagnóstico da atual situação do estado na pandemia da covid-19.

O RN enfrenta um terceiro pico maior que o primeiro e sem sinal de baixa. Já são quase 180 mil casos (179.824) e mais de 3 mil óbitos (3.857) provocadas por covid-19. O estado apresenta curvas parecidas com a de outros estados, que também nunca conseguiram baixar os índices da doença. Em fevereiro, o número de casos voltou a subir passando de uma média semanal de 250 para 986 novas infecções por dia, sem qualquer indicativo de baixa, o que foi considerado muito grave pelos cientistas.

Imagine o acúmulo disso, porque o paciente de covid-19 precisa de assistência médica por muito tempo. A cada dia mil pessoas novas entrando no sistema, temos o colapso da rede assistencial”, adverte Ângelo Roncalli, epidemiologista e membro do Comitê Científico.

O secretário de saúde, Cipriano Maia, lembrou que esse é um dos momentos mais graves da pandemia, e que as medidas restritivas previstas até o dia 17, podem ser estendidas por mais tempo, caso a média de infecções não baixe.

“Adotar medidas mais rígidas, como as que estão previstas no decreto estadual, é o que estão fazendo em outros países e estados. Por isso, o toque de recolher é importante, para evitar aglomerações onde há consumo de bebidas alcóolicas, que possam induzir a um comportamento de desrespeito às regras de distanciamento”, defendeu Cipriano.

Roncalli também alertou para o cenário atual da pandemia no mundo com mais 118 milhões de doentes e dois milhões de mortes, estando o Brasil em 2º lugar em número de óbitos e o 3º em número de casos. Ele também apresentou, em nome do Comitê Científico, o Indicador Composto, uma nova forma de avaliar a pandemia não apenas pelo número de casos e óbitos, mas levando em conta nove varáveis. Com ele, cada município poderá ser classificado conforme a gravidade da situação que esteja enfrentado de acordo com uma cartela de cores que vai do verde ao vermelho, numa gradação crescente.

Legenda para o Indicador Composto:

1: Situação confortável

2:Inspira cuidados

3: Grave

4: Mais grave

5: Gravíssima, com todas as varáveis acima do esperado.

A maioria dos municípios do Rio Grande do Norte estão entre o amarelo e o verde. Dois municípios enfrentam a pior situação possível e nenhum município da região metropolitana está na situação verde. Pau dos Ferros e São José de Mipibu, são as cidades que apresentam situação um pouco melhor.

Um ano depois da pandemia, os pesquisadores também fizeram um inquérito sorológico. O levantamento mostrou que a cada um paciente, dois não foram detectados. E as pessoas mais vulneráveis e com menor poder aquisitivo foram as mais infectadas. Também chamou a atenção a quantidade de crianças entre zero e nove anos que tiveram covid-19 no estado, assim como os índices da doença entre pessoas que fizeram ou não o isolamento social. Entre aqueles que seguiram restrições mais rígidas, 7% teve covid, já entre aqueles que não adotaram medidas de isolamento, a incidência do novo coronavírus foi de 12,7%.

Os pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais/UFRN), também revelaram que a mortalidade nos leitos de UTI em todo o estado chega a ser de 70% e que o RN tem hoje, o dobro de pacientes que tinha na metade do ano passado, com o agravante de lidarmos agora com a falta de vagas em, praticamente, todos os hospitais.

“Por isso, só abrir leito não resolve. É preciso evitar as internações, claro que é preciso garantir a assistência médica às pessoas, mas ter mais leitos de UTI mão significa que o paciente vá sobreviver. O importante é parar a transmissibilidade, por isso as medidas restritivas são importantes para evitar o contágio. A demanda de pacientes exige muitos insumos, o que a longo prazo, é inviável. É importante lembrar que o SUS está concorrendo com hospitais privados por esses insumos”, argumenta Ricardo Valentim, membro do departamento de Engenharia Biomédica e Coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS)/UFRN.

Valentim também estima que o RN passe da média de 30 óbitos diários nos próximos dias, que devem vir da região metropolitana de Natal, onde há maior número de pacientes internados em UTI e na fila de espera.

Se houver aglomeração agora, o cenário que enfrentamos agora pode ser ainda maior, algo com o que não estamos acostumados a ver, que foi o que houve em Manaus. A divergência entre decretos não pode acontecer e seguir as medidas mais rígidas é o que deve prevalecer”, aconselhou Ricardo Valentim, numa clara alusão à decisão da Prefeitura de Natal em publicar um decreto divergente e menos restritivo do que o que foi publicado pelo Governo do estado, que prevê toque de recolher a partir das 20 horas, entre outras medidas.

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