É a Economia, estúpido!
Natal, RN 29 de mar 2024

É a Economia, estúpido!

31 de agosto de 2021
É a Economia, estúpido!

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Essa história já é lenda entre quem acompanha e estuda política e campanhas eleitorais. Em 1992, o economista e marqueteiro James Carville criou o slogan “É a economia, estúpido!”, que viralizou (o termo nem existia à época) e acabou garantindo a vitória de Bill Clinton contra a reeleição de George Bush (pai), com base na percepção (correta) de que os norte-americanos estavam mais preocupados com a crise econômica, preços altos, dificuldade em comprar imóveis do que com o, digamos, triunfo americano na Guerra do Golfo. Ou seja, não adiantava Bush ressaltar a tal "segurança nacional" e "soberania" em um cenário de economia em baixa. Como se sabe, Clinton venceu e a frase foi decisiva para isso, tanto que muita gente crê que Clinton a repetia diariamente na campanha, o que não aconteceu. Ela simplesmente entrou no imaginário do cidadão.

Aqui nestes trópicos temos hoje, agosto de 2021, uma situação parecida. Um despresidente que desde que assumiu não se dedica à Economia (já ruim antes mesmo na pandemia, que a piorou) mesmo tendo o "posto Ipiranga" queridinho do Deus-mercado Paulo Guedes. A soma de fatores entre a incapacidade gestora de Bolsonaro & Guedes com a já citada pandemia, fez com que os preços no Brasil disparassem, gasolina a 7 reais o litro. Dólar e Euro nas alturas e impossibilitando a classe média de viajar (muito menos as empregadas domésticas rumo a Disney, para felicidade de Guedes). Pior: os ítens da Cesta Básica e da alimentação e insumos em geral todos subiram, gerando uma sensação inflacionária a qual estávamos desacostumados.

O efeito da crise econômica e da alta de preços se faz ver nas constantes pesquisas de intenção de voto. Bolsonaro derretendo e Lula aumentando a distância entre os dois. E sem espaço para a tal "terceira via" sonhada pela elite econômica e midiática.

O que é impactante, para não dizer bizarro mesmo, é o bolsonarismo ignorar solenemente este fenômeno e a situação da média da população e se manter na "ideologia" que supostamente fez Bolsonaro vencer. Uma pauta baseada no patriotismo, conservadorismo religioso, "guerra cultural" e militarismo. Em contraposição, claro, à pauta de Esquerda de destruir os valores cristão da sociedade ocidental e o blábláblá conhecido desta "argumentação".

O problema é que patriotismo, conservadorismo religioso, "guerra cultural" e militarismo não enchem geladeira nem barriga.

Outra pauta cara ao bolsonarismo, o armamentismo, voltou à tona na semana passada, quando Bolsonaro declarou que "quero ver todo brasileiro com um fuzil. "Ah, tem que comprar feijão". Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer". Ao contrário da campanha, quando as frases bélicas do "mito" caiam bem no eleitorado sedento por segurança pública, hoje esta frase caiu mal. Muito mal. O cidadão médio não consegue comprar arroz e feijão (entre 5 e 10 reais o quilo dos dois produtos) e de onde tiraria os 8 mil reais necessários para comprar um fuzil?

Esta desconexão da realidade - e não o fato de ser racista, misógino, homofóbico, psicopata e genocida - é que vem fazendo Bolsonaro perder apoios e fará com que perca a eleição. Em tempo, na outra ponta, Lula não é visto por significativa parcela do eleitorado como alguém "de Esquerda" mas sim como "o presidente que permitiu que o pobre comesse picanha".

Essa frase da picanha, esfregada na cara no bolsonarismo, é o equivalente a “É a economia, estúpido!”. O eleitor não vota em um candidato porque ele é de Direita conservador ou de Esquerda progressista. Ele vota pelo bolso e pela percepção que a situação dele vai melhorar, que vai conseguir encher a geladeira, ter um emprego e colocar os filhos da escola. Lula entendeu isso em 2022 e parece continuar entendendo. Bolsonaro, claro não entende isso nem coisa alguma e vai perder abraçado com Guedes e sua "ideologia" de araque forjada por Steve Bannon. Vai perder por causa da Economia, estúpido.

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