A volta da miséria e o fracasso de uma nação entregue ao mandrião
Natal, RN 19 de abr 2024

A volta da miséria e o fracasso de uma nação entregue ao mandrião

5 de maio de 2021
A volta da miséria e o fracasso de uma nação entregue ao mandrião

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

No BraZil, 39,9 milhões de pessoas vivem na extrema pobreza no Brasil, segundo dados do Ministério da Cidadania. Essas famílias vivem com renda per capita de até R$ 89 por mês e se alguém achar que pode sobreviver com esse valor, convido a fazer uma experiência, lembrando que isso significa que a pessoa terá a sua disposição menos de R$ 3 por dia (R$ 2,96), o que é absolutamente impossível que isso possa acontecer.

Mas, o que é mesmo pobreza? Talvez se você se deparar com uma jovem adolescente na porta de uma padaria pedindo-lhe COMIDA, e não DINHEIRO, não precise de grandes elaborações teóricas sobre a pobreza. Ela estará na sua frente.

O bengalês Amartya Sen, estudioso do tema, reconhecido internacionalmente, cunhou o conceito de pobreza não apenas pela falta de dinheiro, mas pela privação de capacidades básicas de indivíduos, e a privação de capacidades elementares pode refletir-se em morte prematura, subnutrição considerável (especialmente de crianças), morbidez persistente, analfabetismo e outras deficiências. Uma renda pequena é o primeiro indício de que essa privação está instalada na vida da pessoa.

O braZileiro João de Dona Maria (nome fictício), pequeno comerciante, quando indagado sobre o que é pobreza, diz que é “aquele povo que não trabalha por que não quer” e, ao seu lado, um senhor que aparenta ter mais de 60 anos, complementou, com um sorriso que revelava uma prótese defeituosa, que o pobre é uma “peste”.

João de Dona Maria e o seu amigo tem uma visão bastante cruel da pobreza e os liberais de proveta desse país, embora não o digam, seguem esse mesmo raciocínio, e a equipe econômica do governo central, entulhados desses liberais de proveta, olham para os pobres e o veem como um entulho a ser removido, para que um “país liberal” possa se constituir como “nação moderna”.

Entre 2003 e 2014 VINTE E CINCO MILHÕES de pessoas tinha deixado a pobreza. Em 2001, de acordo com dados do Banco Mundial, 13,6% dos brasileiros viviam na pobreza e em 2013, eram 4,9%. Os pobres começavam um lento processo de entrada, que não chamo de ascensão, no mundo da cidadania, podendo, finalmente, acessar o consumo. Vivenciamos o retorno de um fantasma tão conhecido de milhões de braZileiros, especialmente os localizados na chamada região Nordeste desse país.

A situação de aumento da pobreza no Brasil também é considerada o pior resultado da América Latina nos últimos cinco anos, segundo o Banco Mundial. Embora todos os países tenham sofrido crises econômicas desde 2011, o Brasil foi um dos únicos que teve piora em todos os índices. Um estudo publicado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, entre 2012 e 2019, a renda da metade mais pobre da população caiu 18%, enquanto o 1% mais rico teve um aumento de quase 10% no seu poder de compra.

O aumento expressivo de pessoas deambulando pelos canteiros e um cenário sombrio, em que a morte, causada pela pandemia, e a inação do governo, tanto no combate à praga, como na mais completa afasia governamental no que diz respeito ao enfrentamento econômico, joga na cara da classe média, aquela que sonha em ser rica, mas vive ameaçada de proletarização, o fracasso de uma sociedade que preferiu, em 2018, mergulhar numa distopia macabra, em que todos os preceitos civilizatórios foram abandonados.

A pandemia trouxe à tona as entranhas de um país não resolvido, que nunca teve, na maioria dos seus governos, a vontade política de combater duramente a pobreza, de reduzir a miséria e de acolher esses milhões de braZileiros num outro patamar de consumo e de qualidade de vida.

Quando estiver entrando numa padaria e uma jovem lhe pedir comida, pense como essa jovem poderia estar vivendo numa sociedade mais justa e que provavelmente viverá num país pobre e cada vez mais injusto socialmente.

Curtiu ? Leia outros artigos do economista e professor da UFRN Wellington Duarte aqui

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.