“Nas minhas palestras eu sugeria que as pessoas pensassem em pleno século 21 como seria andar rua e ver uma pessoa preta sendo arrastada por uma corda. Isso era o que acontecia antigamente. Mas de repente isso aconteceu de verdade: a reprodução da escravatura ali na nossa frente”.
A fala é do subcoordenador de Políticas para Povos e Comunidades Tradicionais do Rio Grande do Norte da Secretaria de Estado das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (Semjidh), Aércio de Lima, e se refere ao caso do jovem quilombola Francisco Luciano Simplício, que em 11 de setembro foi vítima de tortura no município de Portalegre, no Rio Grande do Norte.
Aércio foi o entrevistado do Programa Balbúrdia nesta segunda-feira (4) e falou sobre políticas públicas e direitos humanos dos povos tradicionais, em particular quilombolas, e os efeitos do projeto de colonialidade.
De acordo com o convidado, o inquérito foi instaurado após denúncia à Ouvidoria da Semjidh, que também conseguiu acompanhamento psicológico para familiares da vítima e encaminhou Luciano para tratamento contra alcoolismo.
“A negação mostra que o Brasil é um país racista. A gente luta todos os dias pra que a gente possa combater”, avaliou, indicando que um dos principais desafios é a intolerância religiosa, que é enraizada.
Como exemplos de racismo, Aércio de Lima aponta as estátuas decapitadas dos homens negros da Paróquia Nossa Senhora do Rosário dos Pretos; as ações de vandalismo na estátua de Iemanjá, na Praia do Meio; os outdoors de uma das principais vias da cidade com total ausência de pessoas pretas e até episódios que aconteceram com ele próprio.
Confira entrevista na íntegra: