Léo Péricles: “tem um programa de esquerda que o povo quer”
Natal, RN 19 de abr 2024

Léo Péricles: “tem um programa de esquerda que o povo quer”

23 de janeiro de 2022
33min
Léo Péricles: “tem um programa de esquerda que o povo quer”

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O primeiro pré-candidato à Presidência da República pela Unidade Popular (UP), Leonardo Péricles, esteve em Natal na última sexta-feira, 21, para apresentar o programa que o partido caçula tem para o Brasil e conversou com a Agência Saiba Mais.

Fundada em junho de 2016, a UP é um partido socialista, que teve registro oficializado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2019, depois da militância conseguir coletar 1,2 milhão de assinaturas de eleitores para a criação da legenda.

O lançamento da pré-candidatura do morador de uma Ocupação Urbana aconteceu durante o 2º Congresso Nacional do partido, realizado em São Paulo, com delegados de 20 estados.

Natural de Belo Horizonte (MG), Léo Péricles cresceu na periferia de Contagem (MG). Começou a militância no movimento estudantil, em 2000. A partir de 2012, passou a atuar nos movimentos populares de periferia e ocupação urbana e é coordenador do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), além de presidente da UP.

Entre os principais eixos do programa da UP, estão: a reforma agrária, a reforma urbana, a punição dos torturadores desde a ditadura até os dias atuais, a retomada das estatais privatizadas, a auditoria da dívida pública, a promoção da educação antirracista e a revogação das reformas previdenciária e trabalhista.

Confira entrevista na íntegra.

  1. Léo, a agenda em Natal integra a primeira fase de uma caravana que a UP quer levar a todos os Estados da Federação. Explica para a gente a escolha pela região Nordeste para essa largada.

A gente iniciou uma caravana nesse ano de 2022 para apresentar nossa pré-candidatura para a população brasileira e começamos pelo Nordeste pela importância estratégica que o Nordeste tem para o Brasil e, em especial, para o nosso partido, a Unidade Popular.

Foi daqui do Nordeste os primeiros estados que nós conseguimos o número mínimo de assinaturas reconhecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral.

E foi aqui do Nordeste que nós tivemos mais certeza ainda, quando a gente estava no processo de coleta de assinaturas, que era palpável, real a legalização do partido. Então, iniciei a caravana por Pernambuco. Tivemos dois dias de agendas na capital e no interior, estive na região do Agreste também de Pernambuco, além da Zona da Mata ali da capital. E depois segui para Paraíba, onde tivemos uma extensa agenda em João Pessoa, inclusive uma plenária que contou com representação de todas as regiões do Estado da Paraíba, uma plenária bem representativa. E agora aqui, no Rio Grande do Norte, em Natal. Aqui é o terceiro estado que a gente está fazendo visitas.

E essa caravana pretende chegar a todos os Estados da Federação para que a gente possa apresentar, sobretudo, o nosso programa, que é um programa estrutural de transformações profundas do Brasil, de enfrentamento às classes dominantes, dos muito ricos. Não perdemos essa perspectiva que a gente vive num país extremamente dividido, em uma luta entre classes sociais, e essa está centralizada fundamentalmente em duas principais classes: a burguesia, os donos dos meios de produção, das terras, das fábricas, dos bancos, das usinas; e do outro lado a classe trabalhadora, a imensa classe trabalhadora, a imensa maioria da população. Nós nunca deixamos de considerar que esse enfrentamento é o fundamental que define toda a fisionomia da sociedade.

Fico muito feliz aqui de estar numa terra em que, por exemplo, o povo potiguar teve um papel determinante, central, um pouso, uma das primeiras imensas resistências aos invasores.

E esse é o outro motivo, também, de eu estar começando pelo Nordeste, para a gente se alimentar ainda mais dessa energia revolucionária histórica que esse povo carrega. Então quero dizer que é uma alegria muito grande estar na terra dos potiguares, estar na terra de Emmanuel Bezerra, inclusive que recebe o nome dessa ocupação que nós estamos, de estar na terra de Glênio Sá, para lembrar também desse grande revolucionário brasileiro, e de estar na terra de Nísia Floresta. Então nesses nomes aqui a gente reforça, também, o motivo da gente está aqui no Nordeste.

Esse é o último Estado que eu faço nessa primeira fase da caravana antes de voltar para Belo Horizonte. Sou de Belo Horizonte, Minas Gerais, e volto ainda mais energizado para dar continuidade à essa pré-candidatura nossa à presidência da República.

  1. O Partido mais novo do Brasil já lançou sua pré-candidatura à Presidência da República. O que a Unidade Popular tem a apresentar ao Brasil?

Primeiro eu fiz referência a um programa estrutural. Nós estamos num país muito rico. É muito importante afirmar isso. Não estamos falando de um país pobre, estamos falando de um país muito rico, com muitas riquezas naturais, com a capacidade, assim, econômica impressionante, mas que ao mesmo tempo nós temos cerca de metade da população do Brasil que vive em insegurança alimentar. Vinte milhões desses irmãos e irmãs não têm o que comer por mais de 24 horas. Milhões estão desempregados.

Qualquer candidatura séria, que se diga de esquerda, comprometida com os interesses dessa maioria precisa ir para cima disso. Então nós entendemos que a primeira questão fundamental é que, nesses últimos anos, a partir do golpe institucional que aconteceu em 2016, que retirou a ex-presidente Dilma, que nós tínhamos muitas diferenças, muitas críticas, mas que foi um golpe, articulado para tirar e quem entrasse promover um processo de retirada de direito muito mais brutal, foram implementadas várias medidas que contrariam os interesses da maioria da população brasileira.

Então nós defendemos já de imediato que nos primeiros 100 dias de governo a gente possa revogar as contrarreformas Trabalhista e da Previdência.

Nós estamos falando aqui de um engodo, de uma das maiores enganações da história recente do Brasil que foi o discurso do golpista Michel Temer de que geraria empregos fazer a reforma trabalhista. Não contentes, depois com Bolsonaro, eles disseram olha não gerou ainda, mas vamos fazer a Reforma da Previdência que agora vai. E geraram os maiores índices de desemprego da nossa história.

Somada a isso, a Emenda Constitucional 95, que congelou o investimento em saúde e educação por 20 anos. É inconcebível um governo, volto a dizer comprometido com a classe trabalhadora e com o nosso povo, entrar e não ir para cima disso, porque ela congela investimento em áreas fundamentais.

Nós estamos falando do SUS, que entre 2018 e 2020, segundo o Conselho Nacional de saúde, não é a Unidade Popular quem diz isso, perdeu R$ 22,5 bilhões.

A educação, segundo a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, só em 2019 perdeu R$ 32 bilhões. Os órgãos de imprensa divulgaram amplamente que o orçamento previsto para esse ano foi o menor em 10 anos para o SUS.

E nós estamos falando um período que já era um crime essa Emenda Constitucional antes da pandemia, agora nós passamos pela pior crise sanitária da nossa história. Mais de 600 mil mortes, e o SUS está perdendo dinheiro. Ele está perdendo investimento. Desses previstos R$ 147 bilhões para esse ano no orçamento da saúde, R$ 140 bilhões são diretamente para o trabalho do SUS e sete para o enfrentamento da pandemia. Então vejamos, era para ter, no mínimo, mais R$ 22,5 bilhões.

Então o governo, acima dos R$ 22,5 bilhões, deveria estar reforçando o investimento. Trata-se de pegar as perdas desse último período, é isso que está em curso.

Não tem condição, é insustentável manter uma Emenda Constitucional que é um teto de gasto para os pobres.

A gastança para os ricos nunca deixou de acontecer. Aí eu quero entrar num outro ponto que é fundamental para nós, que há uma das maiores chagas econômicas que nós temos na história do Brasil que é a dívida pública. Não é possível, não é sustentável, um governo que não ataque essa questão.

Nós entendemos que a suspensão do pagamento da dívida pública deve ser uma das primeiras medidas que nós temos que tomar.

E aí, quem eventualmente vai ver essa entrevista nossa pode considerar, ‘mas esse rapaz é muito radical, por que suspender o pagamento? Que absurdo! Se deve tem que pagar, não é isso?’ Inclusive um ex-presidente disse um negócio desse, uma bobagem.

E eu quero dizer, primeiro, que eu não sou contra qualquer dívida. Se ela tivesse sido contraída para construir hospital, moradia popular, escola, universidade, está mais do que certo. Se aquele país não tiver recursos para isso, tem que buscar e resolver os problemas do seu povo. Mas essa dívida não foi contraída para isso. Ela nunca construiu, nunca bateu um prego na parede essa dívida pública. Ela foi contraída para atender os interesses dos bancos, dos banqueiros, dos donos dos bancos, para eles ficarem inclusive mais ricos, com o sistema que eles chamam de sistema da dívida. O fabuloso, muito bem pensado, sistema de transferência do imposto dos pobres, da arrecadação do estado para os muito ricos. Atende os banqueiros, atende o capital especulativo nacional e internacional, atende agiotagem, é isso que é a dívida pública no Brasil. É um escândalo.

A dívida pública é o sistema institucionalizado de corrupção pior da nossa história.

E consome, drena, praticamente, metade do orçamento do Brasil. São estudos do grupo mais sério que debate essa questão, que é a Auditoria Cidadã da Dívida. É algo, inclusive, que vem sendo subestimado por setores de esquerda. Falar desse negócio da dívida pública não é tão importante. Aí eu entro com a segunda questão da dívida pública, que é auditoria da dívida. Porque se tem dúvida se deve, então audita, está prevista na Constituição.

A Auditoria da dívida está prevista na Constituição Federal.

A Carta Magna do Brasil prevê a possibilidade de realizar, até porque se você deve ou não, é preciso saber que papéis são esses, como foi contraída essas dívidas. E esses dados que eu estou colocando aqui são da CPI da dívida pública de 2011, que já mostraram que tinha contradição, tinha problema.

Então, são duas questões centrais: revoga o que foi contraído contra os interesses dos trabalhadores e cria as condições de ter dinheiro, de ter recursos para investir.

E para que nós queremos metade do orçamento do Brasil? Para investir justamente na saúde, na educação, na cultura, na moradia. Em termos gerais, essas são as primeiras medidas que nós entendemos que precisam que ser realizadas.

Agora, para isso e para todo o resto que ainda vamos tratar aqui, não se trata de ter um Salvador da Pátria. A Unidade Popular não me apresenta como pré-candidato à presidência da República para substituir esses que tentaram, para ser aquele que vai entrar e vai resolver: ‘o Léo é o cara que vai resolver’.

Nós consideramos que a nossa pré-candidatura, e caso eleita, ela é uma parte do agente da transformação, o central é o povo.

As grandes transformações no Brasil só podem ser realizadas com o povo participando ativamente do processo, essa é a questão fundamental. O povo tem que ser chamado a participar dessas grandes transformações. Inclusive para fazer a Constituição valer.

Na democracia, que sabemos que é burguesa, limitada, amputada, mas prevê, está previsto no seu ordenamento jurídico, que a maioria quem precisa decidir, a vontade da maioria precisa valer no Brasil.

  1. Como foi o processo de formação do Partido, qual a principal base da UP?

Nós montamos um partido, a Unidade Popular, e eu não acho que foi uma realização qualquer. O próprio Presidente da República tendo apoio de grandes empresários, de muitos parlamentares, até de dono de cartório, de pastor de grande Igreja, não conseguiu a construção de um partido de fascistas que eles queriam.

Nós somos o único partido que conseguiu vencer a nova legislação de 2015, que é restritiva, ela piorou que era já era difícil. Ela contraria a Constituição. A Constituição fala de liberdade ampla de organização partidária. Na prática ficou muito difícil, porque você tem dois anos para coletar as assinaturas.

Nós coletamos um milhão e 200 mil assinaturas para 492 mil assinaturas serem reconhecidas, é um negócio absurdo.

Então é um negócio muito complexo, mas nós fizemos e fizemos sem nenhum figurão. Inclusive para provar que isso é possível, isso é necessário. Foi feito sem nenhum vereador, nenhum deputado, nenhum Senador. As pessoas nos perguntavam: mas quem é o cabeça disso aí? E nós falávamos: nós mesmo.

Interessa à classe dominante ficar só no Salvador, porque aí o povo não percebe a força que ele tem. Experiências na história do Brasil, nós temos muitas, da força do povo. A própria Constituição, o final da ditadura militar, como é que foi? Foi o povo na rua que acabou com a ditadura, o povo na rua impôs a Constituição de 1988, que é exemplo para o mundo inteiro.

As conquistas democráticas realizadas nesse processo foram com mobilização popular. Essa é a questão. Uma estrutura secular como a do Brasil, de dominação, de submissão, o domínio de uma minoria foi uma imposição, inclusive com muita violência.

Nós estamos num momento, e a UP é um dos poucos partidos que vem alertando sobre isso, que tem um risco de fascistização muito grande no Brasil.

A possibilidade de um golpe militar está dada aí pelo governo, pelo Presidente da República, que não é só discurso. Se a pessoa ainda tem dúvidas, o cara tentou duas vezes. Em agosto de 2020, a revista Piauí soltou uma matéria que detalha que nos meses de abril e maio de 2020, o governo articulou para dar um golpe. E agora, em 2021, em 7 de setembro, mais precisamente, ele não só articulou, mas houve uma tentativa. Só não fizeram porque não tiveram apoio popular suficiente e, ao mesmo tempo, por mais limitações que houve nessa resistência, houve resistências. Os maiores gritos dos excluídos da nossa história aconteceram, o povo foi para rua, os movimentos populares foram para as ruas, convocaram os setores do povo e resistiram.

Isso foi fundamental para que eles vissem que se dessem um golpe não ia ser um passeio. E, claro, sem apoio internacional também, o Bolsonaro bastante isolado, não tem os Estados Unidos, que tá perdendo no Afeganistão, estão sem condições, numa crise econômica grande, tendo que voltar para a sua contradição interna. Estão sem moral para poder ficar apoiando o golpe por aí no mundo e teve um setor democrático que resistiu em vários aspectos na sociedade, na imprensa, no judiciário. Houve também essa ação. Mas o fundamental foi a mobilização.

Desde 29 de maio do ano passado, se reiniciou as manifestações. Inclusive a Unidade Popular teve um papel muito importante em pressionar para que isso acontecesse. E isso foi, na nossa avaliação, o fiel da balança fundamental para que a gente não tivesse tido um retrocesso nessa já frágil democracia maior.

Então, o fator central é o povo e a nível internacional também nós estamos vendo aqui o Chile, um país da América Latina. Então não dá para falar que a realidade é muito diferente. É muito mais próximo de nós do que diferente. Nós somos latino-americanos, tem que ficar lembrando o tempo todo. Nós somos muitos povos que têm características muito parecidas.

E no Chile, não se buscou, para realizar as transformações necessárias, se aliar com centrão, fazer aliança com a direita. Porque lá tem uma direita conservadora, fisiológica, como qualquer país capitalista no mundo. Uma direita que inclusive dirigiu o país. Eles não foram se aliar com esses setores, o povo foi para a rua. Tiveram manifestações imensas em 2019 e 2020. Que fator teve, que ligação tem com isso que eu estou falando? Essas manifestações deram condição de uma nova institucionalidade em curso permitir a convocação de uma assembleia nacional constituinte, com critérios populares para eleger os deputados.

Ou seja, o povão de lá, a população indígena, que nunca tinha espaço, as torcidas, que lá tem um papel muito importante a torcida organizada, os trabalhadores e trabalhadoras, as mulheres, a população LGBT, foram esses setores que tiveram maioria na assembleia nacional constituinte. Como? Com a luta.

Se impuseram. A direita não conseguiu nem um terço das cadeiras e agora vai ter a constituinte para enterrar a Constituição, que a deles lá é da época da ditadura do Pinochet. E elegendo depois o Presidente da República, que é um cara que era Deputado, mas não era tão conhecido no Chile, e que passou a ter um papel fundamental, porque era expressão das manifestações, e ligou a campanha às manifestações.

Então estou querendo mostrar que existe um outro caminho de governabilidade externa. É necessário ter governabilidade? Com quem que nós vamos fazer? Vamos escolher. Nós vamos fazer com o povo. É mais difícil? É, claro. Não vai ser muito fácil, mas trata de impor uma nova constitucionalidade, porque essa não nos representa. Por que que a maioria dos parlamentares não é negra no Brasil, se representa 51% da população? Por que a maioria não é de mulheres? Porque é um negócio montado para os muito ricos ter a sua representação.

Tem um setor da esquerda que fica de cabeça baixa, só ver a institucionalidade. Mas é pouco provável que, no Parlamento principalmente, no Congresso Nacional, nós vamos ser maioria nesse próximo período. Então se a gente não mirar em outras possibilidades, para inclusive aí a gente ter condição de ser maioria, não é possível.

  1. Além da pré-candidatura, a UP aponta também ações e tarefas que considera fundamentais contra o fascismo e pelo socialismo...

Em 2022 nós temos duas grandes tarefas: uma é essa do processo eleitoral, que nós estamos conversando aqui, e a outra é dar continuidade à luta pela derrubada do governo Bolsonaro, não esperar as eleições.

Esperar as eleições é, no mínimo, esperar até primeiro de janeiro de 2023. Daqui a um ano praticamente o presidente que entrar, dependendo de quem entrar, é que poderá começar a pensar fazer alguma coisa. E as pessoas que estão passando fome hoje? Então, a tarefa é urgente. Até porque esse risco de golpe ele continua. Dependendo do resultado do processo eleitoral, a gente sabe como é que as classes dominantes agem na história do Brasil. Nós não descartamos essa possibilidade e isso é mais um fator que exige que a gente tenha o povo na rua.

Na nossa história têm os exemplos dos golpes, das traições, mas também têm os exemplos das mobilizações, das lutas, do êxito da luta popular. Então a gente se inspira nesses processos. Aprender com os erros é fundamental e se inspirar nesse processo ajuda a pensar ações, mobilizações e como a gente atualiza esse processo hoje no Brasil.

E a UP é uma expressão, é um partido que vem para resgatar princípios da esquerda importantes, um programa de esquerda importante.

  1. Há espaço para uma proposta mais radical na esquerda?

Primeiro que ser radical é buscar pela raiz, bebendo na fonte lá do nosso grande Karl Marx. A gente quer buscar pela raiz a solução dos problemas. Há espaço para essas posições? Na nossa opinião, sim.

A Unidade Popular nasceu também muito preocupada em como expressar essas opiniões. Não basta expressar pela nossa vontade apenas. Nós temos que expressá-las conectando com as necessidades do nosso povo. O povo precisa entender o que a gente está falando.

