Brasil é o país com o maior número de jornalistas mortos por covid-19, aponta relatório da Fenaj
Natal, RN 19 de abr 2024

Brasil é o país com o maior número de jornalistas mortos por covid-19, aponta relatório da Fenaj

7 de abril de 2021
Brasil é o país com o maior número de jornalistas mortos por covid-19, aponta relatório da Fenaj

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O Brasil é o país com o maior número de jornalistas mortos vítimas do novo Coronavírus. É o que aponta o dossiê “Jornalistas vitimados por Covid-19”, divulgado terça-feira (6) pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

Entre abril de 2020 e março de 2021, a pandemia matou 169 profissionais da categoria, dois deles no Rio Grande do Norte. O dossiê também mostra que em três meses o número de mortes neste ano supera todo o ano de 2020, quando foram registradas 78 mortes de abril a dezembro. Em 2021, são 86 vítimas, percentual 8,6% maior que no total de 2020.

Março de 2021 foi o mês mais fatal para jornalistas. Ao todo, 47 profissionais vieram a óbito no pais em razão da pandemia. O segundo mês com mais mortos na categoria foi janeiro deste ano, quando 26 jornalistas perderam a vida.

Apenas no Acre nenhum jornalista morreu. No Rio Grande do Norte, os jornalistas Emery Jussier Costa e Paulo Macêdo aparecem na lista.

A FENAJ alerta que os dados podem estar subnotificados e que o dossiê é atualizado de maneira constante.

Segundo o diretor do Departamento de Saúde da FENAJ responsável pela sistematização do dossiê, Norian Segatto, no primeiro trimestre de 2021 a média foi de 28,6 mortes de jornalistas por mês.

Os 169 casos apurados até agora são resultado da necropolítica do governo federa. Os números mostram a urgência de a sociedade se posicionar contra o governo genocida de Jair Bolsonaro”, afirma o dirigente.

Amazonas, Pará e São Paulo lideram o ranking entre os estados onde houve mais vítimas fatais entre os jornalistas, com 19 mortos. Na sequência aparecem o Rio de Janeiro (15) e o Paraná (13). Na categoria, a maioria dos casos é na faixa etária dos 51 a 70 anos (54,9% das mortes) e entre homens, sendo que entre as vítimas fatais da doença, 9,8% são mulheres jornalistas.

“Assim com os profissionais da saúde, a categoria dos Jornalistas também está se sacrificando para garantir informação de qualidade para a população brasileira. Os números são alarmantes, mas vamos continuar cumprindo nosso papel, porque informação verdadeira também ajuda a salvar vidas”, afirma Maria José Braga, presidenta da FENAJ.

Dossiê da FENAJ tem dois potiguares entre mortos por covid-19

Na lista de 169 jornalistas que constam no dossiê de vítimas da Covid-19 elaborado pela FENAJ aparecem os nomes de dois potiguares: o radialista mossoroense Emery Jussier Costa, morto aos 74 anos de idade em 1º de maio de 2020, e o jornalista e colunista social Paulo Macêdo, 88 anos, que veio a óbito em 5 de julho do ano passado.

Emery Costa foi o 9º jornalista do país vítima da pandemia. A sobrinha dele enviou um depoimento sobre o tio ao site Inumeráveis, que cataloga histórias de vítimas da pandemia.

“O rádio sempre foi sua paixão, locutor, colunista, jornalista talentoso e respeitado. Deixa seu legado e muitas saudades aos que o admiravam! Emery nasceu em Mossoró (RN) e faleceu em Natal (RN), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus”, diz o registro.

Já a morte de Paulo Macedo entrou na lista de suspeitos por covid-19, mas no atestado de óbito a causa foi insuficiência respiratória. Ainda assim, até hoje a família ainda não tem certeza. Filho do jornalista, o advogado e escritor Miguel Dantas conta que Paulo foi internado no hospital Memorial após fraturar o fêmur num acidente doméstico. A cirurgia, realizada numa quinta-feira, foi considerada um sucesso pelos médicos, que estimaram alta hospitalar no domingo.

