Espetáculo híbrido e internacional do grupo Clowns de Shakespeare questiona nomes de avenidas de Natal
Natal, RN 18 de abr 2024

Espetáculo híbrido e internacional do grupo Clowns de Shakespeare questiona nomes de avenidas de Natal

12 de dezembro de 2021
Espetáculo híbrido e internacional do grupo Clowns de Shakespeare questiona nomes de avenidas de Natal

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O que é preciso fazer para virar nome de rua? Por que as ruas sempre têm nomes de homens? Esses e outros questionamentos e sugestões estão em placas de sinalização colocadas pelo grupo Clowns de Shakespeare em vias públicas de grande circulação de pessoas em Natal. A intervenção foi notada por quem passava pela Praça Gentil Ferreira, do Alecrim, no último sábado (4), e pela avenida Nevaldo Rocha (antiga Bernardo Vieira), em Tirol, no domingo (5).

As ações correspondem aos dois primeiros atos do espetáculo híbrido “As teias abertas da América Latina”, feito em parceria com o grupo Teatro del Embuste (Bogotá/Colômbia), que concomitantemente ocupou a Carrera 7, no centro da capital colombiana. O projeto foi contemplado pelo Programa Iberescena de Artes Cênicas 2020/2021.

Em Natal, a obra segue em cartaz em dias e horários marcados. No próximo sábado (11), o ponto de encontro é a avenida Capitão Mor Gouveia, entre as ruas dos Potiguares e dos Caicós, às 16h.

Domingo (12), voltam ao cruzamento da Salgado Filho com a Nevaldo Rocha os performers Caju Dantas, Camilla Custódio, Camille Carvalho, Deborah Custódio, José de Medeiros, Paula Queiroz, Quemuel Costa e Diogo Spinelli, que é também diretor da obra junto com Fernando Yamamoto.

A interação com o público começa pela manhã, via WhatsApp, e continua no decorrer de todo o dia. Para participar da experiência completa é preciso pegar o ingresso gratuito no Sympla. Também é possível resgatar as apresentações, que têm produção de Rafael Telles e Renata Kaiser, pelas transmissões feitas no Youtube. Os espectadores podem optar por acompanhar todos os quatro atos presencialmente ou parte deles sem que haja prejuízo com relação ao todo.

Fruição

A ideia é reexaminar a história oficial contada principalmente por meio dos nomes das ruas. De acordo com Spinelli, apesar dessa base comum entre os dois atos, os experimentos tiveram características particulares. No Alecrim, também foi abordada a precarização do trabalho.

“Foi muito forte a experiência de apresentar no caos do Alecrim, levando uma intervenção urbana para aquele local que tem muita informação visual, e como conseguir chamar atenção no meio das pessoas, falando de uma questão que está ligada aos trabalhadores do lugar, um grupo que é majoritariamente formado por trabalhadores informais”, relatou o artista, ao lembrar que o espetáculo falou com as pessoas por meio de frases afixadas em postes, do tipo “Você acha que ganha o quanto merece?”, “Você tem direitos trabalhistas?”.

No segundo dia, a experiência incluiu caminhada dentro do shopping Midway Mall. Os atores caracterizados portando as placas que sugerem novas alcunhas às avenidas chegaram a ser abordados por seguranças, que costumam tentar coibir qualquer manifestação política no estabelecimento.

“No primeiro momento a gente enfrentou a questão do espaço institucional, que na verdade é, hoje em dia, uma das maiores praças de Natal. A cidade abandonou o seu espaço público e transformou um espaço privado em seu espaço público, digamos assim”, contou Diogo.

No principal palco da obra, o cruzamento das avenidas, quem passou reagiu tanto de forma positiva, com sinais de aprovação; como negativa, gritando Bolsonaro, em dois casos – o que fez Spinelli refletir sobre a leitura feita. “A intervenção tem um alto grau político, só que não estava falando necessariamente de uma politização nesse sentido. Mas era muito claro contra quem ela tava falando, já que duas pessoas sentiram a necessidade de apontar o nome do presidente Bolsonaro ao passar”, avaliou.

A cada ato conta também com a participação de um terceiro núcleo formado por artistas e pesquisadores de outros importantes coletivos latino-americanos: Ana Correa (do Grupo Cultural Yuyachkani, Lima/Peru), Gerson Guerra (do Grupo Malayerba, Quito/Equador), Alice Guimarães (do Teatro de los Andes, Yotala/Bolívia) e Ana Julia Marko (USP, São Paulo/Brasil).

A partir desse intercâmbio, o espetáculo busca esboçar um olhar contra-colonial para a história da América Latina. Isso explica o título da obra, que remonta ao livro de Eduardo Galeano “As veias da América Latina” (1977). A prosa já rebatia a vassalagem do continente, da chegada dos europeus às ditaduras militares. Os Clowns e o Embuste expõem que tal submissão está encravada ainda, até os dias atuais.

Serviço | As teias abertas da América Latina
Ato I: Escalvitud perpetua ou Os escravagistas do séc. XXI não operam mais em navios negreiros – dia 04/12
Ato II: Meus heróis morreram de overdose ou Los nuevos héroes – dia 05/12
Ato III: La Pachamama ou Esta terra tem dono – dia 11/12
Ato IV: Mátrias – dia 12/12
Ingressos gratuitos, retirados pelo site Sympla: https://linktr.ee/asteiasabertas

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