Primeiro eu vou pegar pesquisas que as próprias classes dominantes fazem há muitos anos. Porque tem uma tese aí de que as ideias de esquerda não têm peso no meio do povo. Isso é um absurdo. Quem fala isso não tá percebendo o que está acontecendo.

Desde a década de 90, o Instituto Folha, que faz as pesquisas da Folha de São Paulo, faz algumas pesquisas de opinião e uma delas é sobre as privatizações no Brasil.

Desde o auge das privatizações, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, a maioria do povo brasileiro é contra a privatização.

A gente fala disso? E é uma pesquisa de um instituto suspeito. A maioria é contra nas pesquisas que eles fazem, eles sabem disso, mas você vê como é antidemocrático o sistema eleitoral que está colocado. Porque o povo vota, ele é contra privatizar, e os caras entram e privatizam.

Inclusive esse último período, esses últimos 15 anos, eles mudaram de nome, falam de concessão. Mudaram, pararam de falar privatização.

Outra pesquisa recente, da XP Investimentos, que é um conglomerado, inclusive desse que ganha com o sistema econômico do jeito que está, com a política econômica como está montada no Brasil, com a própria dívida pública, e ele fez uma pesquisa que diz que a maioria do povo brasileiro é a favor da intervenção do Estado na economia.

A pergunta era assim: você é contra ou é a favor? A resposta foi: sou a favor, tem que ter maior intervenção do Estado na economia. Essas ideias são de quem? Da direita?

Tem um programa de esquerda que o povo quer.

Nós precisamos ter habilidade, claro. Mas não é só um problema de habilidade, nós precisamos ter tamanho e ter força, para a gente expressar esses problemas. E aquilo que não tem no nosso programa, a gente ter humildade de dialogar. É isso que eu estou vindo fazer nos Estados. Buscar falar só não, é buscar aprimorar, fortalecer um programa realmente que enfrente essa profunda crise econômica que a gente passa.

Léo Péricles concede entrevista ao Saiba Mais em creche que funciona na Ocupação Emmanuel Bezerra | Foto: João Minervino
  1. Quais os principais eixos desse programa ainda em construção?

Eu já expressei para vocês dois que são imediatos: as revogações e a dívida pública. Aí nós vamos para um terceiro ponto importante desse pré-programa em construção, mas já é baseado no programa da Unidade Popular, nas resoluções política do Primeiro Congresso. E o Segundo Congresso reafirmou a base do que está na resolução do Primeiro.

A necessidade das reformas estruturais, as chamadas históricas reformas de base no Brasil.

Elas são centrais para haver mudança da estrutura como está montado o Brasil. É uma estrutura montada para quem é muito rico continuar muito rico. E fica rico mantendo a estrutura do Brasil assim desigual, atrasada, sem oferecer condição para que a maioria possa, inclusive, se expressar. Então o que que a gente entende dessas reformas estruturais? Em especial a reforma agrária, ela nunca foi tão atual. Nunca foi feita no Brasil e é importante ressaltar uma coisa, porque vão falar, 'isso só pode ser coisa de comunista', é também. Mas a reforma agrária está prevista na Constituição e nenhum projeto de país no planeta Terra se desenvolveu sem fazer reforma agrária.

Me apresente qualquer país que passou a ter papel protagonista no mundo que não fez. A Europa fez reforma agrária, do jeito deles, mas fez. Os Estados Unidos fizeram. Inclusive foi central para combater os escravistas. Na luta central entre o Sul e o Norte, o Norte vence e impõe uma reforma agrária. Sem isso eles não tinham virado a potência que viraram.

Uma reforma agrária fundamentalmente ela vai voltar para dentro do país e para você desenvolver o seu mercado interno, dar condição do país se desenvolver, a favor, inclusive, da maioria do seu povo.

E nós estamos falando de uma reforma agrária aqui no Brasil que tenha a prioridade de transformar a agricultura, para ela ter como finalidade central alimentar o nosso próprio povo.

Será que isso é um absurdo? A gente acha que a agricultura tem como principal objetivo num país como o Brasil alimentar seu próprio povo. Isso é possível. Nós estamos falando de acabar com a fome. Somos o maior produtor de grão do Planeta Terra.

Nós somos um dos maiores produtores de carne do mundo, nós somos um dos maiores produtores de frutas, o Nordeste então. Mas você sabe quem tá comendo essas frutas aqui do Nordeste? Essas frutas de primeiro mundo estão agora lá em Paris, na Europa inteira, em Pequim, Nova York. Nosso povo tem acesso a comer essas uvas maravilhosas produzidas aqui? Esses morangos? Eu moro no Estado de Minas Gerais, que produz um dos melhores cafés do Planeta Terra. Está no sul de Minas. Está lá, mas nós não tomamos esse café, a maioria dos brasileiros não toma esse café, mas é isso está sendo tomada em Paris agora.

