Mandetta conta que pergunta feita por senador bolsonarista em CPI foi enviada a ele por engano por Fábio Faria no dia anterior
Uma das perguntas feitas durante a CPI da Covid à testemunha convidada na tarde desta terça-feira (4), Luiz Henrique Mandetta, já era conhecida pelo ex-ministro da Saúde, graças a uma gafe do ministro das Comunicações, o potiguar Fábio Faria (PSD-RN).
A questão foi levada ao interrogatório pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), referindo-se à recomendação inicial na pandemia de procurar assistência médica quando apenas em caso de agravamento, com sintomas como febre e falta de ar: “Pacientes que são intubados acabam não resistindo, dois terços. O senhor não acha que suas recomendações foram fundamentais para atingirmos esses exorbitantes números de morte em nosso país?”.
Antes de responder, Mandetta revelou que recebeu a mesma pergunta, na íntegra, pelo ministro Fábio Faria.
“Acho que ele inadvertidamente mandou pra mim a pergunta. Quando eu ia responder, ele apagou a mensagem. Então, vou responder para o senhor, mas também para o meu amigo, que foi parlamentar comigo, ministro Fábio Faria”, disse a testemunha.
Confira:
O médico explicou que, naquela época, as orientações da Organização Mundial de Saúde eram as mesmas.
Mandetta foi o primeiro titular da Saúde do governo Bolsonaro e ficou na pasta entre janeiro de 2019 e abril de 2020, deixando o governo por divergências na condução da crise sanitária.
O ex-ministro era à favor de isolamento social rígido, testagem em massa, ampliação da rede assistencial, campanha nacional de comunicação de prevenção à covid-19 e contra o uso indiscriminado de medicamentos sem eficácia.
“Tem que ter a decisão de estar do lado da ciência”, declarou durante depoimento. “Falar de tratamento seria naquele momento criar um kit ilusão. A pessoa podia falar ‘eu posso ir e tomar isso aqui’. E foi assim que eu perdi amigos. Eu perdi tantos amigos que tomavam esses medicamentos prévios”, lamentou.
Mandetta disse que agora, como cidadão, pode sim criticar o governo federal, e enumerou uma série de negações cometidas pelo presidente: uso de máscara, higiene das mãos, compra de vacina, testagem. “Como cidadão, 410 mil vidas me separam do presidente até o dia de hoje”.