Estudantes denunciam violência, machismo, racismo e transfobia em abordagem da segurança no campus da UFRN
Natal, RN 29 de mar 2024

Estudantes denunciam violência, machismo, racismo e transfobia em abordagem da segurança no campus da UFRN

2 de outubro de 2021

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Era noite, chovia, o campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) estava esvaziado pela pandemia e pelas férias de um período letivo corrido para dar conta de seis meses de conteúdo em três. Ainda assim, um grupo de discentes da instituição não adiou os estudos coletivos marcados para acontecer às 19h da última quarta-feira, 29, no departamento de Artes. E o que deveria ser tido como exemplo, foi tratado como caso de segurança.

“Fomos cercados rapidamente por quase 10 seguranças patrimoniais da universidade, um deles - o mesmo que posteriormente alegou ter me visto lendo nos bancos - chegou apontando a arma e gritando conosco, mandando levantarmos as mãos e pedindo nossas identificações”. O relato é de Lorran Silva, coordenador de residências do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRN. Ele era um dos cinco estudantes que planejavam realizar mais um encontro do núcleo semanal de leitura.

Lorran Silva, coordenador de residências do DCE da UFRN relata agressão. Foto: Jana Sá

A violência da ação no interior de uma Universidade Pública tem uma agravante: a transfobia. “Todos nós apresentamos os documentos de identificação, que foram levados para um prédio pelo mesmo segurança que apontou sua arma. Entretanto, antes de levarem nossos documentos, nossa colega, uma mulher trans, sofreu transfobia. Ela apresentou dois documentos, um contendo seu nome morto (de registro), e outro contendo seu nome social. Outro segurança insistiu em chamá-la pelo nome morto, mesmo sendo corrigido por todos nós mais de uma vez”, conta Lorran Silva.

O caso não é isolado, integra uma série de relatos que o DCE está sistematizando para levar à gestão da Universidade. Nesta sexta-feira, 1°, um grupo de estudantes protocolou um ofício solicitando uma audiência com o reitor Daniel Diniz e com o setor responsável pela segurança do campus. Eles foram recebidos pelo vice-reitor, Henio Ferreira de Miranda.

Vice-reitor Henio Miranda recebe estudantes na reitoria da UFRN. Foto: Jana Sá

Após escutar os relatos desse caso e de violências sofridas por estudantes em outras ocasiões, o gestor confirmou que não há restrição de acesso à Universidade, desde que sejam respeitados os protocolos de biossegurança, como o uso de máscara, e afirmou ser um compromisso da instituição de ensino o cumprimento do Código de Conduta dos Agentes Públicos e Estudantes da UFRN e “tudo aquilo que foge à essa orientação de conduta é rechaçado”.

E é justamente essa a discussão que o DCE quer fazer com a administração. Para além da afirmação do vice-reitor de que “a universidade não faz discriminação de ordem alguma, seja de sexo, raça, condição social” e do compromisso firmado “com a apuração de casos em que ocorra desvio de conduta”, os estudantes querem entender o que traz esse código de conduta da UFRN, que os seguranças chamaram de “procedimento padrão” durante a abordagem na última quarta.

Se essa abordagem for a conduta padrão da universidade a gente precisa rediscutir”, avalia Michael Castro, coordenador geral do DCE José Silton Pinheiro. Para ele, “os estudantes não podiam esperar para fazer essa denúncia”, mas eles querem levar os relatos de todos as denúncias recebidas pelo diretório à audiência que o professor Henio Miranda se comprometeu em agendar com a presença do reitor Daniel Diniz.

Giovanna Fiori, estudante de Letras da UFRN, disse que, como “uma das alunas violentadas, que sofreu o machismo na abordagem”, vai “pressionar para que sejam tomadas as providências pela Universidade”.

“Práticas machistas, racistas e transfóbicas serão sempre rechaçadas pelo DCE, e a reitoria da UFRN precisa agir não só de maneira burocrática - abrindo processo administrativo e investigação contra os servidores -, mas também de forma política, pronunciando-se publicamente sobre os ocorridos”, cobra Lorran Silva.

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