Queridas membras do Conselho das Mulheres Machistas, Recalcadas, Recatadas e do Lar do edifício (ou devo dizer "É difícil", já que a vida neste prédio não tem sido nada fácil) mais polêmico do país nos últimos dias,
Em que pese não ser eu a moça constrangida (esta sim) injustamente pelas senhoras em covarde mensagem de email que ganhou ampla repercussão na fina sociedade brasiliense e cruzou fronteiras, já que nasceu destinada a se tornar meme no Brasil e no mundo, me senti provocada a responder à referida mensagem em nome de todas as mulheres libertas e poderosas do planeta, não para me voltar contra as senhoras, mas apenas com um objetivo puramente pedagógico, pois entendo que não é culpa de nenhuma das integrantes do nada nobre conselho a impensada atitude carregada de sexismo e até de certa burrice (e me perdoe a redundância) por não perceber o óbvio nessa questão toda, que não deveria ser sequer uma questão.
Na verdade, caras amigas, escrevo para aconselhá-las a tomarem de volta os olhos que deveriam ser de um ponto de vista feminino, já que o conselho se diz "das mulheres". Se assim fosse, o julgamento que fizeram teria que partir dos seguintes pressupostos:
1. uma mulher pode usar a roupa que quiser e não é isso que a define; 2. aos homens não foi dado o direito natural de comer as mulheres com os olhos, como provavelmente seus maridos assim fizeram com a sua vizinha, pelo jeito vítima de assédio constante, ao qual ela e nenhuma mulher são obrigadas.
Assim sendo, alerto que os condôminos que deveriam ser de fato repreendidos são os maridos das senhoras, ou mesmo os homens solteiros, incapazes de conter o instinto animal de secar a fêmea, que independente da veste, o que, como dito antes, nada diz sobre caráter e não define quem ela é, não saiu da casa dela imaginando ser presa fácil desses lobos ferozes, mas certamente muito menos pensou que poderia ser vítima de uma atitude machista vinda de outras mulheres.
Apesar de lamentável, o episódio é uma ótima oportunidade para mudanças de comportamento e um estímulo à sororidade que espero exista entre nós a partir de agora, quando me presto a esclarecer que as senhoras não têm de fato culpa de nada, ainda que inicialmente tenham sido levadas a acreditar nas velhas máximas, como por exemplo: "essa moça deveria se cobrir para não ser estuprada", ou "essa mulher é uma destruidora de lares", o que provavelmente até mesmo eu, uma mulher de 43 anos, já tenha utilizado antes nessa vida, quando me faltava esse entendimento que tento hoje transmitir, com todo o carinho e cuidado.
A culpa é da sociedade machista e sexista a que somos todes submetides, sejam homens, mulheres, ou população LGBTQI+. Ela turva a nossa consciência e impede que a gente enxergue o que está bem na nossa frente. E no caso em epígrafe, impediu as senhoras de adotarem uma atitude diversa e de fato correta com relação aos acontecimentos que só prejudicam o direito de ir e vir e a liberdade da sua vizinha e, possivelmente, de outras tantas mulheres que transitam não apenas no seu edifício, mas na sua rua, no seu bairro, no DF, no país e no mundo.
Agradeço a compreensão,
Carolina Villaça