“O supermercado é o grande opositor ou cabo eleitoral de um governo”, diz especialista em Políticas Públicas
“Quando as pessoas têm o prato cheio, você desencadeia um conjunto de situações que eleva a confiança, a autoestima de uma pessoa, e também a aprovação de um governo”, analisa o professor do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Anderson Cristopher Santos, em entrevista ao Programa Balbúrdia desta segunda-feira (30).
O doutor em Ciências Sociais completa que, quando a cesta básica está cara, o governo federal terá muita dificuldade em reverter a opinião pública, não importando a narrativa criada ou os factoides inventados para tentar convencer a população de que a gestão é boa.
A opinião do especialista anuncia possíveis consequências da inflação elevada no próximo pleito presidencial. Ele prospecta que o cenário mais provável para as Eleições 2022 é a vitória do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) em segundo turno com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A afirmação é feita “considerando que o presidente vai manter 25% do eleitorado, porque ele tem a caneta, porque de 15 a 18% entende que um governo autoritário é uma saída pra o país”.
O segundo cenário é de vitória de Lula em primeiro turno. O terceiro, vitória de Bolsonaro em cima de Lula no segundo turno, mas para isso, seria necessária grande melhora no cenário econômico até lá.
A quarta possibilidade apontada pelo professor é de vitória do ex-presidente Lula sobre qualquer outro candidato.
“Depende disso profunda degradação das condições econômicas e o Bolsonaro poderia mesmo ficar de fora do segundo turno. O apagão também pode gerar vitória de Lula em primeiro turno”, arrisca, lembrando que a crise hídrica tem trazido à tona o fantasma do racionamento de energia.
O outro cenário é de vitória de um adversário externo a essa disputa já posta – que o eleitorado ainda não conhece – contra Lula, emplacando a ideia de terceira via, hoje inviável, na opinião do professor.
O último cenário provável seria a vitória de Bolsonaro sobre qualquer outro que não seja Lula. “Esse é um cenário muito remoto, considerando o percentual de pessoas que se consideram simpáticas ao PT”, frisa o especialista.
Anderson Santos lembra também que a inflação afeta de maneira diferente as pessoas e extratos da sociedade, configurando assim diferentes índices de inflação.
“Existe a inflação que atinge os idosos, afinal de contas são os que mais consomem medicamentos e equipamentos de saúde. A experiência dos mais velhos é diferente dos mais jovens. Pessoas que moram em condomínios geralmente são usuárias do gás encanado e são afetadas de maneira diferente daquelas que consomem o botijão”, detalha.
O doutor aponta ainda que existem pessoas usam indicadores como a alta da bolsa Ibovespa, o preço do dólar e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para sinalizar a saúde da economia, mas que isso é muito diferente de como outras pessoas percebem a economia.
“A economia não se encerra nisso, mas também no emprego, no acesso ao crédito, nos diferentes impactos da inflação. É possível que exista crescimento do PIB, mas não seja um crescimento inclusivo, que se traduza em emprego, aumento de renda, etc”, acrescenta o professor que comentou também sobre a importância fiscal na composição política estadual durante a entrevista.
Confira:
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