Radialista diz que prefeito de Natal afirmou que recomendava ivermectina para provocar petistas
Natal, RN 18 de abr 2024

Radialista diz que prefeito de Natal afirmou que recomendava ivermectina para provocar petistas

10 de março de 2021
Radialista diz que prefeito de Natal afirmou que recomendava ivermectina para provocar petistas

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“Eu falo pro povo tomar ivermectina só pra matar os petistas do coração”.

A frase foi dita pelo prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), segundo o radialista Hudson Silvestre, que comentou a situação que presenciou numa entrada ao vivo para o programa Tudo ao Meio-Dia, na rádio 91,9 FM, de Natal, nesta terça (9). Além de Hudson, uma equipe da TV Futuro e mais outra pessoa, também ouviu o comentário do prefeito. O episódio teria ocorrido nessa última segunda (8).

“Isso expressa a forma politizada com que Álvaro vem atuando durante a pandemia. Essa politização não começa agora, mas já no ano passado no período pré-eleitoral, quando ele começou a afrouxar o comércio antes daquilo que tinha sido estabelecido pelo Ministério Público e pelo Governo do Estado. Vale registrar que ele abriu o Alecrim e as feiras livres em pleno pico da pandemia”, relembra o professor do departamento de Ciências Sociais da UFRN, Daniel Menezes.

Mesmo diante do momento mais grave da segunda onda da covid-19, Álvaro Dias chegou a comentar durante audiência de conciliação com o Governo do Estado e o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, que a situação de Natal hoje é melhor do que no ano passado. A distribuição em massa de remédio para piolho para tratamento precoce do covid-19, sem qualquer comprovação científica sobre sua eficácia, foi um dos motes de campanha que garantiu a reeleição do prefeito em 2020.

“Essa postura não é nova. Ele utilizou essa estratégia de difusão de remédios porque existia uma ansiedade muito grande por parte da população que tem dificuldade em entender, e não encontrou na Prefeitura de Natal um órgão preocupado em explicar isso para seus cidadãos, que essa é uma doença para a qual não existe remédio. Falo isso não como médico, mas como leitor de jornal. Sei que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] já falou isso, a Organização Mundial da Saúde já falou isso, as 11 agências sanitárias às quais o Brasil é ligado e reconhece autoridade para validação de remédios e vacinas, também falaram isso, e as principais revistas do mundo falaram isso. Então é uma mera constatação, não entro nem no mérito da polêmica. O prefeito mantém a dúvida no ar para acessar os eleitores. Ele abriu vários centros de distribuição desses remédios como cálculo político. Conforme estudo da OMS, apenas 1% dos infectados pelo novo coronavírus falece. Claro que é um número aparentemente pequeno, mas se você coloca esse número em grandes populações, vai dar o resultado que estamos percebendo. 99% das pessoas que adoecem de covid-19 se curam por seu próprio sistema imunológico”, critica Daniel Menezes.

Na mesma audiência, realizada nesta quarta (10) para dirimir as divergências entre os decretos estadual e municipal, Álvaro Dias também debochou da postura da governadora Fátima Bezerra (PT), que não aceitou adiar o toque de recolher das 20h, como prevê o decreto estadual, para as 21h, como estabelece o municipal. O Supremo Tribunal Federal já havia definido que, em caso de decretos conflitantes em relação às medidas restritivas de combate à covid-19, prevalece aquele mais rígido.

 “A ansiedade da população por um remédio e a necessidade de um político por mostrar serviço, ainda que dessa forma anticiência e populista, criou esse tipo de junção e ele [Álvaro Dias] se viu preso na defesa desse tratamento que, cada vez mais, se torna evidente que não funciona, apesar de nunca ter havido dúvida enquanto a isso. Mas, a realidade de impõe e Natal, que já esteve numa situação muito negativa na primeira onda, se encontra em nova condição nessa segunda, que é a de liderar negativamente a pandemia. Ele não tem mais como fugir desse negacionismo tanto do ponto de vista político, porque se ele admitir hoje que isso não funciona, na prática, terá que responder pela administração em massa disso no passado, quanto do ponto de vista jurídico, porque acabará tendo que responder uma vez que mesmo no início da pandemia, não estava autorizada a administração de medicamento em massa à população”, alerta o professor da UFRN.

A agência Saiba Mais entrou em contato com a Prefeitura de Natal solicitando um posicionamento do prefeito Álvaro Dias sobre a afirmação feita pelo radialista, mas nós não obtivemos resposta.

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