O coletivo feminista “Manas na Rua” tem promovido aos sábados, em Natal, cafés da manhã para a população em situação de rua. Além do combate à fome, a ação busca popularizar o veganismo e oferecer espaço de escuta principalmente para mulheres pobres. Os locais escolhidos são o baldo da Ribeira e o antigo prédio do INSS.
“Costumamos ir sempre aos mesmos pontos, por criar vínculos e conhecer a situação do pessoal que aparece em nossas ações. Semanalmente distribuímos um cardápio fixo com pães recheados, suco, 2 opções de frutas, cuscuz ou mugunzá, bolo de chocolate, café, suco e água”, explica a engenheira mecânica Marina Pinheiro, coordenadora financeira e jurídica do coletivo.
O grupo é diverso, tem organização horizontal e conta com a participação de 31 mulheres, que têm entre 15 e 56 anos de idade.
Em 2021, o projeto realizou 53 ações e distribuiu 706 kits de higiene individuais para 87 famílias. A equipe também distribuiu roupas, sandálias e ainda 120 lençóis e 120 toalhas de banho.
Ao menos 120 porções são distribuídas toda semana, contando com o apoio de estabelecimentos veganos parceiros, com o trabalho das voluntárias e com doações financeiras.
O coletivo recebe doações no Libre Café, Salivas, academias Lung Fu, Magical, Li Vegana, Cozinha Ecológica, Delectus e Gabi Cabelereira. Os projetos parceiros são Malala RN, Girlup Natal, MLB e Luas.
Formalizar o Coletivo, obtendo o CNPJ, está entre as metas. As meninas querem também conseguir mais recursos para realizar outros projetos de impacto social e ser autossustentável.
“Nunca foi só distribuir comida”
O coletivo Manas na Rua se formou durante a pandemia de covid-19, reunindo mulheres que já participavam de outras atividades sociais. A iniciativa surgiu com a percepção do aumento da insegurança alimentar e diante da necessidade de criar um ambiente seguro para mulheres atuarem no voluntariado.
“O crescente aumento do pessoal que vai às ações é inquestionável. Quando começamos, levávamos em média 50 pães. Aumentou principalmente em relação ao pessoal que possui moradia mas não consegue ter acesso a refeições dignas. A gente não realiza somente a distribuição de alimentos, a gente tenta auxiliá-los a buscar os CRAS [Centros de Referência de Assistência Social] para as entrevistas com a assistente social e se encaixar para receber os benefícios disponíveis”, conta Marina Pinheiro.
A engenheira, de 30 anos, diz que não gosta de romantizar o trabalho voluntário, porque é, de fato, um trabalho, e requer compromisso. “Não é fácil, não é simples, exige responsabilidade. Só que a recompensa vem quando você entende que pode se doar pra fazer o bem ao outro”, fala, lembrando que no Natal foram distribuídos cupcakes e as colegas ouviram coisas como “nunca vi isso de perto, pra mim era coisa que só tinha na TV”.
“Nunca foi só distribuir comida, a gente criou um ambiente de acolhimento muito forte no nosso coletivo, tanto entre as voluntárias como para o pessoal em situação de vulnerabilidade social. E essas pessoas serão vistas e acolhidas pelo nosso coletivo”.
Visibilidade é um ponto de grande atenção para as Manas: “Procuramos chamar as pessoas pelo nome, saber suas histórias. Também acompanhamos quem conseguiu se estabelecer nos aluguéis sociais. A situação é complexa e infelizmente é ignorada, principalmente para as mulheres. A gente observa que TODAS as mulheres que estão em situação de rua têm marcas de relacionamentos abusivos (vivem ou viveram). Acho que tirar essa pop que é ignorada e colocada na invisibilidade social é uma porta para mudanças ocorrem, por mais que seja a longo prazo”.
Serviço | Manas na Rua
Contribuições: atados.com.br/ong/manas-na-rua
Pix: [email protected]
No Instagram: @manasnarua