Os 10% mais ricos em Natal ganham 47 vezes a renda dos 40% mais pobres
Natal, RN 23 de abr 2024

Os 10% mais ricos em Natal ganham 47 vezes a renda dos 40% mais pobres

6 de maio de 2021
Os 10% mais ricos em Natal ganham 47 vezes a renda dos 40% mais pobres

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Enquanto na média brasileira, a renda dos 10% mais ricos representava 39 vezes o que é pago aos 40% mais pobres, em Natal, os 10% mais ricos ganharam o equivalente a 47 vezes a renda dos 40% mais pobres. O levantamento foi realizado pelo Observatório Metrópoles, pela PUC-RS e o Observatório da Dívida Social na América Latina (RedOdsal) levando em conta os dados do último trimestre de 2020. Esse método de dividir a renda dos 10% mais ricos pelos 40% mais pobres como forma de medida da desigualdade é conhecido, internacionalmente, como Índice Palma.

A maior diferença entre os 10% mais ricos sobre os 40% mais pobres, considerando os três últimos meses de 2020, foi apresentada por João Pessoa, onde o salário dos mais ricos chegou a ser até 88,30 vezes maior. Em seguida, vem o Rio de Janeiro com uma diferença de 59,7 vezes, Salvador com 55,9 vezes, Recife com 55,1 vezes, Maceió com 51,2, Aracaju com 50,90 e Natal com 10% dos mais ricos ganhando 47,30 vezes aquilo que foi pago aos 40% mais pobres.

Os números também apontam que a desigualdade salarial é maior nas capitais e que os pobres são os mais atingidos pela pandemia no Brasil. Enquanto em 2019 a renda dos 10% mais ricos foi 29 vezes maior do que a dos 40% mais pobres, em 2020 os mais ricos passaram a ganhar 39 vezes a renda dos 40% mais pobres. Para a pesquisa são considerados os números da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE, que contabiliza apenas os rendimentos do trabalho. Dados referentes a auxílio emergencial e pensão, por exemplo, não são levados em conta.

Para melhorar esses índices, o economista e professor da UFRN, Cassiano Trovão, aponta que é preciso adotar políticas que priorizem o estado de bem estar social e a inserção das pessoas de baixa renda na economia:

Nós temos um movimento pós 2015 de diminuição do papel do Estado na economia. Políticas mais voltadas para a austeridade, controle dos gastos públicos e reiteradas declarações da equipe econômica do governo de que o estado de bem estar social não cabe na economia. Mas, as pesquisas que temos feito apontam que colocar o pobre no orçamento não é um problema, mas uma solução! Isso amplia a possibilidade de garantir dinamismo de consumo na sociedade, é ele que consome, que demanda serviço, que precisa de determinados investimentos em várias áreas que serão realizados, inclusive, pela iniciativa privada”, aponta o professor.

Observando os meses de outubro, novembro e dezembro de 2019 em relação à 2020, houve uma queda de 34% na renda dos mais pobres. Em média, a remuneração passou de R$ 237,18 por mês no último trimestre de 2019 para R$ 155,95 nos últimos três meses de 2020. Enquanto isso, entre os 10% mais ricos a redução foi de 6,9%, resultando numa média salarial de R$ 6.356. Para o pesquisador da UFRN, a concentração de renda é um empecilho para a retomada do crescimento econômico.

A propensão a consumir é mais alta nas camadas mais baixas. As pessoas que criam demanda de consumo estão na base da distribuição de renda e quando há concentração, piora a capacidade de gasto das famílias. O auxílio emergencial se mostrou eficiente para contornar esse problema e até favoreceu alguns estados do Nordeste, que viram a sua renda na base aumentar porque o auxílio emergencial era maior do que a renda média dessa parte de baixo da pirâmide de distribuição de renda, que é, justamente, a maioria da população do Nordeste. Então, o auxílio foi fundamental para dinamizar algumas regiões mais pobres. Com o fim do benefício, esse dinamismo gerado pela distribuição de renda se esgota e você fica dependente de um dinamismo do mercado de trabalho, que segue num movimento de concentração de renda”, explica Cassiano Trovão.

Um novo auxílio emergencial começou a ser pago em 16 de abril deste ano com valores que variam de R$ 150 a R$ 375, ficando numa média de R$ 250 mensais pelo período de quatro meses. Tanto o período quanto o valor do novo auxílio emergencial em 2021 é menor do que aquele pago em 2020, que tinha uma parcela mínima de R$600, podendo chegar a R$ 1.200 no caso das mães que criavam os filhos sozinhas.

“Esse auxílio é menos da metade do anterior e não comporta os prejuízos que estamos tendo no mercado do trabalho. Há uma elevação da taxa de desemprego no Brasil, agravada porque mais gente está procurando trabalho por falta do auxílio e esse que está aí não está dando conta. As pessoas são obrigadas a procurar trabalho, mesmo que tenham medo de se contaminar porque a pandemia ainda não foi resolvida. Sem vacinação ou medicamento, dependemos ainda dessas medidas de distanciamento social que faz com que as pessoas não se sintam confortáveis para fazer compras em shopping, por exemplo. A solução da pandemia é o que pode garantir uma melhora do mercado de trabalho e uma possível retomada na geração de emprego na base, com melhores salários que provoquem uma redução da desigualdade no mercado de trabalho. Precisamos da vacinação, não temos outra solução”, avalia o pesquisador da UFRN.

Vista aérea de Natal I Foto: Vlademir Alexandre
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