VÍDEO: Apresentador da Band Natal desafia Sikêra Jr a fazer algo de útil pelo país e critica violência contra LGBTQIA+
Natal, RN 19 de abr 2024

VÍDEO: Apresentador da Band Natal desafia Sikêra Jr a fazer algo de útil pelo país e critica violência contra LGBTQIA+

29 de junho de 2021
VÍDEO: Apresentador da Band Natal desafia Sikêra Jr a fazer algo de útil pelo país e critica violência contra LGBTQIA+

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Jacson Damasceno tem 41 anos, dos quais 20 foram dedicados ao jornalismo. O apresentar do Brasil Urgente, na Band Natal, foi dormir depois de mais um dia de trabalho e acordou ainda de madrugada com milhares de mensagens que mal dava conta de responder nesta terça (29), depois que comentários criticando o colega de profissão, Sikêra Júnior, ganharam repercussão em todo o país.

Por causa do Dia Internacional do Orgulho LGBT, comemorado nesta segunda (28), Jacson fez duras críticas à posição preconceituosa do colega durante o programa e defendeu que o respeito às pessoas LGBTQIA+ era uma luta dos seres humanos.

Somos todos iguais perante a lei e Deus, se você acredita em algum. O meu Deus, ama, protege e abraça. Quero deixar um recado para um colega nosso que trabalho no Norte, o senhor Sikêra Júnior. Não o conheço, não gosto do trabalho dele, mas respeito como profissional de imprensa que é. O senhor é apresentador, e eu também, o senhor pode ser milionário, mas nós temos responsabilidades iguais. Saiba usar a sua! “, apontou Damasceno.

“O senhor onde chegou não para falar besteira! Aproveite a responsabilidade da audiência que tem, que é a maior do que a minha, o seu cachê, que é bem maior do que o meu, para pregar o bem, para trazer coisas úteis ao país. Além de dinheiro, o que o senhor construiu durante esse tempo todo com as palhaçada que faz? O que fez de construtivo pelo Brasil? Quem é você comparado a Paulo Gustavo? A Joãozinho Trinta? Clodovil? Cássia Eller? Renato Russo? Cazuza e a tantos outros gays e lésbicas que orgulham e honram esse país?”, continua Jacson, que desafia o colega a fazer algo de útil pelo país.

Antes de se formar em jornalismo e se tornar um experiente repórter com atuação mais presente no gênero policial no Rio Grande do Norte, Jacson, que é baiano, foi professor de português em cursinhos e supletivos da capital potiguar.

Minha namorada ficou grávida e eu precisava trabalhar! Tinha que me virar, meu guri ia nascer e eu não tinha emprego me jornalismo ainda. Tocava pagode, dava aula de português e fui ser estagiário da TVU pra completar a renda”, comenta rindo da situação difícil, durante entrevista à agência Saiba Mais. Confira:

Saiba Mais - Surpreso com a repercussão?

Jacson Damasceno - Estou muito surpreso! Ainda de madrugada começou a viralizar e eu tentando responder e, agora pela manhã, explodiu tudo. A gente tem certa noção do nosso tamanho e alcance, quando ultrapassa essa fronteira, ficamos muito assustados. Fazemos comentário todos os dias para incomodar mesmo, para mexer com a cabeça das pessoas, plantar sementes, mas, quando nasce uma árvore desse tamanho, a gente fica assustado.

SM - O que motivou suas declarações?

JD - Eu não sou gay, sou hétero. Mas, sempre tive isso muito bem resolvido na minha cabeça, muito tranquilo na minha família, que é do interior da Bahia, de gente simples. Nunca tivemos preconceito com ninguém, com nada. Nunca tratamos ninguém melhor ou pior por ter dinheiro ou não ter, por ser gay ou hétero. Eu tive essa criação dos meus pais e vivi isso na minha casa, de que todo mundo é igual e que devemos amar e tratar bem todo mundo, desde pequeno.

"Esse povo está crescendo no silêncio da gente!" 

Sikêira Júnior I Foto: reprodução redes sociais

Você cresce e vai criando relações ao longo da vida. Tenho muitas pessoas que amo que são LGBTQUIA+, amigos e amigas com quem cresci junto, trabalho, por quem torço, beijo, abraço. São meus amigos, irmãos, familiares. Dói na gente quando vemos essas pessoas serem agredidas e humilhadas por nada, por serem quem são. Por que? Com que direito? Ver alguém “poderoso” falar na televisão para milhões de pessoas e xingar as pessoas que gosto, agredir e humilhar por nada. Não deu pra aguentar! Faz tempo que a gente aguenta, chega de suportar, de ficar medindo as coisas, de que é um outro veículo, um colega.