Precisamos de um projeto para fortalecer a Agricultura Familiar, a produção agroecológica, que não envenena a gente, de priorizar os investimentos dos estados. Hoje a maioria que recebe esse investimento é o agronegócio, que exporta e mantem essa estrutura secular no campo.

O agronegócio modernizou o latifúndio. Ele não modificou essa estrutura. O trabalho escravo, a submissão, os coronéis continuam modernizados na figura desse agronegócio que não tem nada de pop. Isso é um atraso para o Brasil. Então tem que ter enfrentamento com esses setores.

Não tem condição do Brasil mudar sem fazer reforma agrária. É a atualidade, é uma irmã da Reforma Urbana.

Porque permite desafogar as grandes cidades. É preciso convocar as pessoas que quiserem voltar para o campo voltar, mas não é para passar fome, é para ter condição de produzir. É de uma atualidade, de uma importância a reforma agrária popular no Brasil, impressionante.

A Reforma Urbana que eu estou fazendo referência. Eu entro aqui em Natal, já comecei a ver prédios. Aí eu notei que vários estão parados lá, aparentemente está tudo vazio.

Nós temos no ordenamento jurídico do Brasil, nós temos uma legislação muito boa em alguns sentidos e tem uma lei federal chamada Estatuto das Cidades, ela é de 2001, ela precisa ser implementada.

Concretamente ela diz que todos os municípios têm que ter plano diretor, e esses planos diretores, dentre outras coisas, têm que definir muito bem as áreas da cidade que vão ser destinada para moradia popular.

Eu estou falando aqui de desapropriação a partir do governo federal, de colocar para fazer valer o Estatuto das Cidades. Precisa desapropriar grandes prédios. Porque política habitacional não é só construir moradias, é um erro ficar só construindo moradia.

Uma das críticas que nós temos é essa. Acaba favorecendo mais a indústria da construção e não enfrenta a especulação Imobiliária. Você tem que aproveitar o que está pronto.

Na Europa começaram a fazer projetos para os pobres morarem no centro da cidade, porque perceberam que é mais barato. Porque você está lá na periferia você tem que construir a casa, a escola, o posto de saúde. Mas se for morar no centro, tem muita estrutura já. Então tem que pegar o que está pronto e colocar, praticamente se resolve o problema do déficit habitacional. O restante, aí sim desapropria os grandes terrenos, que estão vazios

E antes que alguém fale: 'coitados dos donos'. Primeiro, que várias dessas terras foram griladas para poder ter esses donos privados, e, segundo, que a maioria deles deve mais de IPTU do que o valor do terreno.

Outra questão, é a taxação das grandes fortunas.

Nós temos menos de 1% da população que sim, tem que ser taxado, em especial os 315 bilionários que nós temos no Brasil, que o patrimônio é de R$ 1,9 trilhão. Isso aí é equivalente a quase metade do orçamento do Brasil. Então você os taxa em 20%, 30%, até mais, boa parte deles vai continuar bilionário, mas não vão adquirir um montão de recursos que deveria se investir em área social.

Eu estou mostrando aqui que tem de onde tirar. Tem de onde tirar para resolver os problemas graves que vivem nosso povo.

A nacionalização das nossas riquezas e a reestatização de empresas que foram privatizadas são também medidas fundamentais, estruturais no Brasil.

Veja, a Vale pública não fez o que fez em Brumadinho e Mariana, não tem notícia da Vale pública fazer crimes como aqueles que fizeram. Os crimes ambientais, das chuvas agora. Vocês viram o que está acontecendo agora no Estado de Minas Gerais? Está entregue para as mineradoras, assim como está acontecendo no Pará, inclusive em regiões do Nordeste que não tinham tradição de mineração estão começando a ter, porque as técnicas da mineração estão se aprofundando para conseguir extrair minérios valiosos.

Então veja que situação. A atualidade que tem a energia elétrica no Brasil. Ela é gerada de forma barata e gerada nos rios do Brasil, não nos rios da Europa. Então não tem sentido está na mão de capital estrangeiro, não tem sentido o preço que estamos pagando.

A Petrobras, não faz sentido a gasolina a 7 reais, o gás de cozinha mais de 100 reais, num país que é alto suficiente na produção de petróleo, que deveria investir mais em fazer o refino do petróleo para produzir mais gasolina, desvincular do preço do dólar, e nacionalizar. Porque eles falam muito em corrupção na Petrobras, mas como que ampliou a corrupção na Petrobras? Quanto mais ela foi tendo gestão privada, quanto mais foi para o caminho do capital privado. À medida que se coloque ela nas mãos do Estado, menos isso vai acontecer. Com o controle maior da população, que isso é possível, não falam isso, mas é possível o controle social sobre essas grandes empresas e nós defendemos isso.

