“Bolsonaro usa a democracia para acabar com a própria democracia”, afirma o cientista social Willington Germano
Com a assertiva de que nenhum governo autoritário diz que vai implantar uma ditadura, ao contrário, afirma a necessidade de salvá-la, o cientista social e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Willington Germano, criticou a utilização da narrativa de defesa da democracia pelo Presidente da República ao fazer a defesa do voto impresso. “Bolsonaro usa a democracia para acabar com a própria democracia”.
Em entrevista ao Balbúrdia desta segunda-feira, 2, o professor, que viveu os anos mais obscuros da história recente do país na luta contra a Ditadura Militar, lembrou que a retórica da defesa da ordem democrática foi utilizada no golpe de 1964, até mesmo com a aplicação do Ato Institucional nº 5 (AI-5).
Com a popularidade em queda e pesquisas mostrando que pode perder a reeleição, o presidente tem defendido fortemente que seja aprovada a adoção do voto impresso, numa clara tentativa, para o professor Willington, de tumultuar as eleições de 2022. “O proposito dele é sem dúvida nenhuma tumultuar o processo eleitoral, o processo democrático”, afirmou.
Mesmo admitindo não ter provas sobre fraude no sistema de urnas eletrônicas, reconhecido pelo mundo como um dos mais seguros, Bolsonaro continua a desviar o foco dos reais problemas do país e atacar a democracia, defendendo o voto impresso e colocando em dúvida a realização das eleições no próximo ano.
Willington também analisou o projeto de governo para a Educação e para a Ciência brasileira, marcado por sucessivos cortes no orçamento, bloqueio de verbas, perseguição a professores, alunos e funcionários das Instituições Federais de Ensino, intervenção na nomeação dos reitores dessas instituições e problemas com sistemas de informação e segurança de alunos, professores e pesquisadores.
“Os regimes autoritários têm um propósito, que é interditar o trabalho do pensamento”, ressaltou o cientista social. Por isso os ataques à educação, à cultura e às artes.
O professor falou ainda sobre a importância do educador Paulo Freire em seu centenário, “um pensador reconhecido mundialmente, que inspirou movimentos educacionais como a ‘Campanha De Pé no Chão se Aprende a Ler’”, bem como sobre os 50 anos da morte de Djalma Maranhão no exílio.