- Mas no dia que ele ia ter alta papai amanheceu com uma mancha no pulmão e dificuldade de respirar. E foi internado no setor que tratava pacientes com coronavírus, intubado e naquele mesmo dia à noite ele morreu. Foi tudo muito rápido. Todo mundo achou que era covid-19, mas quando veio o exame do DNA o teste deu negativo e o atestado de óbito saiu como insuficiência pulmonar. Mas a gente não tem certeza”, diz o advogado 9 meses depois da morte do pai.

Apesar da dúvida, Dantas agradece o corpo médico do hospital Memorial pela assistência dada a Paulo Macedo que, na época, estava com o plano de saúde atrasado havia cinco meses.

“Os médico fizeram de tudo, não tenho nada do que falar sobre eles. O atendimento que deram a papai foi excelente”, disse.

Paulo Macêdo entre Miguel (esq) e Paulinho (dir.) / foto: reprodução

Olhando para trás, Miguel diz que sente falta do pai, com quem falava diariamente. Um dos fatos que mais marcaram o filho do jornalista nesses primeiros 9 meses é a lembrando do sepultamento, onde apenas 15 pessoas puderam acompanhar o velório:

- Aquilo foi terrível. Você não imagina... papel era uma pessoa muito conhecida em Natal, muito sociável. E no enterro só puderam ir 15 pessoas. Por ele ser quem era, dava para esperar centenas ou milhares de pessoas. Mas a gente não pode fazer nenhuma homenagem porque foi tudo de repente, ele era muito ativo, dirigia para todo lado. Tem uma irmã com 104 anos e outro irmão com 98 anos. Então era de se esperar uma longevidade maior, até porque papai não tinha nenhuma doença, nada de coração”, lamenta.

Miguel Dantas está cursando o segundo ano de jornalismo depois de fazer três faculdades: Turismo, Administração e Direito. Por intermédio do pai, escrevia regularmente na revista Foco e decidiu atender um pedido dele para que se formasse na mesma profissão que abraçou por sete décadas. E tem planos para quando a pandemia acabar:

- Ah, quero homenagear papai, fazer homenagens que não pudemos agora. Não sei ainda, um nome de rua, talvez. Ele merece”, diz.

Sindicato vai reivindicar prioridade para jornalistas na vacinação em Natal

Jornalistas fazem a cobertura da pandemia no Rio Grande do Norte desde março de 2020 / foto: Elisa Elsie

O Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Norte vai reivindicar junto à secretaria municipal de Saúde de Natal prioridade para os jornalistas da capital na fila de vacinação contra a covid-19. A entidade não possui dados sobre contaminação entre profissionais da categoria.

- A gente solicita das empresas por ofício, mas nenhuma enviou informações até hoje. Então, nós sabemos quem pegou e quem não pegou a partir dos próprios jornalistas que divulgam quando estão com a doença”, explicou.

O Sindjorn chegou a encaminhar em 2020 ofício para a secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) solicitando testes PCR para os jornalistas que atuam no Rio Grande do Norte, mas a entidade não foi atendida.

Sobre a vacinação para jornalistas, Othon explicou que vai evocar a lei federal que reconhece a atividade jornalística como essencial durante a pandemia. A oficialização do pedido junto a SMS será feito até o fim de semana.

O jornalistas fazem matéria em ônibus, na rua, têm contato com parente de pessoas contaminadas e ainda com profissionais e autoridades que atuam na linha de frente. Nossa categoria é essencial e, se não fosse a imprensa, a sociedade estaria perdida nessa pandemia, sem informação. As próprias autoridades dependem da atividade jornalísticas para saber, às vezes, onde há aglomeração de pessoas, por exemplo. Então vamos solicitar diretamente para que a prefeitura cumpra a lei federal que reconhece a nossa atividade como essencial”, afirmou.

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