Se for criticar com dignidade, sem entrar na mesma onda, na galhofa. Dá pra criticar, porque esse povo está crescendo no silêncio da gente! Poderia dizer: não, eu não comento porque é um colega, não comento porque é um assunto espinhoso, porque a emissora não vai permitir. Eu tenho consciência do que está certo ou errado. Eu sei que estou certo, eu confio na minha criação, nos meus princípios, no bem, no meu Deus! Se acontecesse alguma retaliação de algum lado... paciência, eu sei que fiz a coisa certa. Chega de agredir, humilhar, bater nas pessoas.

SM - Você e Sikêra Jr apresentam um gênero de programa semelhante. É possível fazer jornalismo policial sem reproduzir os preconceitos, comumente, presentes nesse estilo?

JD - Essa é uma pergunta difícil, mas também respondo com muita tranquilidade. Sou repórter policial desde novo. Foi meu primeiro emprego na tv comercial e eu sempre tive convicção de que eu não precisava humilhar aqueles caras, de que poderia fazer meu trabalho sem precisar diminuir ninguém. Em 20 anos de carreira me deparei com muitas situações. Claro que, por causa do formato do programa, numa situação ou outra a gente pode tirar uma onda, mas não escarnecer, pré-julgar, chutar quem já tá caído... nunca curti! Sempre procurei isso nos programa que fiz e sou muito grato à Band Natal, não é média! Agradeço muito aos meus chefes por terem me dado essa liberdade desde o início para que eu fizesse o Brasil Urgente do jeito que eu quisesse. No programa me vejo muito como professor, de plantar semente, da pessoa assistir um programa de polícia e dizer: Oxe, não tô entendendo nada! Um programa policial com grupo de dança? Com atleta de karatê que vai disputar o Pan? Com coral? Forró? Cultura? Aula sobre sexualidade? Um médico?”.

Tenho plena certeza de que dá pra fazer um programa policial de alto nível! Claro que, como é um programa policial, de vez em quando a gente cai no clichê, tem que noticiar os fatos do dia a dia. Se nas matérias nem sempre a gente pode variar, nos comentários posso dizer algo diferente sempre, sair do óbvio, por ideologia e técnica de televisão mesmo , de apresentar um produto diferente, de apostar em algo que as pessoas possam dizer “caramba, esse moleque faz polícia, mas comenta umas coisas diferentes!”. Sempre apostei nisso, ao invés de esculhambar o cara, ensinar a como não sofrer o assalto, como deixar sua casa guardada pra viajar, como é o golpe do whatsapp. Isso sempre foi muito tranquilo na minha cabeça. Fazemos o Brasil Urgente há três anos assim, com cultura, lazer, polícia, educação, saúde. Com tudo que possa melhorar a vida das pessoas.

SM - Como observa essa onda de negacionismo e incentivo à violência contra as pessoas que não fazem parte do estereótipo da “família brasileira”?

JD - Isso me revolta, às vezes fico estupefato com o caminho que a coisa tomou, da falta de lógica, de inteligência dos comunicadores. Não falo em me sentir melhor porque tem muita gente fazendo um trabalho muito melhor do que o meu. Mas como apareceu uma onda de idiotice e ódio, homenagem e louvores a quem é agressivo, violento, malvado, perverso? Que loucura é essa? Que caminho é esse que estamos tomando? Que lógica é essa? Pessoas que eram tidas como sensatas, tranquilas, estão se tornando agressivas, radicais.

Às vezes me decepciono muito com algumas pessoas. Será que o brasileiro comum é isso? É ódio? Bater? Espancar? Linchar? Fico triste, revoltado, mas milito na minha área da paz, conversa, educação, ensino. Sempre prego isso entre meus amigos, é nisso que eu acredito, que a coisa boa pode prevalecer e vai vencer. Que a positividade, o sorriso, o amor, a música, o beijo sempre vai vencer. A arminha, o escárnio, a ironia, a agressão na cara... a gente vai passar por tudo isso e vai ficar a lição. Vai vir muita coisa boa aí pela frente.

Confira o comentário de Jacson Damasceno:

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