Sessão macabra: covid-19 na escola do filho dos outros é refresco em Natal
Os vereadores de Natal aprovaram nesta quarta-feira (24) o retorno das aulas presenciais nas escolas privadas. Por trás do projeto macabro do vereador Klaus Araújo (Solidariedade) sobram mentira e hipocrisia.
O marketing do parlamentar “vendeu” a proposta para a sociedade como se a educação precisasse de uma lei para ser reconhecida como “atividade essencial” na cidade.
Por baixo do pano, porém, venceu um lobby das escolas privadas para que a autorização fosse dada a fim de burlar o decreto estadual assinado pela governadora do Estado, pelo prefeito da capital e chancelado pelos órgãos de controle e demais Poderes.
Natal exporta hoje pacientes intubados para outros municípios porque não há mais UTIs para receber tantos doentes. Médicos e pesquisadores repetem diariamente que o coronavírus não distingue mais quem é idoso e quem é jovem.
A nova cepa do vírus também não liga muito para classe social ainda que, por motivos óbvios, os mais pobres sejam mais vulneráveis. Mas nem plano de saúde e um caminhão de dinheiro bastam mais para conseguir uma UTI nos hospitais particulares de Natal.
Klaus Araújo escolheu o momento mais grave da pandemia para incentivar aglomerações nas escolas, entre jovens, onde o distanciamento social é tão improvável como as boas intenções do vereador e o apreço dele pela ciência.
Aliás, na sessão macabra, o parlamentar menosprezou os pesquisadores do comitê científico, alegando que não se sentia representado pelo grupo que orienta as decisões com base em dados e projetando cenários a partir do comportamento da população.
Até o momento, 588 pessoas já morreram no Rio Grande do Norte sem direito a um atendimento por falta de UTI.
Dos 29 parlamentares eleitos, só três votaram contra o projeto: Divaneide Basílio, Robério Paulino e Brisa Bracchi.
Dos 29 parlamentares eleitos, apenas quatro foram ao plenário nesta quarta-feira participar da sessão.
A maioria não se sentiu seguro para ir de casa até a Câmara Municipal trabalhar presencialmente, mas por algum motivo acreditou que os professores não têm o mesmo direito e podem correr o risco.
Nossos vereadores não quiserem aglomerar, mas tomaram uma importante decisão: a partir de agora, os filhos da classe média natalense estão aptos a, numa eventualidade, concorrer com os pacientes que aguardam na fila para sobreviver.