E para terminar isso, uma pauta primeiro do ponto de vista trabalhista. A gente falou em revogar as reformas trabalhista e da Previdência. O que é uma proposta contrária?

Redução da jornada de trabalho sem redução de salário.

Isso gera empregos. Exemplos no mundo têm muitos que mostram isso.

Por fim, a punição aos torturadores de 64 aos dias atuais.

Diante dos vários crimes contra os direitos humanos que foram cometidos no Brasil: tortura de milhões de pessoas, ocultação de cadáveres, milhares de assassinatos, enfim, todo um processo que aconteceu aqui no Brasil e você tem um Presidente da República que faz elogios a esse período, aos torturadores. Isso tem que se abolir no Brasil.

Num país sério, que prioriza os Direitos Humanos, ele não era nem para ser candidato, isso é um absurdo. E o Brasil é o único país da América do Sul que não puniu os seus torturadores. Justiça de transição é um negócio muito aplicado no mundo depois de um período de guerra, como foi a ditadura, uma guerra contra o nosso povo. A ditadura foi um desastre econômico, político, social. Um atraso para o Brasil. Depois de um período desse instala-se uma comissão, uma Justiça de Transição.

Alguém ia achar que era normal na Alemanha, pós segunda guerra, depois que os nazistas são derrotados, deixar eles tranquilos? Punir para quê? Isso é revanchismo, vamos fazer nada, deixa isso. Foi assim que a humanidade fez? Pelo contrário, botou os generais no banco, e se Hitler não tivesse se suicidado também iria. E ele sabia disso. Teve toda uma política organizada a nível internacional. Fazer Museu, Memorial, para mostrar para as gerações futuras: isso aqui não deve ser feito, isso aqui são uma das piores coisas, que não podia acontecer e que jamais aconteça novamente. Qual é a realidade hoje no Brasil?

Essa impunidade do passado leva a impunidade do presente.

Eu sou negro, morador de periferia. Eu vivi minha vida toda, não só eu, tomando tapa na cabeça da polícia, tomando bascolejo. A geração do meu irmão, principalmente, que é um pouquinho mais novo que eu. A quantidade de meninos da nossa geração que morreu. Ou pela ação, pelas mãos do Estado, pela polícia civil militar, ou pela ausência provocada, porque quando o Estado não está, ele deixa espaço para violência, para outras coisas assumirem no lugar.

Então essa imunidade leva que a juventude pobre, em especial negra, desse Brasil, seja massacrada.

A chacina não é só no Jacarezinho, no Rio. Todas as favelas no Brasil têm um massacre, tem chacina, tem assassinatos. A violência é muito grande sobre o nosso povo. O encarceramento em massa está em curso, acontecendo. Medidas que são tomadas pela justiça, pelos Ministérios Públicos, pelas delegacias, a forma como tratam, a tortura, que é institucionalizada hoje nos presídios do Brasil, isso é tudo conectado com essa pauta, com a ausência de completa discussão sobre isso.

E lembrando que a ditadura ela também se alimenta de um processo histórico, porque nunca houve revisão das práticas dos exércitos brasileiros contra o nosso povo negro. Submeter a Marinha de Guerra do Brasil, mesmo depois de ser abolido o tráfico de escravos no Brasil, a participar ativamente do processo. As polícias militares foram montadas para ajudar acabar com os quilombos, principalmente os quilombos urbanos que tinha muita força no Brasil. Nunca houve revisão da ação desses setores da chamada Segurança Pública, por isso que eles são tão violentos contra o nosso povo.

É fundamental uma concepção de Segurança Pública que o povo participe.

Está previsto da Constituição, também, que o povo faz parte do processo de segurança pública. As pessoas precisam ser chamadas a participar da segurança pública no Brasil.

Nós entendemos que as reformas são bases de apoio fundamental para que um partido popular, para um projeto popular no Brasil possa avançar no sentido da superação do sistema capitalista. Ou seja, para fortalecer um projeto socialista para o Brasil.

Não existe um projeto efetivamente de esquerda que não aponte para a superação do capitalismo.

São reformas estruturais importantes que garantem condição da gente apontar para outro sistema, isso aí nós não perdemos. Sabemos que num processo eleitoral a gente não vai ter a realização do socialismo, mas nós sabemos que o processo eleitoral nos permite fazer ampla propaganda dos projetos centrais que nos permite dar condição de enfraquecer o capitalismo. E, portanto, se a gente enfraquece o capitalismo fortalecemos um outro projeto de mundo, chamado socialismo.

