Mães protestam e denunciam fechamento definitivo de seis escolas na área rural de Macau
Natal, RN 16 de abr 2024

Mães protestam e denunciam fechamento definitivo de seis escolas na área rural de Macau

20 de maio de 2021
Mães protestam e denunciam fechamento definitivo de seis escolas na área rural de Macau

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Mães de alunos matriculados em áreas rurais do município de Macau protestaram contra o fechamento definitivo de seis unidades de ensino localizadas na zona rural da cidade. A manifestação aconteceu no último domingo (16), quando as mães dos estudantes decidiram aproveitar o movimento de políticos na cidade por causa da visita do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (PSDB).

O encontro aconteceu na casa do prefeito da cidade, José Antônio de Menezes (DEM). Além de Marinho e de vereadores do município, o deputado federal Benes Leocádio (Republicanos), também participou da reunião. O protesto das mães ocorreu, justamente, na calçada da casa do prefeito e, apesar do movimento e entra e sai de políticos na residência, ninguém recebeu as mães para discutir o motivo da manifestação. Elas ainda conseguiram falar com alguns parlamentares, do lado de fora da casa.

Na tentativa de dispersar o protesto, o Chefe de Gabinete do prefeito marcou uma reunião que deveria ter ocorrido na última terça (18), mas ao invés de receberem a confirmação do encontro por escrito, o grupo de mães foi informado do cancelamento da reunião, remarcada para o próximo dia 25.

Mas não temos garantias de que vá acontecer”, lamenta uma das mães de um estudante do município que prefere não ser identificada.

Mães de alunos de comunidades rurais de Macau I Imagens cedidas

O fechamento das escolas foi determinado pelo prefeito de Macau, José Antônio de Menezes, que ainda não explicou o motivo da decisão. As mães dos estudantes contam que foi o Chefe de Gabinete do prefeito que chegou a dizer que a razão, seria a necessidade da prefeitura em economizar. Elas tentam se reunir com o prefeito da cidade desde março.

“Nós encaminhamos ofício à Secretaria de Educação e à Prefeitura, mas apenas a Secretaria respondeu alegando que precisava acabar com as turmas multisseriadas nas escolas. Só que mesmo com a transferência de alunos para Salinópolis, por exemplo, vai continuar no mesmo sistema. Eles mesmos se contradizem”, denuncia.

José Antônio de Menezes, prefeito de Macau I Imagem: reprodução redes sociais

Turmas multisseriadas, são classes que comportam duas ou três séries simultaneamente. As escolas que serão fechadas, ficam nas comunidades de Quixabas, Tambaú, Alcanorte, Canto do Papagaio, Soledade e Sertãozinho.  Cada escola tem cerca de 50 estudantes.

Além da falta de recursos, o Secretário de Educação também teria comunicado às mães que a Prefeitura de Macau não teria funcionários suficientes, apesar das contratações recentes. De acordo com informações repassadas pelas mães dos alunos, muitos professores estão em cargos administrativos e a gestão não consegue enviá-los para as áreas rurais.

“Não há transparência, não informam o número de servidores efetivos e contratados, nem os recursos recebidos e valores encaminhados a cada uma dessas escolas", relatam os pais.

Macau não tem transporte público. A distância entre uma das comunidades e o bairro de Salinópolis, que é onde fica uma das escolas indicadas pela prefeitura para transferência dos estudantes da zona rural, é de onze quilômetros. Pra percorrer a distância só de carona ou pagando pelo transporte alternativo, cujo custo de cada passagem sai por R$ 6, valor muito alto para quem tem uma vida simples em uma comunidade rural.

O secretário disse que disponibilizaria um ônibus para pegar os estudantes, mas mães não confiam porque eles quebram com frequência e os motoristas não têm treinamento adequado. Quando tem blitz da Polícia Rodoviária Federal, eles até evitam passar por causa das más condições dos ônibus e em caso de multa, os pontos vão para a carteira do condutor”, adverte a mãe.

“Essa foi uma decisão unilateral por parte deles, não conversaram com os pais para discutir a situação. A reunião já foi para comunicar o fechamento e não para buscarmos uma solução. Isso não passou pelo Conselho Municipal de Educação”, denunciam os pais dos alunos da zona rural.

Ao todo, foram realizadas cinco reuniões entre o grupo de pais e a Secretaria de Educação e Cultura de Macau. No entanto, os encontros foram apenas para acertar os detalhes das transferências que já haviam sido definidas pela gestão municipal.

“Essa foi uma decisão unilateral por parte deles, não conversaram com os pais para discutir a situação. A reunião já foi para comunicar o fechamento e não para buscarmos uma solução. Isso não passou pelo Conselho Municipal de Educação”, denunciam os pais dos alunos da zona rural.

Além da maior distância a ser percorrida numa realidade de famílias cuja maioria não tem transporte particular, a preocupação é, também, com a superlotação das salas de escolas que já não tinham uma estrutura adequada.

É arbitrário, um desmonte da educação! Há muitos professores em cargos de gestão, descaso no fornecimento de material de expediente. A escola da minha filha, por exemplo, funcionava com doações dos pais, apesar de sabemos que há recursos vindos do Estado e do Fundeb. Só se fecha uma escola, quando há outra pronta! Se tivesse uma escola de modelo padrão, as mães não iriam se opor porque seria por algo melhor, mas essas para onde querem transferir o pessoal da Quixaba, por exemplo, fica à beira da Rodovia 406, que liga Natal à Macau, em frente uma empresa onde há uma alta circulação de veículos e, por trás, há uma estação de energia”, critica uma das mães.

Creche da comunidade de Salinópolis tem torres de energia ao fundo I Foto: cedida

Creches fechadas por falta de pagamento

A creche e pré-escola Tia Zélia de Miranda, localizada na Cohab, assim como a Escola Vereador José Filho, na área rural da Alcanorte, receberam ordem de despejo por atraso no pagamento do aluguel. Até existe um prédio em construção onde deveria funcionar uma creche padrão na Cohab, porém, o serviço foi paralisado por falta de prestação de contas dos recursos recebidos do governo federal. Um problema que vem se acumulando desde 2015. A obra começou na gestão de Kerginaldo Pinto, que chegou a ser preso durante a operação Maresia, do Ministério Público do RN, que investigava crimes contra o patrimônio público. Em seguida passou pela administração de Túlio Lemos e chegou à atual gestão sem qualquer avanço.

Com as aulas suspensas por causa da pandemia do novo coronavírus, se tivessem que retornar nesta sexta (21), os alunos não teriam onde ficar. Sem local para funcionar, a secretaria da creche foi transferida para uma sala de aula improvisada na Escola Municipal Maura De Medeiros Bezerra.

A equipe da agência Saiba Mais tentou contato com o Secretário de Educação e Cultura de Macau, Luiz Gonzaga, mas não obtivemos resposta até a hora da publicação.

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