  1. Como enxerga a esquerda brasileira atual e o qual o papel do PT nesse campo?

Olha, lembrar que nós temos dois grandes inimigos agora na situação atual do Brasil. Um é o fascismo.

A gente não está em um governo que impôs uma ditadura aberta, como nós tivemos de 64 a 85, tanto que a gente está aqui conversando, nós estamos com a nossa pré-candidatura, temos um partido registrado. Enfim, mas existe um risco, temos um protofascista como presidente da república que trabalha permanentemente para implementar uma ditadura no Brasil, junto com alto comando das Forças Armadas, com setores da grande burguesia brasileira. Então existe esse risco, isso é real é concreto, tá aí.

Agora nós temos um outro inimigo, que age conjuntamente, que o neoliberalismo.

O embate é em duas frentes. O fascismo no Brasil é neoliberal. Nós entendemos o fascismo como uma ditadura terrorista do grande capital. Essa é a nossa definição de fascismo. E ela, aqui no Brasil, que tem uma economia dependente do capital internacional, dos países mais ricos, ele é liberal, extremamente neoliberal. Não tem nada de patriotismo. Tanto que o cara entrega tudo, está entregando os patrimônios e deixa a nossa economia de jeito que está submissa aos Estados Unidos.

Do ponto de vista econômico, a política aplicada pelo Bolsonaro tem muita concordância com os outros que são de direita. O Moro não tem muita diferença com a política econômica do Bolsonaro. Outros candidatos que estão se apresentando do campo da direita, também têm muito acordo. Essa grande imprensa no Brasil não tem nenhuma crítica à dívida pública, a como está sendo conduzida a política econômica no Brasil. Então é importante lembrar isso. então embate.

Se a gente não perceber isso, não teremos essas mudanças estruturais que estão sendo colocadas. A gente pode conseguir umas migalhas para o povo.

Nossa diferença com o Partido dos Trabalhadores. Nós temos foco central, que é a luta contra o fascismo, inclusive, nesse aspecto, é importante ressaltar que o PT no governo não trabalhou para dar um golpe militar no Brasil, para exaltar a tortura, para fechar o STF, o Congresso Nacional, como Bolsonaro. Isso aí é coisa do Bolsonaro, dos fascistas que exaltam o período da ditadura. O PT não fez isso no governo, inclusive garantiu aumento real do salário-mínimo. Se preocupou em expandir o Universidade no Brasil.

Nossa diferença com eles é principalmente do ponto de vista econômico.

Aí eu ressaltei aqui a questão da dívida pública. Eles são a favor de continuar pagando a dívida pública, praticaram isso, inclusive em superávit primário, que é reservar recurso que você tira do orçamento especificamente todos os meses para garantir o pagamento do juro e amortização da dívida. Acho isso um erro grave.

E essa ideia de aliar com a direita, com setores da direita.

Alckmin não traz nada de fundamental, de importante para que avance esse projeto de libertação do nosso povo.

Pelo contrário, foi um governador que enquanto estava à frente do governo, combateu tenazmente os movimentos populares, fez um dos despejos mais violentos da história do Brasil, que foi do Pinheirinho.

Ele à frente do governo aumentou enormemente o assassinato de negros e negras nas periferias, o encarceramento faz parte do processo do governo dele em São Paulo. E é um cara da Opus Dei, que é uma organização extremamente conservadora e reacionária dentro da igreja católica.

Enfim, é um dos corresponsáveis pela situação que a gente está, de chegar o Bolsonaro no governo, porque em termos gerais eles esteve diretamente ou calado dentro desse processo todo de golpe institucional, de violências que foram praticadas contra nosso povo. Ele não tem nada de aliado, não vai contribuir. Ele vai ser um representante ali para garantir que essa ideia do golpe institucional ela continue.

Mas estamos aqui principalmente para falar das nossas ideias, do nosso programa. Só a existência da nossa candidatura já mostra que nós temos uma crítica grande ao que foi praticado por alguns setores.

Mas nem por isso nos impede de praticar unidades nas ações concretas da luta popular.

Fala-se de unidade da esquerda, correto. E a unidade principal que deve ser expressa é nas ruas. Não é no processo eleitoral fundamentalmente. É nas ruas. Essa é a principal. E nessa a gente trabalha para ter todas as organizações de esquerda. Inclusive, várias se negaram a ir para as ruas neste último período para derrubar.

Porque começamos um movimento que milhões participaram. E o a gente precisava fazer? Radicalizar, fazer mais, trazer mais gente para a rua, para derrubar efetivamente o Bolsonaro.

Para impor ao Congresso Nacional a abertura do processo de impeachment. É isso que devia ter sido feito. E muitos setores acabaram boicotando, literalmente, esperando, na ilusão só do processo eleitoral de 2022, que a gente considera um erro.

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